Um vídeo, feito em fevereiro deste ano, mostra alunos da creche Praia Baby, na Praia da Costa, em Vila Velha, se divertindo no brinquedo Aquaplay. No reservatório do brinquedo foram constatadas bactérias do tipo E.coli, uma das responsáveis pelo surto de gastroenterite ocorrido na unidade de ensino, segundo as investigações do caso, cujo relatório foi divulgado nesta terça-feira (07).
No vídeo, exibido durante reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, uma das crianças aparece bebendo a água do brinquedo. De acordo com as investigações, a água era reutilizada.
“Como qualquer criança, como criança que nós já fomos, elas vão botar a mão na boca, elas vão encostar no chão, elas vão ter contato com o ambiente que as cerca. Então essa caracterização do local onde a transmissão ocorreu foi a única coisa que nós fizemos. Pode ter sido o local que facilitou a disseminação do norovírus e também do E.coli”, afirmou Rodrigo Ribeiro Rodrigues, coordenador chefe do Laboratório Central do Estado (Lacen), responsável pelo relatório.
O relatório apontou ainda a presença de E.coli, comuns no trato intestinal de animais, na fábrica de cerveja que funcionava, de forma irregular, nos fundos da creche. No entanto, segundo o coordenador do Lacen, a origem do surto de gastroenterite ainda é desconhecida.
“Nós estamos justamente atrás dessas respostas. A transmissão não foi feita por ingestão de alimentos. Então o que ficava era veiculação hídrica, de águas ali do reservatório do brinquedo, ou então era na transmissão que foi feita de pessoa a pessoa”, frisou.
As investigações apontaram ainda que a E.coli não foi a única causadora do surto. Amostras de 20 pessoas foram encaminhadas para análises da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. O resultado apontou que 11 delas apresentaram infecções por um vírus chamado norovírus.
“Ele é um vírus comum no mundo inteiro e sempre associado a essas diarreias, normalmente associados em ambientes onde você tem pessoas em proximidade. Para se ter uma ideia, uma pessoa com norovírus, no momento em que o vômito é provocado, tem a capacidade de contaminar pessoas ao redor de três metros. Então todo mundo que estiver naquele ambiente pode ser contaminado”, destacou Rodrigues.
No total, 37 pessoas foram contaminadas pelo surto de gastroenterite. A maior parte frequentava as salas de 3 e 2 anos da creche, onde o menino Theo, que morreu vítima da contaminação, fazia atividades.
“O que nos chama a atenção é que é o primeiro surto no Brasil desse porte. É uma situação onde você consegue identificar o local e dizer que todos os casos estavam concentrados ali”, ressaltou o coordenador.
Relatório
O relatório das investigações sobre o surto de gastroenterite foi apresentado durante a reunião da Comissão de Saúde da Ales. As investigações começaram no dia 22 de março, mas somente no dia 26 a creche suspendeu as atividades. No dia seguinte, o pequeno Theo, de apenas 2 anos, faleceu vítima da infecção.
“Proprietários da creche eram extremamente responsáveis e, por um ato próprio, promoveram a suspensão do funcionamento da creche, mas poderíamos ter outras vítimas”, ressaltou o deputado Lorenzo Pazolini.
Dessa vez, o secretário de Saúde de Vila Velha, Jarbas Ribeiro, aceitou o convite dos parlamentares e compareceu à reunião, onde foi questionado por pais de alunos sobre a forma como o problema foi conduzido.
“Nós soubemos numa sexta à noite, atuamos no final de semana junto às crianças que estavam internadas, para coletar os seus exames, o material biológico. E na segunda, com a informação dos hospitais, tomamos a decisão de separar as crianças. Isso foi extremamente fundamental para que a creche não tivesse outros casos mais graves”, destacou o secretário.
Após um mês de interdição, a creche voltou a funcionar. No entanto, o trabalho continua para saber como o surto se espalhou. A Polícia Civil também investiga o problema. Os deputados afirmam que vão cobrar respostas.
“A comissão vai continuar nesse trabalho, convidando esses atores para voltar à comissão, e, se tiver outros laudos conclusivos, que tragam. E se não tiver, nós vamos continuar cobrando esses laudos para que sirva de exemplo para outros casos que poderão surgir”, frisou o deputado Dr. Hércules da Silveira.
Por meio de nota, a direção da creche disse que realizou uma bateria de exames laboratoriais em vários pontos diferentes e nenhum laudo mostrou qualquer ponto de contaminação na instituição. Segundo a creche, o fato será apresentado às autoridades policiais.
A direção ressalta ainda que o relatório apresentado nesta terça-feira não é conclusivo sobre como a bactéria chegou à unidade e que o local teria sido apenas o ponto transmissor.
A instituição reforçou também que as autoridades destacaram a atitude da direção, que promoveu o rápido fechamento da unidade, evitando, assim, mais contaminações.