A nova jornada da educação vem caminhando junto às inovações tecnológicas e o futuro promete. Esta temática está sendo abordada pelo 10º Congresso Educacional das Escolas Particulares, no Centro de Convenções, em Vitória, nestas quinta (25) e sexta-feira (26).
Dentre os debates, robôs, pluralidade do aprendizado e metodologia 3S foram trazidos como parte da nova sala de aula que vem sendo construída.
Com exclusividade à reportagem do Folha Vitória, o diretor do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe-ES), Bruno Loyola Del Caro, contou que o evento, cujo tema central foi chamado de “Reset”, veio para conectar educadores com o que há de novidade no ramo.
“Estamos ouvindo palestras que trazem o que há de informação mais inovadora. A pandemia acelerou todo o processo tecnológico e temos que ter cada vez mais interação entre o nosso pessoal e nossos gestores, professores, para conhecer a tecnologia futura”, afirmou.
“Toda essa imersão tecnológica serve para mostrar que o mundo mudou. E se o mundo mudou, a educação também tem que mudar. As ferramentas estão aí”, disse.
Robô no palco
Além do presidente, o primeiro palestrante da programação, que realizou uma “palestra magna”, Gil Giardinelli, também conversou com a reportagem. O sucesso foi absoluto, com a apresentação de um pequeno robô, chamado, em português, de “Nao”.
A ideia de “chamá-lo” ao palco, foi de mostrar a capacidade de seu uso vinculado ao ensino, à pesquisa e à inteligência artificial. Apesar de pequeno, o humanóide é um dos mais avançados da atualidade, podendo custar cerca de R$ 80 mil.
Giardinelli contou que já trabalha com esses pequenos robôs. “Consigo com eles, com autorização dos pais das crianças, entender individualmente o aluno. Por exemplo, como está vendo a aula, qual ponto foi mais interessante para ele, ou quando ele se desconectou, assim dá para fazer um raio-x educacional”, afirmou..
“E também já está provado que para várias idades e para determinadas matérias, e já há várias escolas no Brasil fazendo isso, as crianças retêm mais conteúdo quando ele é dado por um robô. Isso não quer dizer que vai acabar com a função do professor, mas ficou provado que as crianças prestam mais atenção nos robôs nos casos de matérias mais repetitivas”, disse o professor.
Com os robôs, outra tecnologia que o especialista imagina que esteja vindo com tudo são os algoritmos de inteligência artificial.
“Eles vão, por exemplo, entender a área melhor para cada um, identificando desde criancinha, o que cada um tinha como interesse. No caso de um jornalista, ele pode perceber que desde pequeno o indivíduo mostrava curiosidade em perguntar as coisas, então já dava sinais de que iria para a área de humanas. Isso, desde a primeira infância, vai ajudar na trilha do conhecimento”, acrescentou.
Apesar de revolucionário o uso de tanta tecnologia, o educador falou também em obstáculos. Segundo ele, já há várias escolas no Brasil contando com o que há de mais avançado, mas estas costumam ter mensalidades muito caras, o que ajuda a criar um fosso social maior na sociedade.
“A boa notícia é que as tecnologias primeiro são caras, mas depois vão barateando muito. Então isso já está caindo de preço. Sem necessidade de pagamento, há a inovação do intercâmbio de conhecimentos, que já é algo acessível a todos: com o novo currículo do ensino médio, há interação entre ciências humanas, exatas e biológicas. Isso é maravilhoso e que não precisa de tecnologia”, avaliou Giardinelli.
Metodologia 3S
O palestrante, em debate, ainda destacou a importância de uma metodologia que vem começando a ser aplicada. Chamada de 3S, por conta dos termos em inglês, ela foca em ciência (science), sociedade (society) e espiritualidade (spirituality). A educação do futuro deve deixar de buscar apenas o conteúdo “decorado” para ser mais humanizada e atualizada.
“Falamos em espiritualidade não no conceito religioso. Mas agora, com o avanço da computação, de uma série de tecnologias e do pensamento humano, estamos conseguindo comprovar coisas que antes ficavam apenas no campo da filosofia, que eram só pensamentos avançados. A gente já sabe que existe que algo maior do que podemos ver. Sobre espiritualidade, estamos falando de outras dimensões, e ainda há muitos conceitos baseados em dogmas na educação. Parte da religião pensa que uma pessoa morre e acabou, outra que acha que existe outra vida no paralelo. Não estou falando que tem ou não vida paralela, mas dimensões diferentes já estão comprovadas pela física e é preciso discutir isso também na escola”, disse.
Com tanto conhecimento disponível, para o educador a verdade é que ninguém mais consegue saber de tudo.
“Então acho isso de ter aqui mil educadores no evento, além de eventos como esse no Brasil todo, são muito importantes para despertar interesse na inovação. Nunca foi tão fantástico ser um educador, um professor, um ser humano, porque nunca tivemos tanto conhecimento e chegou a hora de entender que precisamos compartilhar isso. É papel da escola é se manter atualizada, não é só sobre as tecnologias, o mais importante são os humanos. Se não cuidarmos das desigualdades, a gente vai ter, ao nosso lado, um lugar que a gente vai achar perigoso e não é assim que deve ser o mundo”, definiu.
Pluralidade de alunos
Outra temática discutida na palestra do professor Gil foi a pluralidade de alunos que existe e que, durante muito tempo, foi compreendida de forma equivocada. Antes era como se só devesse existir o aluno quieto, que aprende focado no seu canto.
“Agora falamos em ‘Reset’ porque o mundo está passando por isso. Se pegarmos a educação, ainda existe muito isso de tempo cronometrado, de espaço concreto. E hoje o aluno não quer mais isso. Existem várias formas de aprender, não apenas na sala de aula. Esse reset é também de repensar o papel da escola e do professor. Nunca a escola foi tão importante, em tempos tão extremistas, trazendo o conceito de conviver com outras pessoas”, frisou.
Nesta escola do futuro, o professor deixa de ser o dono do conteúdo para ser o orquestrador, ou como diria Gil, aquele que vai ajudar os alunos a entenderem o mundo complexo e maravilhoso.
Segundo ele, há 22 tipos de alunos categorizados e, o aluno quieto, que era tido como padrão, representa uma minoria. Entenda três tipos básicos:
1. há esse que fica em silêncio, anotando tudo;
2. tem o que precisa falar sobre o conteúdo: e se fala muito, dependendo da escola, terá problemas, mas o jeito dele aprender é falando, seja com o colega, seja com o professor), mas não quer dizer que é bagunceiro, mas que precisa falar.
3. e existe o que precisa falar e fazer: “Chamamos de ‘fazedores’, que é a grande maioria na sala de aula. Se você olhar para a escola do passado, esses são os bagunceiros. Mas não é por isso, existe algo por trás. São questionadores, fazedores e hoje isso é a maioria dentro da sala de aula”, disse.
Dentro da pluralidade, o professor diz que a educação é como o mundo, em que cada pessoa tem uma forma diferente de aprender e isso é comprovado.
“O conceito de decorar só atingia 8% das pessoas. Hoje precisamos também de pensamento crítico e pensamento divergente e é preciso despertar isso desde a primeira infância”, acrescentou.
Legado da pandemia
Para Gil Giardinelli, a pandemia ressaltou diferenças sociais. “Somos muitos Brasis dentro do Brasil. Há pessoas que puderam levar os filhos para a praia, para a natureza e esses podem ter tido um salto de aprendizado. Mas imagina as pessoas que vivem onde o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é mais baixo, que mal tem conexão com a internet, que mal tem silêncio para estudar, essas ficaram prejudicadas e é a grande maioria”, explicou.
Para ele, essa situação também tem relação com a forma como os pais lidaram com a pandemia.
“Muitos pais voltaram para casa, mas tiveram que ficar o tempo todo trabalhando online e nesse momento era preciso cuidar dessas crianças, porque para elas é tudo muito confuso. Isso de ficar olhando para a telinha foi bem delicado para a saúde mental delas. E a sala de aula é o lugar do primeiro amigo, do primeiro tudo. E muitas pessoas, nesses dois anos, ficaram limitadas em relação a essa convivência, mexendo muito com a inteligência emocional, que é um conceito muito importante no século XXI”, disse.
“É preciso compreender que hoje, infelizmente, há uma pandemia silenciosa, com dados de que 1 em cada 3 pessoas está com muita dificuldade emocional, ansiedade e depressão. Chegou a hora de encarar isso de frente e tratar dessas pessoas. Precisamos entender sinais. E se falarmos de antes, a sala de aula, o local do recreio, o local de convivência social, são muito importantes em um mundo em que quem pensa diferente de você acaba sendo visto como um inimigo. O mundo precisa de escolas para trazer o conceito de colaboração, de comunidade. quando a gente fica muito tempo online, a gente esquece um pouco disso”, finalizou.
Programação do Congresso
Confira a programação completa:
QUINTA-FEIRA (25/08)
8h30 – Credenciamento e visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
9h40 – Abertura oficial com as boas-vindas do presidente
9h45 – Palestra magna com Gil Giardinelli
Tema: Futuro Inteligente, além da inovação!
10h45 – Intervalo e visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
11h15 – Palestra com Luis Laurelli
Tema: Estratégias inovadoras para metodologias de ensino
12h15 – Intervalo para o almoço e visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
14h – Palestra com Regina Shudo
Tema: Itinerários possíveis para melhorias da qualidade na educação
15h – Intervalo e visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
15h30 – Palestra com o professor Renato Casagrande
Tema: Nova Escola: práticas pedagógicas para encantar e mobilizar os alunos para a aprendizagem
17h – Encerramento com lançamento e autógrafos do livro do professor Renato Casagrande
SEXTA-FEIRA (26/08)
9h – Visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
9h30 – Palestra com Mozart Neves Ramos
Tema: Sem educação não haverá futuro
10h30 – Intervalo e visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
11h – Palestra com o professor Guilherme de Almeida e mediação de Jane Haddad
Talk Show: Educação inclusiva – o pacto entre as PCDS, as famílias, a escola e a sociedade
12h – Intervalo para o almoço e visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
13h40 – Momento de interação
14h – Palestra com Júlio Furtado
Tema: Currículo e avaliação – refazendo modelos para a escola do futuro
Roda de conversa com Mozart Neves Ramos
Tema: O ensino superior no pós-pandemia
15h – Intervalo e visita à 10ª Exposição de Produtos e Serviços Educacionais
15h30 – Palestra com Zeca de Melo
Tema: O que não muda quando tudo muda
16h30 – Encerramento