Meio Ambiente

Queimadas recordes mobilizam escolas e conscientizam crianças sobre a preservação ambiental

O Espírito Santo registrou um aumento de 94% nos incêndios em vegetação entre 2023 e 2024, totalizando 2.331 ocorrências

Crianças e pais da escola Idade Criativa (Foto: Leiri Santana)
Crianças e pais da escola Idade Criativa (Foto: Leiri Santana)

Em 2024, o Brasil enfrentou um aumento alarmante nas áreas afetadas por queimadas. De janeiro a novembro, aproximadamente 29,7 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo, representando um crescimento de 90% em relação ao mesmo período de 2023 e configurando a maior extensão queimada nos últimos seis anos. 

No Espírito Santo, a situação também foi crítica. Nos primeiros oito meses de 2024, o estado registrou um aumento de 94% nos incêndios em vegetação em comparação ao mesmo período de 2023, totalizando 2.331 ocorrências. De acordo com informações do MapBiomas, de janeiro a maio de 2024, foram atingidos por queimadas 1.587 hectares de mata nativa. 

Durante um longo período de 2024, muitas cenas de animais queimados, fugindo do fogo e mortos no seu habit natural chocaram as pessoas, isso porque o cenário era não só assustador, mas muito próximo do cotidiano. A maioria dos estados brasileiros foi atingido por fumaças que perduraram meses.

Quem salva os biomas? Escola cria projeto para conscientizar as crianças

Diante do cenário das queimadas, a preocupação com os animais e os biomas brasileiros não atingiu somente adultos, isso também chegou nas crianças. Foi o caso dos alunos da escola Idade Criativa, em Vitória. Segundo Alessandra Salazar Paganoto, diretora da escola, a quantidade de notícias sobre o assunto impressionou os pequenos.

“A quantidade de notícias sobre queimadas, no ano passado, impressionou as crianças, que passaram a levar para as salas de aula relatos impactantes sobre o futuro delas e o meio ambiente. Mesmo tão pequenas, elas perceberam que algo errado estava acontecendo. As imagens dos incêndios na vegetação e a ação dos bombeiros despertaram a curiosidade delas”, contou Alessandra.

Com foco no desenvolvimento, aprendizado e para facilitar o assunto para as crianças, a escola criou o projeto “É para Salvar. É para Cuidar! Fauna e Flora Brasileira”, com ações para crianças de 4 meses a 6 anos, que vão acontecer durante todo o ano de 2025, voltadas para os seis biomas do país.

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O projeto, feito em parceria com biólogos e instituições ambientais do Estado, e surgiu a partir do impacto das crianças diante das notícias sobre queimadas e devastação. Ao longo do ano, os alunos aprenderão sobre os biomas brasileiros por meio de atividades interativas, incluindo encontros em locais de preservação.

A primeira ação do projeto foi um encontro que aconteceu no último sábado (29) no Projeto Caiman, uma iniciativa de pesquisa e conservação dos jacarés-de-papo-amarelo do Espírito Santo, única espécia do estado e que infelizmente está ameaçado.

“O Projeto Caiman foi feito para cuidar dessas espécias e é muito importante ter a ajuda das crianças nessa conscientização, é um dever de todos cuidar não só dos animais, mas da natureza”, disse Bárbara Nedelly Mello, bióloga e coordenadora de Educação Ambiental do Projeto Caiman.

As crianças participaram de um café da manhã, seguido de uma programação sobre a importância da conscientização de cuidar da fauna e flora brasileira com participação especial da mascote do Caiman, a Jaque, um jacaré de 3 anos resgatado pelo instituto.

Confira como foi o dia dos pequenos:

Com a Amazônia no centro das atenções, a iniciativa terá seu evento final em novembro, alinhado com a COP30, conferência do clima que acontecerá no Brasil para discutir ações contra as mudanças climáticas. Com a floresta enfrentando recordes de incêndios e destruição, o tema ganha ainda mais urgência. Ao levar essa discussão para os alunos, a ideia é incentivar a conscientização e o engajamento das novas gerações na preservação do meio ambiente.

Um futuro que depende do agora

A iniciativa não tocou apenas os pequenos, mas também suas famílias. Elma da Penha, avó de uma das alunas, contou que, após ajudar a neta em pesquisas sobre o tema, percebeu que a responsabilidade de cuidar do planeta é de todos.

“Fiquei encantada, foi uma aula o que vimos aqui! Não foi para as crianças, foi para os adultos. Temos que aprender com elas. A preocupação delas é genuína e sincera, algo que falta na gente”, desabafou.

O projeto terá seu encerramento em novembro, no mesmo período da COP30, conferência do clima que acontecerá no Brasil para discutir o futuro ambiental do planeta. Com a Amazônia em chamas e os biomas ameaçados, o evento será um marco importante, mas a verdadeira mudança começa agora — na consciência de quem está crescendo e entende que cuidar da natureza não é uma opção, mas uma urgência.

COP 30 será no Brasil

​Em novembro de 2025, Belém, capital do Pará, sediará a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Esta será a primeira vez que a Amazônia receberá o evento, destacando a importância da região nas discussões climáticas globais.

Entre os principais temas a serem debatidos estão a redução das emissões de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas, financiamento climático para países em desenvolvimento, tecnologias de energia renovável, preservação de florestas e biodiversidade, e justiça climática.

Leiri Santana, repórter do Folha Vitória
Leiri Santana

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.