Por conta da pandemia e com as crianças longe das escolas, os pais se viram obrigados a participar de maneira mais próxima da rotina escolar dos filhos. Um cenário parecido, não igual, ao que as famílias que optam pelo ensino domiciliar ou homeschooling vivem. A tendência é que a modalidade do ensino em casa ganhe novos adeptos no pós-pandemia.
Com a experiência, muitas famílias viram que é possível educar os filhos a sua maneira. A prática ainda não tem regulamentação nacional, mas em Vitória, no Espírito Santo, já foi aprovada. Em São Paulo, um projeto de lei já passou em primeira votação na Câmara dos Vereadores.
Carolinne Litcanov Galeno da Silva, optou ao lado do esposo por educar seus dois filhos em casa. A decisão não foi fácil. Foram três anos de leitura e pesquisa sobre o assunto, além de visitas às famílias educadoras, até a tomada de decisão.
Carolinne elaborou o blog Cultivando Gente, no qual compartilha com outros pais um plano de aulas que ela aplica com os filhos em casa, baseado na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e método fônico. “Não é fácil educar em casa, mas é possível, até porque cada criança tem o seu jeito de ser e de aprender e respeitamos a individualidade de cada um”, garante.
Famílias que vivem em São Paulo, no entanto, vive em um limbo jurídico. Em 2018, o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou que a prática é constitucional, mas precisa de regulamentação do Congresso.
“Todas as famílias que optam pelo homeschooling vivem inseguras, com receio de serem acusadas pelo crime civil de abandono intelectual, pelo fato de não terem matriculado os filhos em uma escola”, conta um dos pais.
“Um amigo foi condenado a pagar 10 cestas básicas por não ter os filhos em um colégio e sei de um caso, em outro estado, que um pai foi obrigado a fazer a matrícula em uma escola. Cada juiz terá uma sentença diferente enquanto não houver regulamentação,” disse.
O ensino domiciliar foi uma das bandeiras de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Um projeto de lei foi enviado à Câmara dos Deputados no ano passado e aguarda votação.
A pedagoga e neuropsicopedagoga Daniela Cristina Rubi Brecci destaca que esse período de isolamento social atinge igualmente as famílias educadoras, mas concorda que muitos pais descobriram que são capazes de educar seus filhos em casa. “Acredito que, nesse sentido, seja uma tendência porque muitos mitos que envolvem essa opção caíram por terra”, argumenta.
Daniela reforça que as famílias devem ter liberdade de escolha. “As escolas precisam existir, sim, para atender as famílias que necessitam, mas não podem ser coercitivas. Os pais devem ter o direito de escolher como querem educar seus filhos”, defende.
Na visão da pedagoga, o homeschooling permite que o ensino seja adaptado à realidade das crianças e adolescentes, respeitando o tempo que cada um precisa para a aprendizagem. “A família também pode acompanhar mais de perto o desenvolvimento intelectual, moral e espiritual dos filhos”, finaliza.
*Com informações do Portal R7