
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou no último dia 21, no Rio de Janeiro, o concurso BNDES Pequena África. 21 de março é o Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.
As inscrições vão até 18 de abril, e as propostas devem ser entregues até 15 de maio. O resultado será divulgado em junho, com premiação total de R$ 300 mil para os três melhores projetos. O objetivo é integrar marcos históricos, estimular a economia criativa e ampliar o acesso à cultura, reforçando a memória e a resistência negra no Brasil.
Pequena África
Localizada na área da Zona Portuária e do Morro da Providência, a Pequena África é considerada a primeira favela do Brasil, com documentos e registros históricos das primeiras pessoas pretas escravizadas que chegaram ao país. A comunidade foi tema do samba enredo da Mangueira, “À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, no Carnaval deste ano.
Marília Santana Gabriel, arquiteta e urbanista da Universidade Federal do Espírito Santo, no campus de São Mateus, afirma que a proposta é interessante para superar as dificuldades dos profissionais negros se estabelecerem em um mercado tradicionalmente elitista e branco. “Nacionalmente, o que se verifica é uma barreira para a colocação de negros, é um nicho de mercado bastante restrito, uma verdadeira casta”, diz.
Para o arquiteto urbanista Ivan Lazaro de Oliveira Rocha, especialista em Urbanismo Social e conselheiro do CAU/ES, o concurso é uma estratégia exemplar de fortalecimento para o território, sua história, seu futuro e a comunidade negra que atua nesse campo profissional.
“A viabilização deste processo traz à tona a importância da valorização do povo e da memória afro-brasileira, proporcionando que profissionais que normalmente não têm destaque no campo da arquitetura e urbanismo possam acessar oportunidades de extrema relevância coletiva”, analisa.
Periferia Viva
Ivan lembra de outra janela de oportunidades que dialoga com a temática, o programa Periferia Viva – Urbanização de Favelas, do Ministério das Cidades. “Atualmente, as inscrições estão abertas para que estados e municípios enviem propostas que visem solucionar problemas estruturais históricos das periferias do nosso país, que são majoritariamente compostas pela população negra”, lembra Ivan.
Ele lamenta, no entanto, a falta de empenho das autoridades locais para submeter projetos no escopo do programa. “Até o momento, o Espírito Santo só conseguiu acessar um projeto para a Grande Terra Vermelha”. No Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/ES), Ivan é um dos conselheiros que mantém diálogo com a Secretaria Nacional de Periferias do Ministério das Cidades.