Léo Merçon

Revelações do fotógrafo de natureza que completa 20 anos em busca de aventuras

Fotógrafo Léo Merçon fala sobre o início da carreira, desafios e a missão do Instituto Últimos Refúgios na conservação ambiental

Léo Merçon
Foto: Reprodução/Instagram

O fotógrafo de natureza e colunista do Folha Vitória, Leonardo Merçon, está completando 20 anos de carreira. Referência nessa área da fotografia, o profissional guarda lembranças de uma longa trajetória vivida para a preservação ambiental.

Léo também é fundador do Instituto Últimos Refúgios, instituição sem fins lucrativos cuja missão é promover a conservação da biodiversidade por meio de projetos de educação ambiental, pesquisa e documentação fotográfica.

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O Instituto Últimos Refúgios é apoiado pelo Instituto Américo Buaiz (IAB), que busca fortalecer o desenvolvimento social do Espírito Santo usando a força da comunicação em favor de entidades do terceiro setor e promovendo ações e projetos nas áreas de educação, cultura, sustentabilidade, assistência social, meio ambiente, esporte e formação de jovens.

Apaixonado pela natureza, Léo Merçon mostra suas aventuras e histórias na coluna Natureza e Cultura por meio da captura de imagens que revelam a beleza e complexidade da vida selvagem.

Com tantos anos de carreira, o fotógrafo conversou com a reportagem do Folha Vitória para contar um pouco mais sobre a sua trajetória de vida na área ambiental.

Confira a entrevista com Léo Merçon:

O que te motivou a seguir a carreira de fotógrafo de natureza? Algum momento específico marcou essa decisão?

Léo Merçon: Eu sempre fui apaixonado pela biodiversidade. Sempre fui curioso sobre as coisas do mundo natural. Meus pais me incentivaram muito! Interessante que, quando eu era criança, na escolinha, eu pulava a janela da sala para o lado do jardim e procurava bichinhos. Já fui quase reprovado duas vezes por isso, mas, atualmente, eu trabalho com isso, chega a ser engraçado. Já na época da faculdade, eu trabalhava com App Design, e, no curso, tive contato com a fotografia, tentando unir isso com a natureza. Outra coisa que eu gostava muito era a fotografia, porque eu sabia que só iria me destacar em alguma coisa se fizesse o que amava. Então eu chutei o balde do App Design e me tornei fotógrafo de natureza.

Quem foram suas maiores inspirações no início da carreira? Você teve algum mentor?

– No início da minha carreira, em 2004 mais ou menos, eu comecei a fazer uma Iniciação Científica, inclusive em uma área muito específica chamada “crítica genética”, que você estuda o trabalho de uma pessoa através do seu material. Eu estudei alguns fotógrafos de natureza, como Sebastião Salgado, Araquém Alcântara, Luciano Candisani e um biólogo chamado André Alves. Eles que me inspiravam.

Você lembra da sua primeira grande foto ou expedição que o fez pensar: “é isso que quero fazer para a vida”?

– O meu primeiro livro de fotografia foi sobre o Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari, em 2005. A gente caminhava no meio do mato para buscar informações. Na época, eu não tinha equipamentos direito, eu fotografava com o que dava, até que eu fui trabalhar nos Estados Unidos por seis meses e consegui condições para comprar uma câmera boa. Quando voltei ao Brasil, eu fui fotografar e consegui o contato de um mateiro, que sabia identificar animais pelo cheiro. Com a ajuda dele, eu encontrei um tamanduá-mirim com um filhotinho. Essa foi a minha primeira grande foto que fiz.

Qual foi o maior desafio que você enfrentou nesses 20 anos fotografando a natureza? Alguma situação de risco ou dificuldade inesperada?

Meu maior medo, no meio da mata, é de encontrar pessoas. São sempre pessoas o nosso maior perigo, que sempre estão cometendo crimes, querendo roubar os equipamentos, até para impedir de flagrar crimes ambientais. Eu já encontrei pessoas algumas vezes, mas nada aconteceu até hoje. Meu maior desafio é fotografar os crimes ambientais. Eu sofri ameaças na época das tragédias relacionadas ao Rio Doce. Também na época da duplicação da BR-101, que tentamos lutar pela coisa certa.

O Instituto Últimos Refúgios foi uma grande conquista na sua trajetória. Como surgiu essa ideia e qual tem sido o impacto do projeto?

O Últimos Refúgios começou como um projeto e depois se tornou um instituto. Ele surgiu em 2006, quando eu estava fotografando meu primeiro livro, no Parque Paulo Cesar Vinha. Enquanto eu estava lá, dentro de uma barraquinha, ficava vendo os animais de vez em quando e não tinha muitas conexões para aqueles animais irem. Foi daí que surgiu o nome do instituto, “últimos refúgios”.

Você acredita que suas fotos ajudam a transformar a forma como as pessoas enxergam a natureza? Há algum caso específico que te marcou?

– Eu acredito que sim, mas não sozinho. São várias pessoas trabalhando muito para que essa sociedade se sensibilize pela natureza. Inclusive, a minha dissertação de mestrado foi “Imagens que Mudam o Mundo”. Nela, eu cheguei à conclusão de que não são as imagens que mudam o mundo, mas as imagens inspiram as pessoas a mudar o mundo.

Leonardo Merçon ajustando sua câmera enquanto realiza fotografias externas
O fotógrafo Leonardo Merçon durante as capturas externas para o documentário Corredores. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Quando o Sebastião Salgado me convidou para fazer os registros no Instituto Terra, ele falou que tinha uma jaguatirica que existia lá quando ele era criança, mas aquela região foi desmatada, virou quase um deserto, e aquelas jaguatiricas desapareceram. Quando ele começou a fazer o trabalho de reflorestamento do Instituto Terra, ele disse que ouvia relatos de que aquela jaguatirica tinha voltado, ele falou: “Léo, eu queria que você registrasse ela para mim”. Eu fiquei três meses em busca dela, instalamos câmeras no instituto inteiro. Realmente, a jaguatirica estava lá. Eu instalei uma câmera de alta resolução para registrar essa jaguatirica. Felizmente, eu consegui fazer esse registro no meio da mata.

Qual foi o lugar mais incrível que você já fotografou? Alguma experiência inesquecível na natureza?

– Para mim, o lugar mais incrível é o Espírito Santo, que é um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Raramente eu encontrei um lugar assim. Aqui no Estado, encontramos espécies até da Amazônia, devido à manutenção da temperatura que acontece aqui.

Fotografia icônica da jaguatirica no Instituto Terra, símbolo da restauração florestal.
A famosa jaguatirica do Instituto Terra, símbolo da restauração florestal. | Foto: Leonardo Merçon

O que você espera para os próximos anos da sua carreira? Algum projeto futuro que possa compartilhar?

– Eu pretendo sempre continuar fotografando, na realidade, eu quero fotografar a natureza até não aguentar mais. Mesmo assim, acho que consigo dar um jeito. Para mim, não é um trabalho, pois amo o que faço. Já temos documentários previstos, como o da Reserva Biológica de Sooretama, enfim, muitos projetos. Mas uma coisa pela qual eu estou apaixonado é a minha reserva que estou tentando criar em Santa Teresa, onde há novas espécies na minha propriedade, para tratar com o desenvolvimento sustentável daquela comunidade e trazendo uma qualidade de vida maior. Esse é mais um propósito de vida que eu pretendo tentar.

*Texto sob a supervisão da editora Elisa Rangel


Lucas Gaviorno, estagiário do Folha Vitória
Lucas Gaviorno *

Estagiário

Estagiário do Folha Vitória, graduando em Jornalismo, pela Faesa, e em Letras, pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

Estagiário do Folha Vitória, graduando em Jornalismo, pela Faesa, e em Letras, pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)