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Médico capixaba explica associação entre síndrome paralisante de Guillain-Barré e o Zika Vírus

Segundo informações do infectologista Rodrigo Leal Silva, a síndrome é uma resposta da imunidade e pode ser causada por diversas infecções, inclusive pelo Zika Vírus

O zika vírus é um dos disparadores da síndrome Foto: ​Divulgação

Além de ocasionar a microcefalia, o Zika vírus tem sido associado pelas autoridade em saúde à síndrome de Guillain-Barré, uma doença neurológica e de origem autoimune. A doença provoca fraqueza progressiva nas pernas e pode até paralisar a musculatura respiratória do indivíduo. 

Segundo informações do infectologista Rodrigo Leal Silva, da São Bernardo Saúde, a síndrome é uma resposta da imunidade e pode ser causada por diversas infecções. Atualmente, ela está relacionada ao Zika vírus, que foi identificado como um dos disparadores da síndrome.

“É uma síndrome adquirida e já existe há praticamente 100 anos. Ela é caracterizada, sobretudo, por uma fraqueza nas pernas e alterações de sensibilidade progressivas. O mais comum é acontecer após uma infecção e, agora, ela está relacionada ao Zika vírus, que foi identificado com um dos vírus disparadores da síndrome”, esclarece.

Ainda de acordo com o médico, a síndrome não tem cura, mas o tratamento pode minimizar os impactos. Rodrigo explica que o diagnóstico precoce é fundamental para reduzir o avanço da síndrome Guillain-Barré.

“O diagnóstico clínico é fundamental para amenizar os avanços da síndrome, que age de forma progressiva, começando pelas pernas. Ela não tem cura, mas possui tratamento. A resposta ao tratamento vai depender do paciente, algumas recuperam os movimentos e outras não”, conta.

Em sete meses, Bahia registra mais de 50 casos

Até julho deste ano, 53 casos da Síndrome de Guillain-Barré (SGB) foram registrados na Bahia.

Além da Bahia, mais três estados do Nordeste confirmaram casos da síndrome. No Ceará, foram confirmados dez casos até o mês de abril.

No Maranhão, há 14 casos confirmados, com três mortes. Segundo nota da Secretaria da Saúde, entre esses 14 casos, oito confirmaram ter tido alguma virose antes.

A síndrome

A síndrome de Guillain-Barré é uma doença rara – atinge em média uma pessoa a cada 100 mil habitantes – e que pode surgir após infecções por vários tipos de vírus ou bactérias. De origem autoimune, ela ocorre por causa a produção inapropriada de anticorpos que passam a atacar a bainha de mielina, que é uma substância que recobre e protege os nervos periféricos.

Como alguns vírus e bactérias podem possuir proteínas semelhantes às presentes na bainha de mielina, em alguns casos eles podem levar o sistema imunológico a criar anticorpos contra essas proteínas, passando a atacar não só o vírus invasor, mas também a bainha de mielina.

O ataque dos anticorpos cria um intenso processo inflamatório que leva à destruição da bainha de mielina, que bloqueia a passagem dos estímulos nos nervos motores, ocasionando, assim, paralisia muscular com pouca ou nenhuma diminuição da sensibilidade.

Em alguns casos, a manifestação da SGB ocorre após a ocorrência de cirurgias, vacinas, traumas, linfomas, HIV, entre outros.

Sintomas

A fraqueza muscular é o principal sintoma da síndrome de Guillain-Barré. A fraqueza, que pode apresentar diferentes graus de agressividade, geralmente acomete as pernas e se espalha para outros grupos musculares, em direção aos braços, tronco e face. Nos casos mais graves, pode ocorrer a paralisia total dos membros, além de comprometimento dos músculos respiratórios e da face.

Além da fraqueza ou paralisia muscular, sintomas como taquicardia, queda ou amento da pressão arterial, retenção urinária ou constipação intestinal e dor nos membros acometidos também são relatados nos quadros de SGB.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré é feito, primariamente, de forma clínica, a partir da observação e análise dos sintomas, com a complementação de exames laboratoriais que comprovem a impressão médica e exclua outras causas possíveis para a fraqueza ou paralisia muscular.

Ainda não há cura específica para a doença. O tratamento é focado no combate aos sintomas e minimização dos danos motores, com injeção de imunoglobinas (anticorpos contra os auto-anticorpos que estão atacando a bainha de mielina) e plasmaférese (uma espécie de hemodiálise na qual é possível filtrar os auto-anticorpos que estão atacando a bainha de mielina).

Em geral, há uma progressão dos sintomas da doença nas duas primeiras semanas, quando ocorre a estabilização do quadro nas duas semanas seguintes. A partir daí, começa um processo de regressão da SGB, que pode durar várias semanas ou meses até a recuperação total.

Graças à capacidade de regeneração da bainha de mielina dos nervos periféricos, a grande maioria dos pacientes consegue recuperar todos os movimentos após um ano da doença. Entretanto, cerca de 30% das pessoas com síndrome de Guillain-Barré apresentam fraqueza residual após três anos e aproximadamente 3% podem sofrer uma recaída da fraqueza muscular e formigamento muitos anos depois do ataque inicial, de acordo com estudos do National Institute of Neurological Disorders and Stroke – Ninds (Instituto Nacional de Desordens Neurológicas e Derrame, em livre tradução do inglês), dos Estados Unidos.

A mortalidade da síndrome de Guillain-Barré é considerada baixa, aproximadamente 5%. E entre 5 a 10% dos pacientes permanecem com sintomas motores ou sensitivos incapacitantes que lhes impedirá de voltar a andar sem ajuda.

Entre os critérios que estão associados a um maior risco de sequelas estão a idade acima de 50 anos, o rápido avanço da fraqueza e paralisia (em menos de uma semana), a necessidade de ventilação mecânica e o quadro de diarreia prévio ao surgimento dos sintomas da síndrome.

De acordo com o Ministério da Saúde, a rede pública (SUS) oferece gratuitamente 35 procedimentos para tratamento de Guillain-Barré, entre procedimentos diagnósticos, clínicos, cirúrgicos, de reabilitação e medicamentos.

(Com informações da Agência Brasil)