Inclusão

Professor da Ufes lança livro sobre educação inclusiva

Douglas Ferrari, professor da Ufes, está lançando o livro “Educação das pessoas com deficiência na perspectiva crítica”

Confira nossa entrevista

É comum que, dentro da metodologia científica, existam perspectivas diferentes. No campo da educação voltada para pessoas com deficiência, as perspectivas são as mais diversas possíveis.

O livro “Educação das pessoas com deficiência na perspectiva crítica”, do professor do Centro de Educação-Ufes, Douglas Ferrari, se insere nesse debate.

Douglas, que é deficiente visual por baixa visão, começou o debate dentro da academia, e agora quer trazê-lo para a sociedade em geral, em especial as pessoas interessadas no assunto.

O livro está sendo lançado pela Encontrografia Editora, e pode ser comprado no site de vendas da editora.

1 – De onde surgiu a ideia do livro, e sobre o que ele trata?

Surgiu a partir da minha tese. Vejo que a educação para pessoas com deficiência está atrasada em termos de uma visão pedagógica, que se liberte da visão clínica, assistencialista, da redução dos conteúdos. Nesse livro, dou um passo em direção ao que penso, em propor novas pedagogias para atendimento de pessoas com deficiência na escola. Então, o livro se trata de uma visão ampla sobre essas questões.

Falo sobre fundamentos da deficiência, educação, críticas às pedagogias hegemônicas. Faço também um trabalho sobre as políticas públicas voltadas para pessoas com deficiência. Até chegar no ponto do currículo, da prática docente. São 7 capítulos, desde os fundamentos até as práticas, que precisam ser inclusivas.

2 – A academia estimula o debate sobre pessoas com deficiência?

A Ufes é um centro de introdução na área de educação de pessoas com deficiência. É uma referência importante, tem linha de pesquisa da pós-graduação, somos referência na tecnologia assistiva. Mas não são esforços integrados, que focam na produção acadêmica, mas falta a prática. Dessa forma, não tem acessibilidade plena – rampas, elevadores, questões atitudinais. Mas há um debate – não sei se chega às pessoas que são influenciadas por esses debates.

Sou um dos poucos professores com deficiência – são, ao todo, cerca de mil pessoas com deficiência nas universidades do Brasil.

3 – No livro, o capacitismo é tratado como um sistema de opressão. Pode nos explicar melhor?

Tento trazer questões que já são discutidas, com a criticidade devida. E alio a novos termos e conceitos. Penso como filho do capitalismo – é um sistema de exclusão, preconceito e discriminação.

Sobre nós, recai a questão da capacidade. Mas não considero este o melhor termo, seria “deficientismo”, que vem da Anahi Guedes, uma professora surda que transpõe esse termo para o Brasil – há tanto uma sobrevalorização quanto uma supervalorização.

Então, esse processo na educação é muito profundo.

4 – Existe muito preconceito por ser uma pessoa com deficiência na profissão de professor?

Existe. Não há uma flexibilidade – por exemplo, já tive que pedir redução de carga horário. Sempre ouvi comentários negativos. Para os alunos, não há problema nenhum. O preconceito é institucional. Num grupo de discussão sobre acessibilidade, eu não tinha acessibilidade para trabalhar.

5 – Alguma mensagem para nossos leitores?

A pessoa com deficiência é um sujeito de direito, e produtor de cultura. Não falo de emprego, mas da vida cotidiana. Ouçam as pessoas com deficiência – nós, e nossas famílias, temos voz. Pessoas com deficiência, não desistam de seus sonhos. Que possamos ter altas expectativas. No fim, nada sobre nós sem nós.

 

Feapaes-ES
A Federação das Apaes do Estado do Espírito Santo (Feapaes-ES) é uma associação civil beneficente que luta pela causa das pessoas com deficiência