Mais de 240 mil venezuelanos entraram no Brasil, nos últimos dois anos, fugindo da crise política e econômica da Venezuela, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, o número de refugiados pode ser ainda maior, já que apenas 160 mil estão no país de forma regularizada.
Um desses imigrantes é Carlos Andreas, de 80 anos, que mora no Espírito Santo desde o início da crise. Casado com uma capixaba, atualmente ele trabalha como motorista de transporte por aplicativo e, nas horas vagas, dá aulas gratuitas de espanhol para pessoas da terceira idade, em um centro comunitário.
Apesar de ter conseguido fugir da crise humanitária em seu país de origem, Carlos diz que está apreensivo com a situação de seus dois filhos, que ainda moram com suas famílias na Venezuela. Segundo ele, toda vez que se comunicam, os filhos relatam que falta quase tudo no país.
“Ainda tenho dois filhos no interior da Venezuela que, como todos, estão sofrendo com a crise por carência de alimentos básicos e remédios também. Além disso, teve uma semana de apagão. Agora continuam os apagões com menos tempo de duração, mas continuam”, conta.
Carlos se mudou para o Brasil junto com a primeira leva de venezuelanos, logo após a moeda do país começar a desvalorizar e os empregos ficarem escassos. Ele conta que sua maior alegria é dar as aulas de espanhol no centro comunitário, já que foi a forma que encontrou para retribuir aos brasileiros o acolhimento recebido.
O venezuelano, no entanto, admite que deseja voltar ao seu país de origem assim que a crise terminar, para ajudar na reconstrução. “Para apoiar, porque a administração pública está praticamente corroída por militantes de partidos, por milícias e não tem serviço nenhum que possa dar saúde, escolaridade, nada disso. Tudo está pela metade”, lamentou.
No entanto, a crise na Venezuela tem piorado a cada dia. Em 2018, a inflação foi de 1,3 milhão por cento e, nesse ano, pode ser de 10 milhões por cento. Além disso, são registrados constantes apagões e falta de produtos básicos e alimentos no país.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi reeleito no ano passado, em um processo cheio de suspeitas de fraude. Assim, o presidente do legislativo, Juán Guaidó, declarou o cargo vago e se auto proclamou presidente interino, sendo reconhecido assim por vários países, inclusive o Brasil.
Nesta semana, um movimento de Guaidó parecia que iria depor Maduro, mas fracassou. Os protestos foram reprimidos com violência e o país vive em uma tensão crescente.