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Vila Velha: onde o Espírito Santo começou

Nesta terça-feira (23), a cidade canela-verde comemora 482 anos. Pode-se dizer que, junto com Vila Velha, nascia também o Espírito Santo. Entenda um pouco da história do município!

Não é incomum alguém perguntar: “23 de maio é feriado de que?”. Pouco conhecida pelos capixabas, a data que comemora a chamada Colonização do Solo Espírito-santense é vista por muita gente como apenas mais uma folga no calendário capixaba. Mas o dia marca um acontecimento importante na história da capitania do Espírito Santo. 

Em 23 de maio de 1535, portugueses, a bordo da caravela Glória, desembarcaram na Prainha, em Vila Velha. Nesta terça, estão sendo comemorados, então, os 482 anos da cidade de Vila Velha. Pode-se dizer que, junto com Vila Velha, nascia também o Espírito Santo.

Vila Velha é a cidade mais antiga do Estado e foi a primeira sede da Capitania do Espírito Santo. A cidade conta com várias construções históricas como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o Forte de São Francisco Xavier de Piratininga, o Farol de Santa Luzia e o Convento da Penha, sendo esse último um dos principais pontos turísticos do Espírito Santo, e tem hoje cerca de 472 mil habitantes. 

O feriado da Colonização do Solo Espírito-santense, geralmente, abrange apenas o município canela-verde, mas este ano foi adotado também pela Prefeitura de Vitória.

Um pouco de história

Quando os portugueses chegaram a Vila Velha, em 1535, sob o comando de Vasco Fernandes Coutinho – donatário português da Capitania do Espírito Santo, a região estava sendo disputada por três grupos indígenas (goitacás, aimorés e tupiniquins). Vasco Coutinho chegou na atual Prainha a bordo da caravela Glória, acompanhado por cerca de 60 homens, fundando a Vila do Espírito Santo (atual município de  Vila Velha). A vila passou a ser a sede da Capitania. Posteriormente, a capital seria transferida para Vitória.

O cenário em Vila Velha, em 1535, era de guerra. Os portugueses não foram bem recebidos e tiveram de enfrentar a resistência por parte dos nativos. Índios Aimorés, conhecidos pela sua selvageria, receberam os estrangeiros recém-chegados com flechas e somente cederam quando eles revidaram com canhões e armas de fogo.

Depois do primeiro combate,  Vasco Coutinho ergueu o Fortim do Espírito Santo, uma cerca feita de troncos de árvores com o objetivo de proteger os colonizadores dos ataques das tribos indígenas. Esse foi o primeiro núcleo populacional da capitania, chamado de Vila do Espírito Santo. Eram, inicialmente, 60 colonizadores vivendo em 30 casas. A vila contava também com uma igreja. Aos poucos, na região, o verde foi dando lugar à agricultura e à pecuária, com destaque para o cultivo de milho. 

Mas os ataques indígenas continuaram, assim como as ameaças francesas e holandesas à vila fundada por Coutinho. Por conta disso, os portugueses decidiram, em 1551, transferir a capital para a atual cidade de Vitória. O primeiro núcleo de colonização da nova sede da capitania recebeu o nome de Vila de Nossa Senhora da Vitória. Em junho de 1535, após explorar os arredores da ilha, os colonizadores descobriram uma grande ilha (atual ilha de Vitória), dando-lhe o nome de Ilha de Santo Antônio, em comemoração ao dia do santo católico.

Em 1537, Coutinho doou a ilha de Santo Antônio a Duarte de Lemos, um dos homens de sua comitiva colonizadora. Entre os presenteados, D. Jorge de Menezes ficou com a primeira ilha junto à Barra (Ilha do Boi) e Valentim Nunes com a atual Ilha do Frade.

Sobre Vila Velha

Não se sabe muito sobre a história de Vila Velha no período que vai do século XVI ao XIX. Destacam-se, nesta fase, a construção do Convento, da Penha, e os constantes ataques holandeses, no século XVII, contra as fazendas de açúcar.

O que se diz nos poucos registros sobre a cidade da época é que a região não se desenvolveu muito nesse período. Há um relatório do governo da província que aponta que, em 1827, havia 2.120 habitantes na região. Sabe-se que o acesso à nova capital, Vitória, era bastante difícil.

O sustento inicial da vila era à base da agricultura e o trabalho era escravo, utilizando-se de índios e negros. Na área que hoje é conhecida como Aribiri, havia um quilombo de escravos, que deu origem, no início do século XX, a um povoado, que se transformaria no bairro que hoje conhecemos.

Vila Velha, com esse nome, foi criada definitivamente em 1890, quando foi instaurada a Constituição do Espírito Santo. Alguns anos depois, foi desenvolvida a planta do município, e, posteriormente, foram feitos alargamentos e a criação de ruas, assim como obras de infraestrutura que começaram a atrair investidores. Mas foi a construção da ponte Florentino Avidos, ligando a cidade à capital Vitória, em 1920, que, de fato, fez a economia vilavelhense evoluir.

A inauguração da fábrica de Chocolates Garoto, neste mesmo período, foi outro marco importante para a dinamização econômica da cidade. O bonde do município, criado em 1912, foi perdendo espaço para os veículos a partir de 1950, ano em que a população de Vila Velha já era de cerca de 24 mil pessoas.

Em 21 de abril de 1931, Vila Velha chegou a ser anexada ao município de Vitória, porém foi recriada em 1938. Em 1943 foi novamente anexada e recriada quatro anos mais tarde, sendo oficializada pela Lei estadual  n° 479, de 31 de janeiro de 1959.

Até a década de 1960, grande parte da população que morava em Vila Velha trabalhava ou estudava na Capital. A construção de escolas, estabelecimentos comerciais e o fortalecimento da economia reverteu essa situação. Também começou a investir-se no turismo, com a melhoria da infraestrutura das praias e regularização da rede hoteleira, além da construção de seus terminais portuários.

Canela-verde

É comum quem nasceu ou mora em Vila Velha ser chamado cidadão canela-verde. O apelido teria origem nos tempos da colonização. Segundo alguns relatórios de quem comandava a província e testemunhos de viajantes, durante um período economicamente mais difícil da história da cidade, alguns moradores viviam da coleta de mariscos nos mangues e praias, além da pesca, que era sua principal fonte de alimentação. 

Os catadores de mariscos andavam descalços e, sob a luz das lamparinas, refletiam a cor verde-azulada do limo que cobria suas pernas, o que teria motivado o apelido de “canela verde”, que acabou chegando até os dias atuais.

O professor Renato Pacheco, saudoso historiador capixaba, brincava chamando carinhosamente de “canela verde” os alunos de Vila Velha, e quando perguntado sobre o porquê, contava que os moradores da cidade viviam, no passado, mariscando na lama e saíam da água com as canelas sujas de limo verde.

Há ainda outras versões. Alguns dizem que o apelido veio do costume português de usar meias longas e verdes. Outra história contada é a de que os índios chamavam os colonizadores assim pela grande quantidade de algas marinhas na costa que manchavam as calças e a canela dos portugueses.

Religião

A primeira missão dos portugueses que chegaram à Vila do Espírito Santo foi construir a Igreja do Rosário. De acordo com o pesquisador Gether Lima, a ideia de erguer o símbolo do cristianismo fazia parte de um convênio dos portugueses com a Santa Sé para difundir o cristianismo no mundo. E foi justamente ao redor da Igreja do Rosário que a Vila do Espírito Santo foi sendo construída. 

A Igreja do Rosário é a mais antiga do Espírito Santo e atualmente é considerada a mais antiga do Brasil. Sua construção começou em 1535, sob a forma de capela, logo após a chegada do donatário Vasco Fernandes Coutinho. 

A praça da frente tem palmeiras imperiais e obeliscos em homenagem ao donatário e à Nossa Senhora dos Prazeres. A igreja é um bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ato que se deu em 20 de março de 1950.

Mas o símbolo máximo do cristianismo na vila, no entanto, o Convento da Penha, teve sua construção iniciada no início da década de 1560.

Pontos históricos

Alguns pontos turísticos de Vila Velha contam parte da história desse município que é o mais antigo do Estado.

Convento da Penha: principal monumento religioso do Estado, o Convento da Penha começou sua história em 1562, com Frei Pedro Palácios, que após sonhar, construiu uma capela entre duas palmeiras. Em 1750 foi iniciada sua ampliação, resultando em uma das mais belas construções do Brasil Colonial. É possível subir o morro, que tem 154 metros de altitude, de carro, ou andando pela ladeira da penitência, antigo caminho aberto pelos índios.

Santuário Divino Espírito Santo: foi idealizado e construído por Frei Firmino Matuschek. Nascido em 1911, na Prússia, ele chegou ainda seminarista ao Brasil, no dia 3 de maio de 1935. O religioso passou a viver em Vila Velha a partir de 1956, quando assumiu a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário. Mas a sede tornou-se pequena e era necessário construir uma nova igreja. Frei Firmino adquiriu a área onde logo foram fincadas 139 estacas de concreto. De estilo arquitetônico basilical, a igreja, conhecida como Santuário de Vila Velha, foi inaugurada no dia 21 de abril de 1967.

Gruta do frei Palácios: grande pedra situada no sopé da montanha, na Prainha. Segundo historiadores, foi residência do Frei Pedro Palácios por mais de seis anos.

Parque da Prainha: local com muita história, cercado por árvores e mar. Foi na praia que margeia o parque que no dia 23 de maio de 1535 ancorou a caravela Glória. Nela estavam o donatário da então Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho, e outros 60 homens que ali fundaram a Vila do Espírito Santo. Começou, assim, a história do Estado. Hoje, o parque conta com uma vista espetacular para a Baía de Vitória e possui gramado que abriga alguns dos principais eventos da cidade, como a Festa da Cidade e da Penha.

Forte Francisco Xavier: anteriormente denominado Fortaleza de são Francisco de Piratininga ou Forte da Barra, foi construído em 1535 por Vasco Fernandes Coutinho. Em 1862, foi cedido à Marinha logo como uma escola de aprendizes de marinheiros, extinta em 1866. Hoje, abriga o 38º BI de Infantaria e é considerado o marco da presença do exército no Estado.

Farol de Santa Luzia: construído na Escócia, em 1870, pelo  Barão de Cotegipe. A torre mede 17 metros de altura  A luz pode atingir até 15 milhas marítimas. O farol orienta os navios que chegam à costa com destino aos portos de Vitória, Vila Velha e Tubarão.

Casa da Memória: tombada pelo Conselho Municipal de Cultura, a construção do século XIX abriga uma exposição permanente de fotografias e outras imagens que guardam a história da formação do município e do Estado, além de contar com um Posto de Informações Turísticas. Em 1989, os moradores da região se movimentaram para que ali fosse instalado um museu, resultando na contratação do projeto para reforma e ampliação do antigo casarão que hoje abriga a Casa da Memória.

Museu Homero Massena: nesta casa viveu,de 1951 a 1974, quando faleceu, o artista Homero Massena. O local onde morou e fez as melhores pinturas de sua vida é hoje o museu que leva seu nome. A casa foi tombada em 1984, conservando as obras e a história de vida do pintor, preservando os cômodos e o ambiente onde concebia suas obras.

Tudo pronto para as festividades de 23 de Maio

As comemorações do dia da Colonização do Solo Espírito-santense começam nesta segunda-feira, dia 22. Com o tema “482 anos de história e cultura – Viva Vila Velha”, os festejos serão realizados nesta segunda e terça-feira. 

Nesta segunda, a Transposição do Fogo Simbólico da Capital para Vila Velha será realizada a partir das 17 horas, no Palácio Anchieta. De lá, o fogo simbólico será conduzido pela Marinha do Brasil, Exército, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, na forma de revezamento, até a Praça Almirante Tamandaré, na Prainha, onde ficará sob vigília dos Desbravadores durante toda a noite até o início do Desfile Cívico, a partir das 7 horas desta terça-feira, 23.
 
A pira ficará na Prainha – em frente igreja do Rosário. Foi ali que, há 482 anos, a caravela Glória, que trazia Vasco Fernandes Coutinho, aportou e deu início a história da cidade.

No dia 23, a programação começará a partir das 7h50 com a revista à Guarda de Honra da Polícia Militar e o Governador do Estado, no palanque que será montado no Centro. A cerimônia contará com a chegada do fogo simbólico, hasteamento das bandeiras, entrega de comendas da Polícia Militar e a oficialização da transferência da Capital do Estado para Vila Velha.
Desfile Militar.

Os 482 anos de história e cultura de Vila Velha serão retratados no tradicional desfile militar que começará a partir das 8h40. As apresentações dos oficiais  contarão com bandas da Escola de Aprendizes de Marinheiros (EAMES), do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, da Polícia Militar, incluindo a banda júnior. 

Além dessas corporações, vão se apresentar o Corpo de Bombeiros Militar, a Polícia Civil, a Secretaria de Estado de Justiça, a Associação de Delegados, os Escoteiros, os Desbravadores, a Ordem DeMolay (maçons), finalizando com o desfile da Guarda Municipal de Vila Velha.

Desfile

O desfile escolar vai contar com a participação 1.700 alunos de 12 Unidades Municipais de Ensino Fundamental (Umefs) e três Unidades de Municipais de Ensino Infantil (Umeis). 

Serão sete alas que representarão a história da cidade, destacando a variedade étnica, cultural, econômica, turística e gastronômica. Cada ala será acompanhada por uma banda marcial escolar.

Acessos à Prainha serão interditados a partir das 6h desta terça-feira

Pelo menos doze ruas que dão acesso ao Parque da Prainha serão interditadas nesta terça-feira (23), de 6 horas ao meio-dia, em função do desfile cívico-militar que ocorre nas ruas Antônio Ferreira Queiroz e Antônio Ataíde. A atividade é parte da programação das festividades em homenagem à Colonização do Solo Espírito-santense, comemorada na data.
 
As ruas Quinze de Novembro e Henrique Moscoso são as únicas opções para os veículos que trafegam no sentido Centro-Praia da Costa e vice-versa. Os acessos ao Parque da Prainha estão todos interditados no horário do desfile e vão contar com agentes da Guarda Municipal para orientar o tráfego na região.
 
As interdições troncais serão feitas em boa parte da extensão na Rua Castelo Branco, principalmente nos acessos à Prainha, na Rua Antônio Ataíde, local de desfile e a Rua Luciano das Neves, destinada a dispersão dos grupos que participam da atividade.
 
Entre as ruas a serem interditadas estão a Cabo Ailson Simões, Presidente Lima, Coronel Sodré, Rua Araribóia, Henrique Laranja, Maria Amália, Castelo Branco, Guilherme Faria, Prof. Telmo de Souza Torres, Dom Jorge de Menezes.

Fontes: Pesquisas online, IBGE, Governo do Estado e Prefeitura Municipal de Vila Velha.