Em uma manhã ensolarada, bem cedinho, enquanto organizávamos os preparativos para mais uma ação do Projeto Vitória da Restinga que realizariamos na Ilha do Boi, Vitória-ES, nos deparamos com uma cena inusitada, envolvendo abelhas-jataí, que paralisou nossos planos.
Veja o vídeo:
O escapamento do carro do Instituto Últimos Refúgios, um Suzuki Jimny de 2001, havia sido transformado em lar para uma colmeia de jataís. Aquilo era uma surpresa bem legal, mas também um dilema ambiental.
A descoberta inesperada
Ao conversarmos sobre a atividade, enquanto carregavamos o carro com os equipamentos, a amiga Iasmin Macedo percebeu vários insetos diminutos saindo voando de debaixo do carro. E afirmou “Uma colmeia de abelhas!”
Sem entender muito bem me abaixei para verificar o escapamento, fui recebido pelo enxame harmonioso das abelhinhas. Pequenas, douradas e sem ferrão, inofensivas, as jataís (Tetragonisca angustula) já haviam construído sua casa com camadas de cera, protegendo cuidadosamente sua entrada.
O carro havia ficado apenas de sexta para domingo na frente da sede do Instituto. Nem imaginávamos que algo assim pudesse acontecer em tão pouco tempo. Mas independente de qualquer coisa, lá estavam elas. Sem noção do perigo e plenas… Trabalhando incansavelmente na nova morada que haviam orgulhosamente escolhido.
Fotos no detalhe as abelhas e estrutura da colmeia | FOTOS: Leonardo Merçon
Naquele momento, percebi que nossa decisão seria crucial para o destino das pequeninas. Poderíamos ligar o carro e destruir a colmeia ou encontrar uma solução que respeitasse a vida dessas abelhas tão importantes para a biodiversidade.
Uma missão delicada
Sem pensar duas vezes, optei pelo mais difícil. Contatei o amigo Vieira Mota, meliponicultor experiente, para nos ajudar. Ele afirmou que retirar a colmeia sem destruí-la seria um desafio. E também nos tranquilizou de que as jataís têm a característica de “forrar” o interior do escapamento com cera, evitando os riscos de contaminação por resíduos do motor.
A decisão, junto com o especialista, foi que trocaremos o escapamento por uma peça nova e mantivemos o antigo intacto, como colmeia. A ideia é usar essa colmeia inusitada em atividades de educação ambiental, mostrando às crianças como as abelhas buscam refúgio em ambientes inesperados devido à falta de espaços naturais.
A importância das abelhas jataí
As jataís são fundamentais para a polinização das plantas. Elas contribuem para a produção de alimentos (atuando também nas plantações humanas) e a manutenção dos ecossistemas. O mel que produzem é valorizado não apenas por seu sabor único, mas também por suas propriedades medicinais.
Infelizmente, o uso indiscriminado de agrotóxicos e o desmatamento colocam essas abelhas em risco. Encontrá-las no escapamento do carro reforça a urgência de protegermos seus habitats naturais.
Diferença de valor e preço
Este episódio me fez refletir sobre como nossas pequenas ações podem gerar grandes impactos. Decidi transformar esse momento em uma ferramenta de sensibilização.
Mostrar às crianças a “casa” das abelhas no escapamento pode ensinar sobre respeito à vida e às escolhas que fazemos. Quanto vale preservar uma colmeia? Para nós, vale todo o esforço.
Ensinar para as crianças o valor das coisas, em uma sociedade na qual as pessoas sabem o preço de tudo e o valor de nada (frase dita pelo o escritor Oscar Wilde). Precisamos mudar isso!
O futuro das abelhas está em nossas mãos
As abelhas jataís são um símbolo da resistência da natureza frente às adversidades. Cada gesto para protegê-las contribui para a conservação da biodiversidade e para o equilíbrio dos ecossistemas.
A propósito, ainda estamos em busca de um lugar para comprar um escapamento desse modelo de carro (Suzuki Jimny 2001). Caso conheça, entre em contato com o Instituto Últimos Refúgios, ou comigo mesmo (Leonardo Merçon, que escrevo esta matéria).
Visite, comente, curta e compartilhe esta história com seus amigos. Sua interação é essencial para manter viva a nossa chama da conservação e mostrar ao mundo por que proteger nossa biodiversidade é tão importante.
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!