Belezas do ES

Um encontro com a vida marinha e a biodiversidade no coração de Aracruz

Imagens revelam a rica biodiversidade marinha de Aracruz, no ES. Conheça os detalhes do REVIS de Santa Cruz e da APA Costa das Algas.

Ao colocar os pés na areia da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas e Refúgio de Vida Silvestre (REVIS) de Santa Cruz, em Aracruz, uma sensação me invadiu de forma silenciosa, mas profunda: eu estava diante de uma joia ainda pouco conhecida. Ao menos, eu particularmente, não fazia ideia de tamanha riqueza.

Vista aérea do litoral de Aracruz-ES mostrando mosaico de ecossistemas como recifes, costões rochosos, manguezais, praia e restinga
Mosaico de paisagens naturais no litoral de Aracruz. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Era início da nossa visita técnica pelo Instituto Últimos Refúgios em parceria com a Prefeitura de Aracruz, e a missão era produzir imagens e conteúdos que valorizassem o Corredor de Biodiversidade de Aracruz. Mas o que encontrei ali superou minhas expectativas.

Pessoa observando seres marinhos em poça de maré nos costões da APA Costa das Algas
Buscando vida marinha nas poças de maré da APA Costa das Algas. | Foto: Raphael Gaspar

Costões rochosos, praias com lindas restingas e manguezais que brotam das rochas lateríticas formavam um cenário que parecia estar ali para contar uma história de resistência daquelas formas de vida. 

Aquilo tudo me fez refletir sobre a importância da biodiversidade marinha no litoral de Aracruz-ES e a importância da existência e os esforços para gestão de duas unidades de conservação federais – a APA Costa das Algas e o Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz (REVIS), prestes a completar 15 anos de existência, responsáveis por proteger trechos da orla de Aracruz, Fundão e Serra. A APA com seu limite iniciando em Aracruz, na praia dos Quinze, região da Barra do Sahy, até Costa Bela, município da Serra. E o REVIS da praia dos Imigrantes, próximo a foz do Piraquê-Açú, até a praia do Rio Preto, na divisa do município de Aracruz com Fundão.

A natureza revela seus detalhes

Na Praia da Biologia (praias vizinhas), em frente à Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (EBMAR) e dentro do REVIS de Santa Cruz, focamos nossas buscas nas formações entre as rochas que viraram verdadeiras cápsulas de vida. 

Vista de poça de maré com vida marinha em meio a costões rochosos do REVIS de Santa Cruz
Poça de maré no REVIS de Santa Cruz, rica em biodiversidade. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

O que parecia só uma poça d’água abrigava universos em miniatura: ouriços, polvos, peixes coloridos, pequenos crustáceos e diversos outros seres fantásticos.

Ouriço-do-mar-verde em poça de maré na Praia da Biologia, no REVIS de Santa Cruz
Raro ouriço-do-mar-verde encontrado no REVIS de Santa Cruz. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Espécies de cores e formatos diferentes podem ser encontrados nas poças de maré do REVIS, como o polvo-recife-brasileiro (Octopus insularis), donzela-café (Stegastes fuscus), caranguejos bala-pedra (Eriphia gonagra) e camarão-palhaço (Stenopus hispidus). | Foto: Leonardo Merçon.

A biodiversidade costeira se mostrava em toda sua força, com as restingas ainda presentes e as formações recifais, que se estendem pelo litoral, como corredores submersos de vida. 

Nessas águas alimentam-se tartarugas-verdes, nadam os botos e pulsam as relações que sustentam toda essa rede marinha.

Do fundo do mar à lente da câmera

Essa expedição teve um peso simbólico especial. Há anos eu já havia registrado imagens dessas áreas muito antes de ter conhecimento de que ali estavam importantes Unidades de Conservação. 

Borboleta pousada na vegetação de restinga em Aracruz
Borboleta registrada em restinga de Aracruz há duas décadas. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Voltar agora, dentro de um projeto estruturado, é como ver uma semente germinando. Fotografar esses ambientes é um exercício de escuta. Escuta do mar, dos animais, da comunidade local. 

E foi exatamente isso que fiz enquanto cruzava os manguezais e o costão rochoso, com minha câmera sempre à mão, atento aos pequenos seres em seus espaços característicos, observando a dança das aves costeiras e a resiliência da vegetação.

 Peixe cirurgião juvenil dentro de uma concha vazia de Tonna galea
Peixe cirurgião encontrado dentro de concha de Tonna galea. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Curiosidades do fundo do mar

Você já ouviu falar de rios submarinos? Pois é, uma das características marcantes do litoral protegido pela APA e REVIS são os inúmeros riachos e córregos que deságuam nas praias. Porém, nessa região estudos revelam uma curiosidade: a existência de antigos leitos de rios que, durante o recuo do nível do mar na última Era Glacial, escavaram o solo costeiro e formaram vales submersos, localizados a mais de 20 quilômetros da costa.

Hoje, esses rios esquecidos se tornaram habitats únicos, extremamente ricos em biodiversidade e essenciais para a pesca artesanal.

Além disso, a APA Costa das Algas abriga a maior diversidade de algas marinhas do Brasil, incluindo espécies calcárias de enorme importância ecológica. 

Esses organismos, muitas vezes invisibilizados, formam a base da cadeia alimentar marinha e ajudam na manutenção da saúde dos recifes.

Imagem aérea mostrando formações rochosas e a beleza natural do litoral de Aracruz
Vista aérea das formações rochosas do litoral protegido de Aracruz. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Desafios invisíveis

Nem tudo, porém, são águas calmas. Durante as caminhadas pelas praias, ficou evidente que a maior ameaça não vem do oceano, mas de nossas escolhas em terra firme. 

As construções dentro da restinga, espécies exóticas, a exploração excessiva dos recursos e o lixo deixado por visitantes são alguns dos exemplos que colocam em risco esse frágil equilíbrio ecológico. Pressões externas causadas pelo desenvolvimento portuário e petrolífero no entorno, além dos invisíveis, mas persistentes impactos da poluição química provocado pela influência da lama de rejeitos das barragens de Mariana, o maior desastre ambiental de mineração do Brasil.

Contudo, há esperança. O fortalecimento das Unidades de Conservação e o envolvimento da comunidade local estão abrindo caminhos para uma convivência mais respeitosa entre gente e natureza. 

A APA Costa das Algas e o REVIS de Santa Cruz são unidades de conservação federais, ambas criadas no dia 17 de junho de 2010. Hoje, são geridas pelo Núcleo de Gestão Integrada ICMBio Santa Cruz. A APA pertence ao grupo de UCs de categoria de uso sustentável, com objetivo principal de conciliar a ocupação urbana e o desenvolvimento econômico em bases sustentáveis. Já o REVIS, é uma categoria de proteção integral, onde as atividades de uso direto dos recursos naturais são mais restritas.

Mapa mostrando localização das UCs no litoral de Aracruz, Fundão e Serra
Mapa das Unidades de Conservação do litoral capixaba. | Foto: Reprodução

Quando a imagem vira instrumento de transformação

Durante a visita, nossa equipe multi institucional produziu não só imagens aéreas e registros de fauna e flora, mas também registrou o esforço coletivo por trás da iniciativa do Corredor de Biodiversidade de Aracruz. 

Equipe do projeto explorando costões rochosos em busca de fauna e flora
Equipe técnica em campo na busca por biodiversidade nos costões. | Foto: Raphael Gaspar
Making of do trabalho de campo da visita técnica em Aracruz, para realização do Projeto Corredor de Biodiversidade de Aracruz. | Fotos: Raphael Gaspar, Felipe Facini e Leonardo Merçon.

Estávamos ali para mostrar que aquele território além de um grande cartão-postal capixaba — é um organismo vivo que merece ser protegido.

As fotos dessa matéria trazem, justamente, esse espírito: a beleza natural, sim, mas também a ação humana que se move para defendê-la. 

Ver minha própria imagem entre pedras, lado a lado com a câmera e a vontade de mudar o mundo, me faz lembrar porque comecei esse trabalho.

Um convite à descoberta e ao orgulho

A APA Costa das Algas e o REVIS de Santa Cruz são como páginas vivas de um livro que ainda está sendo escrito. E ele precisa de leitores atentos e atuantes. 

Concha vazia de caramujo Tonna galea em poça de maré
Concha vazia de Tonna galea em ambiente marinho. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

As imagens que registrei, e agora apresento para vocês, são testemunhas da biodiversidade vibrante que encontramos e que encantam moradores locais e visitantes nesse trecho do litoral capixaba.

Saiba mais sobre as espécies encontradas no esforço do Projeto Corredor de Biodiversidade de Aracruz: 

https://www.inaturalist.org/projects/corredor-de-biodiversidade-de-aracruz

Mais informações sobre as UCs também nos sites:

https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/marinho/lista-de-ucs/apa-costa-das-algas

https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/marinho/lista-de-ucs/revis-de-santa-cruz

Conhecer e valorizar esse patrimônio natural é um ato de amor pela nossa terra, nossa cultura e nosso futuro.

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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!

Leonardo Merçon

Fotógrafo de Natureza, Cinegrafista e Produtor Cultural

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.