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VÍDEO | "Rei do Busão" alegra passageiros cantando rap em ônibus da Grande Vitória

Hapino tem 27 anos e trabalha há 7 levando poesia dentro do transporte coletivo da Grande Vitória

Conhecido como ‘Rei do Busão‘, o artista Hapino, de 27 anos, traz leveza e alegria para passageiros do transporte público da Grande Vitória. Com seu violão ou com o cavaquinho, o poeta não se deixa abalar. E você, já se deparou com ele por aí?

Um dos “shows” registrados por um passageiro foi na linha 558, sentido Itaparica, por volta das 19h. Foi no trecho da Terceira Ponte, com o ônibus lotado, que o artista encantou alguns capixabas.

“Em um tempo ruim, com tanta coisa acontecendo, ele estava no ônibus para Vila Velha, muito lotado, espalhando alegria. O pessoal aplaudiu e, com toda certeza, todo mundo se sentiu muito melhor depois de um dia inteiro trabalhando”, contou o cinegrafista Robison Heredia.

Com o fim dos cobradores, os trabalhos artísticos dentro do ônibus têm sido mais reconhecidos e aceitos, até mesmo pelos motoristas. Segundo o artista, os condutores profissionais gostam e fortalecem o trabalho.

Hapino contou que os rodoviários tem perdido muitos direitos e, por isso, entende quando não é aceito. Ele disse que falta apoio para os artistas, como uma mostra cultural, bibliotecas ativadas no terminais, pois os passageiros gostam de saber o que tá acontecendo.

Quem é Hapino?

Foto: Reprodução / Instagram

Morador de Flexal II, em Cariacica, Hapino é Educador Social, Músico, Poeta, Escritor, Produtor Cultural, e Mestre de Cerimônia (Mc). O artista tem foco e procura falar coisas positivas. “Precisei ficar preso para ganhar minha liberdade e perceber o quão importante é ficar livre”, disse.

Ele foi preso três vezes no Espírito Santo e nos três sistemas prisionais, conheceu a arte.

“Antes eu não queria saber de nada, isso foi uma coisa que me fez enxergar, quem tem diploma não fica no mesmo lugar”, contou.

Na prisão, Hapino conheceu o B2, integrante do grupo Nexo, onde cantava pagode e outros estilos musicais. Foi dessa forma que o poeta entrou no mercado musical. Ele conheceu a arte através da ressocialização do presídio.

O cantor iniciou o seu trabalho artístico em um coral na prisão. Participou de grupo de teatro e oficinas. Ele agarrou as oportunidades que teve, como um curso de Educação Social, trabalho de prevenção contra a violência, ONGs e diversos projetos.

Ele trabalha há sete anos visando incentivar o consumo da arte capixaba. Hapino procura estar sempre falando sobre o poder salvador que a arte tem, para que crianças e adolescentes não tenham o mesmo destino que o dele.

Arte no Espírito Santo

Segundo o artista, o Espírito Santo é um dos lugares mais complicados de se fazer arte. Ele participou de projetos e circulou pelo Norte do Estado. Hapino contou que em Colatina, por exemplo, não se pode fazer trabalho no ônibus, como ele faz pela Grande Vitória, devido a uma lei municipal.

“Há cinco anos era horrível. É complicado, já tomei facada, meus amigos já tomaram cuspe na cara, já sofremos injúria racial, já fui chamado de macaco, vagabundo. Tem pessoas que gostam, mas é sempre bem dividido. Tem uma galera que se pudesse matar a gente com o olhar, matava”, contou.

Desde 2020, o poeta tem colocado mais a cara a tapa e vendo a música pelo lado comercial. Segundo ele, viver da música socialmente não paga as contas. 

O ‘Rei do Busão’ tem sonhos maiores, quer sobreviver de música, sair do aluguel, comprar uma casa para a mãe, ver a família e a comunidade bem. Ele pretende dar o melhor para seu filho e sua esposa.

Hapino não quer sair do Espírito Santo, ele pretende fazer com que o resto do mundo conheça o Estado. De acordo com o cantor, a visibilidade é pouca para a galera capixaba.

“Tenho dois amigos MC’s, nossa cena é muito segregada, Cariacica só conhece Cariacica, ninguém procura saber quem são os artistas que tão iniciando, que não tão sendo vistos”, disse.

O artista deixou uma frase de Martin Luther King como inspiração para os novos artistas. “Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito”.

*Texto da estagiária Ana Paula Brito, com supervisão da editora-adjunta Laís Magesky