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Uso de celular é a infração mais cometida na GV e ultrapassa 30 mil multas, aponta diretor do Detran

Romeu Scheibe Neto

Foto: Divulgação

Os acidentes e mortes no trânsito foram e continuam sendo motivo de preocupação para os capixabas. De acordo com o diretor geral do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran-ES), Romeu Scheibe Neto, 90% deles poderiam ser evitados, pois a principal causa são decisões erradas. Ele apontou que das mais de 500 mil multas registradas pelo Detran na Grande Vitória, cerca de 33 mil são por uso de celular ao volante. Além disso, nas estradas do Estado, das quase 850 mil multas, mais de 245 mil são por excesso de velocidade. 

As multas fazem parte das punições para o que é proibido, mas em algumas situações a punição não é só financeira. O diretor ressaltou que uma decisão errada, não só do condutor, mas também de pedestres e de outras pessoas envolvidas no trânsito, pode afetar completamente a vida de uma pessoa. “Vítimas podem ficar aleijadas e por conta disso param de trabalhar e uma família pode perder um ente querido. As perdas são grandes e dolorosas”, destacou. 

Por conta de altos índices de acidentes no trânsito, em 2010 a Assembleia-Geral das Nações Unidas editou uma resolução definindo o período de 2011 a 2020 como a “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”. O documento foi elaborado com base em um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que contabilizou, em 2009, cerca de 1,3 milhão de mortes por acidente de trânsito em 178 países. Aproximadamente 50 milhões de pessoas sobreviveram com sequelas.

Após essas constatações, teve início o movimento “Maio Amarelo”. Segundo o movimento, o Brasil aparece em quinto lugar entre os países recordistas em mortes no trânsito, precedido por Índia, China, EUA e Rússia, e seguido por Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito. Juntas, essas dez nações são responsáveis por 62% das mortes por acidente no trânsito.

No Espírito Santo, quem está à frente do “Maio Amarelo” é o Detran. O diretor explicou que o intuito da OMS é que 50% dos acidentes sejam diminuídos. Para que se chegue a esse número, várias ações têm sido feitas durante o todo o mês de maio. Confira o cronograma completo com todas as ações!

Sobre campanha realizada no Estado, Romeu Scheibe Neto conversou com o Folha Vitória e esclareceu tudo que é feito. Acompanhe:

Folha Vitória – Sabemos que o foco da campanha é a conscientização. Quais serão as frentes principais de ação realizadas esse mês?
Romeu Scheibe Neto – Os estudos da OMS definiram seis pilares para que todos os países trabalhem para chegarem a meta de redução de acidentes. São eles: o controle de velocidade, mistura de álcool e direção, uso do cinto de segurança, uso do capacete para motociclistas, uso da cadeirinha para as crianças e o uso de celular ao volante. É com base neles que trabalhamos. Aqui no Estado, no ano passado, lançamos também o movimento “Rua Coletiva”. Entendemos que as ações de conscientização não podem ser só em maio. Temos que fazer algo para todos os meses. Temos uma uma extensa programação em conjunto com o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, ação dos municípios com as guardas, e outras. 

FV – Qual o grande diferencial dessa campanha em relação a outras?
RS – Esse ano preparamos uma campanha focada no tema  “Minha escolha faz a diferença”. A campanha é focada no exemplo que as pessoas têm dado, na construção das suas referências. Ela coloca que o bom exemplo é uma escolha de cada um. Isso porque 90% dos acidente poderiam ser evitados, pois a principal causa são decisões erradas do ator no carro, que pode ser o motorista, o pedestre. O movimento “Rua Coletiva” também trata isso, que devemos entender os limites para ter um cenário melhor para circular nas ruas.

FV – Sobre as ações, como elas são definidas? São locais estratégicos?
RS – A gente sempre parte do pressuposto que as multas de trânsito são um referencial de pesquisa. Tentamos entender o comportamento do motorista. Na Grande Vitória temos dados interessantes. Grande parte das multas são pelo uso do celular. É uma das principais ocorrências. Do total de 500 mil multas, 35 mil são pelo uso do aparelho. Depois temos o avanço sinal vermelho, que é uma das mais recorrentes. A partir desse diagnóstico estabelecemos o mote das campanhas. Quando ampliamos em todo o Estado, isso muda um pouco. O excesso de velocidade é uma das ocorrências mais frequentes, chegando a 250 mil multas. São tendências que já haviam sido estabelecidas, e percebemos que há uma coerência do estado mundial com o local. A partir desse cenário a equipe discute como abordar esses temas com crianças e adultos. Vamos adaptando com ao público e focado nos seis pilares. 

FV – No ano passado, mais de mil pessoas receberam os panfletos educativos da campanha, 2 mil carros foram abordados, além de vários outros números. O senhor acredita que a população está mais consciente? 
RS – Acho que isso vamos começar a perceber ao longo dos anos. No ano passado, em função do “Rua Coletiva”, já percebemos que no Detran conseguimos ampliar o número de pessoas alcançadas. Também fizemos ao longo do projeto pesquisas para saber se a ações estão no caminho. Com isso vimos que quase 85% dos entrevistados nunca tinham participado de uma ação do Detran. Mas estamos no caminho certo, abrangendo o público, e isso tem trazido benefícios. 

FV – É possível ver uma diminuição nos números de acidentes de trânsito após a campanha? 
RS – A mudança de comportamento é linear, as pessoas mudam aos poucos, isso vamos perceber ao longo dos anos. Nos últimos dados apresentado pelo Ministério da Saúde, comparando fevereiro de 2013 com o mesmo período em 2014, houve uma redução de 11% nas mortes por acidentes de trânsito. Esse levantamento é complicado de ser feito, por isso os mais recentes são esses, mas vemos um tendência de redução e verificamos que vai haver sim uma redução maior. É um trabalho que é feito com muita vontade para esse cenário mudar. Somos agentes de transformação e passamos pelo trânsito para abordar cidadania. Só o ser humano tem como mudar e isso pode acontecer através do nosso caráter.

FV – Um dos focos da campanha são as crianças. O senhor acredita que elas podem transmitir essa conscientização aos pais? 
RS – Nosso foco principal é a criança. Nossa geração não está perdida, mas é mais fácil a transformação em quem está formando o caráter. Os jovens que têm a mente aberta, sem vícios, sem preconceitos, está mais perceptível para a mensagem e é o grande vetor de transporte, pois ele cobra o pai, a mãe, a família. A pior coisa é ser chamado atenção pelo filho. Com isso paramos para pensar. Essa construção não acontece de hoje para amanhã, vem com os anos e faz parte da evolução.

FV – O senhor gostaria de deixar alguma mensagem aos motoristas capixabas? 
RS – Gostaria de deixar uma provocação. A minha escolha faz a diferença não só no trânsito, mas em tudo. Sendo um bom exemplo estamos construindo uma melhor cidadania em todos os aspectos da humanidade.