Ao colocar os pés na areia da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas e Refúgio de Vida Silvestre (REVIS) de Santa Cruz, em Aracruz, uma sensação me invadiu de forma silenciosa, mas profunda: eu estava diante de uma joia ainda pouco conhecida. Ao menos, eu particularmente, não fazia ideia de tamanha riqueza.
Era início da nossa visita técnica pelo Instituto Últimos Refúgios em parceria com a Prefeitura de Aracruz, e a missão era produzir imagens e conteúdos que valorizassem o Corredor de Biodiversidade de Aracruz. Mas o que encontrei ali superou minhas expectativas.
Costões rochosos, praias com lindas restingas e manguezais que brotam das rochas lateríticas formavam um cenário que parecia estar ali para contar uma história de resistência daquelas formas de vida.
Aquilo tudo me fez refletir sobre a importância da biodiversidade marinha no litoral de Aracruz-ES e a importância da existência e os esforços para gestão de duas unidades de conservação federais – a APA Costa das Algas e o Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz (REVIS), prestes a completar 15 anos de existência, responsáveis por proteger trechos da orla de Aracruz, Fundão e Serra. A APA com seu limite iniciando em Aracruz, na praia dos Quinze, região da Barra do Sahy, até Costa Bela, município da Serra. E o REVIS da praia dos Imigrantes, próximo a foz do Piraquê-Açú, até a praia do Rio Preto, na divisa do município de Aracruz com Fundão.
A natureza revela seus detalhes
Na Praia da Biologia (praias vizinhas), em frente à Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (EBMAR) e dentro do REVIS de Santa Cruz, focamos nossas buscas nas formações entre as rochas que viraram verdadeiras cápsulas de vida.
O que parecia só uma poça d’água abrigava universos em miniatura: ouriços, polvos, peixes coloridos, pequenos crustáceos e diversos outros seres fantásticos.
Espécies de cores e formatos diferentes podem ser encontrados nas poças de maré do REVIS, como o polvo-recife-brasileiro (Octopus insularis), donzela-café (Stegastes fuscus), caranguejos bala-pedra (Eriphia gonagra) e camarão-palhaço (Stenopus hispidus). | Foto: Leonardo Merçon.
A biodiversidade costeira se mostrava em toda sua força, com as restingas ainda presentes e as formações recifais, que se estendem pelo litoral, como corredores submersos de vida.
Nessas águas alimentam-se tartarugas-verdes, nadam os botos e pulsam as relações que sustentam toda essa rede marinha.
Do fundo do mar à lente da câmera
Essa expedição teve um peso simbólico especial. Há anos eu já havia registrado imagens dessas áreas muito antes de ter conhecimento de que ali estavam importantes Unidades de Conservação.
Voltar agora, dentro de um projeto estruturado, é como ver uma semente germinando. Fotografar esses ambientes é um exercício de escuta. Escuta do mar, dos animais, da comunidade local.
E foi exatamente isso que fiz enquanto cruzava os manguezais e o costão rochoso, com minha câmera sempre à mão, atento aos pequenos seres em seus espaços característicos, observando a dança das aves costeiras e a resiliência da vegetação.
Curiosidades do fundo do mar
Você já ouviu falar de rios submarinos? Pois é, uma das características marcantes do litoral protegido pela APA e REVIS são os inúmeros riachos e córregos que deságuam nas praias. Porém, nessa região estudos revelam uma curiosidade: a existência de antigos leitos de rios que, durante o recuo do nível do mar na última Era Glacial, escavaram o solo costeiro e formaram vales submersos, localizados a mais de 20 quilômetros da costa.
Hoje, esses rios esquecidos se tornaram habitats únicos, extremamente ricos em biodiversidade e essenciais para a pesca artesanal.
Além disso, a APA Costa das Algas abriga a maior diversidade de algas marinhas do Brasil, incluindo espécies calcárias de enorme importância ecológica.
Esses organismos, muitas vezes invisibilizados, formam a base da cadeia alimentar marinha e ajudam na manutenção da saúde dos recifes.
Desafios invisíveis
Nem tudo, porém, são águas calmas. Durante as caminhadas pelas praias, ficou evidente que a maior ameaça não vem do oceano, mas de nossas escolhas em terra firme.
As construções dentro da restinga, espécies exóticas, a exploração excessiva dos recursos e o lixo deixado por visitantes são alguns dos exemplos que colocam em risco esse frágil equilíbrio ecológico. Pressões externas causadas pelo desenvolvimento portuário e petrolífero no entorno, além dos invisíveis, mas persistentes impactos da poluição química provocado pela influência da lama de rejeitos das barragens de Mariana, o maior desastre ambiental de mineração do Brasil.
Contudo, há esperança. O fortalecimento das Unidades de Conservação e o envolvimento da comunidade local estão abrindo caminhos para uma convivência mais respeitosa entre gente e natureza.
A APA Costa das Algas e o REVIS de Santa Cruz são unidades de conservação federais, ambas criadas no dia 17 de junho de 2010. Hoje, são geridas pelo Núcleo de Gestão Integrada ICMBio Santa Cruz. A APA pertence ao grupo de UCs de categoria de uso sustentável, com objetivo principal de conciliar a ocupação urbana e o desenvolvimento econômico em bases sustentáveis. Já o REVIS, é uma categoria de proteção integral, onde as atividades de uso direto dos recursos naturais são mais restritas.
Quando a imagem vira instrumento de transformação
Durante a visita, nossa equipe multi institucional produziu não só imagens aéreas e registros de fauna e flora, mas também registrou o esforço coletivo por trás da iniciativa do Corredor de Biodiversidade de Aracruz.
Making of do trabalho de campo da visita técnica em Aracruz, para realização do Projeto Corredor de Biodiversidade de Aracruz. | Fotos: Raphael Gaspar, Felipe Facini e Leonardo Merçon.
Estávamos ali para mostrar que aquele território além de um grande cartão-postal capixaba — é um organismo vivo que merece ser protegido.
As fotos dessa matéria trazem, justamente, esse espírito: a beleza natural, sim, mas também a ação humana que se move para defendê-la.
Ver minha própria imagem entre pedras, lado a lado com a câmera e a vontade de mudar o mundo, me faz lembrar porque comecei esse trabalho.
Um convite à descoberta e ao orgulho
A APA Costa das Algas e o REVIS de Santa Cruz são como páginas vivas de um livro que ainda está sendo escrito. E ele precisa de leitores atentos e atuantes.
As imagens que registrei, e agora apresento para vocês, são testemunhas da biodiversidade vibrante que encontramos e que encantam moradores locais e visitantes nesse trecho do litoral capixaba.
Saiba mais sobre as espécies encontradas no esforço do Projeto Corredor de Biodiversidade de Aracruz:
https://www.inaturalist.org/projects/corredor-de-biodiversidade-de-aracruz
Mais informações sobre as UCs também nos sites:
Conhecer e valorizar esse patrimônio natural é um ato de amor pela nossa terra, nossa cultura e nosso futuro.
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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!