Um alerta entre ondas e plásticos
Caminhar pelas praias de Vitória sempre foi uma experiência singular para mim. Como fotógrafo de natureza, meu olhar sempre busca os detalhes que contam histórias, revelam segredos e mostram a interação entre os elementos naturais e a presença humana. No entanto, junto às conchas, encontro algo que nunca deveria estar ali: plásticos, guimbas de cigarro, sacolas, tampinhas e restos de embalagens.
Esse lixo, descartado de forma irresponsável nos rios e nas praias, viaja com as marés e se acumula nos cantos que deveriam ser paradisíacos. A questão é que ele não some. Ele se torna parte do ciclo da vida marinha, causando danos irreversíveis aos animais que confundem esses resíduos com alimento.
A tragédia silenciosa das tartarugas
Foi no IPRAM, centro de reabilitação da fauna marinha, que uma imagem marcou minha memória e acabou se tornando uma das fotografias impactantes do livro Baía das Tartarugas, que lancei em 2024. O crânio de uma tartaruga-cabeçuda, posicionado em meio ao lixo retirado de seu estômago, resume de forma cruel e objetiva a realidade enfrentada por esses animais.
A tartaruga-cabeçuda, espécie que desova nas praias do Espírito Santo, está entre as mais afetadas pelo lixo marinho. Redes de pesca abandonadas, sacolas plásticas e restos de embalagens são confundidos com seu alimento natural. Quando ingeridos, bloqueiam seu sistema digestivo e levam o animal à morte.
Resíduos diversos encontrados nas praias de Vitória, incluindo plásticos, sacolas e tampinhas, que poluem o ambiente costeiro | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Vitória também abriga um número expressivo de tartarugas-verdes, que frequentemente são vistas nadando próximas à costa. São seres incríveis, que vivem por décadas e atravessam oceanos, mas que estão vulneráveis à irresponsabilidade humana.
Ecofrade: um projeto que faz a diferença
O problema do lixo no mar é global, mas a solução pode começar com pequenas ações locais. Foi com esse pensamento que criamos o Projeto Ecofrade, uma parceria entre o Instituto Últimos Refúgios, a Associação de Moradores da Ilha do Frade (SAMIFRA), a Vale e a Amariv, associação de catadores de materiais recicláveis da Ilha de Vitória.
Desde 2021, o projeto já registrou mais de 100 mil kg de resíduos destinados à reciclagem e buscou estruturar a coleta seletiva na Ilha do Frade, garantindo que os materiais sejam descartados corretamente e convertidos em renda para os catadores. Mas sabíamos que apenas disponibilizar lixeiras não seria suficiente. É preciso sensibilizar as pessoas, mostrar os impactos do lixo no mar e envolver a comunidade na solução.
ECOLÉ: uma mensagem direta e bem-humorada
Foi assim que nasceu a campanha “Ecolé: feito por você!”, uma forma divertida de lembrar que o lixo que é jogado nos rios e nas praias, pode acabar voltando para nós mesmos.
A campanha acontece de forma inusitada: atores vestidos como vendedores ambulantes oferecem produtos absurdos – “picolés” feitos com restos de plásticos, suco de guimbas de cigarro, espetinhos de embalagens plásticas, canudos coloridos colhidos das ondas. A reação das pessoas varia entre surpresa e reflexão, exatamente como queríamos.
A iniciativa começou em 2024 e utilizamos as ações para produzir um vídeo promocional e explicativo da campanha; mais um instrumento de sensibilização pelas redes sociais. Confira aqui:
Neste ano de 2025, a mascote Atena (coruja-buraqueira) foi substituída pela personagem Olívia, a tartaruga, que simula um engasgo com lixo e chama a atenção para o problema. É uma forma leve, mas impactante, de conscientizar moradores e visitantes sobre a necessidade de preservar as praias.
Campanha Ecolé sendo realizada na Praia da Ilha do Frade, em Vitória ES; FOTO: Vitor Pinheiro
A temporada 2025 do Ecolé já iniciou as atividades, no último fim de semana e continua durante o fim de janeiro e fevereiro, aos fins de semana.
Confira o cronograma para não perder as próximas ações
- 29/01 às 9h – Guarderia e Curva da Jurema
- 1/2 às 13h – Ilha do Frade e Curva da Jurema
- 2/2 às 13h – Ilha do Frade
- 8/2 às 13h – Ilha do Frade e Guarderia
- 9/2 às 13h – Ilha do Frade e Curva da Jurema
- 15/2 às 13h – Ilha do Frade
- 16/2 às 13h – Ilha do Frade e Guarderia
O impacto do lixo no mar
Segundo dados da ONU, uma grande quantidade de lixo marinho vem de atividades terrestres e entra nos oceanos através dos rios. O plástico, material dominante entre os resíduos, pode levar séculos para se decompor e causa sérios danos à fauna marinha, e consequentemente a nós, humanos. E como ilustrado pela foto principal desta matéria, muitas tartarugas morrem ao ingerir pedaços de plástico.
O problema é real, mas a solução está ao nosso alcance. Cada um pode contribuir ao reduzir o uso de plásticos descartáveis, descartar corretamente seus resíduos e cobrar iniciativas públicas e privadas que garantam a limpeza dos oceanos.
Mas temos que lembrar sempre: “Uma cidade sustentável não é a que mais se limpa, mas a que menos se suja!”
Resíduos plásticos integrados ao ambiente costeiro e à fauna local em Vitória. | Fotos: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Uma praia limpa começa com você
A campanha ECOLÉ é um convite à reflexão e à mudança de hábitos. O lixo que deixamos na praia não desaparece – ele se torna parte de um ciclo que impacta diretamente a vida marinha e, consequentemente, a nossa própria existência.
Se cada um fizer sua parte, as praias de Vitória podem continuar sendo refúgio para tartarugas, aves, peixes e tantas outras espécies que compartilham esse espaço conosco.
Se você também acredita nisso, participe. Compartilhe essa história, leve essa mensagem adiante e ajude a transformar nossos ambientes naturais em lugares mais limpos e saudáveis para todos.
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Tartarugas nadando no mar de Vitória, uma cena de beleza e tranquilidade em um ambiente costeiro | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima!