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Nos últimos artigos abordamos a importância da gestão pública qualificada e profissional. Destacamos também a associação entre a qualidade da gestão pública e o desenvolvimento socioeconômico, cuja correlação é de 88% no Brasil. A causalidade pode muito bem se processar nos dois sentidos.

Conforme afirmou recentemente o economista Dani Rodrik, “nos primeiros anos de um processo de industrialização, os países dão grandes saltos em produtividade e crescem com a migração de seus agricultores para as cidades. Isso acontece mesmo sem investimentos significativos em capital humano e no fortalecimento das instituições” (cf. entrevista na edição 1050 da revista Exame). Atingido o status de renda média, o crescimento torna-se mais difícil e, para se ultrapassar esse ponto, são necessários investimentos em capital humano e em capacidade institucional – governança, instituições e regulação econômica.

Nesse sentido, chamou nossa atenção um interessante artigo do jornalista Luís Nassif publicado na revista Carta Capital (19/09/2013). A síntese pode ser encontrada nessa mensagem: “Está na hora de retomar os conceitos de gestão para a área da saúde”. Infelizmente os problemas na saúde pública brasileira não se limitam ao debate da falta de médicos. Quando há recursos escassos, uma qualificada e esclarecida gestão pode fazer a diferença na ponta dos serviços.

Vejamos o exemplo citado por Nassif para dois hospitais públicos de emergência de Maceió (AL), onde “doentes se acumulavam nos corredores, morrendo sem atendimento”. Faltavam leitos e o atendimento também se apresentava como um problema. O primeiro passo gerencial da mudança desse quadro buscou estabelecer um diagnóstico estatístico. Nesse mesmo diagnóstico, revelou-se que o tempo médio de permanência do paciente era de 12,5 dias por leito. No Sul, a média é de quatro dias. Baixar o número para quatro dias significava triplicar a oferta de leitos. Porém, como se poderia reduzir a permanência sem afetar o atendimento?

O diagnóstico também detectou que a burocracia hospitalar dificultava a liberação dos pacientes. Segundo Nassif, “uma infinidade de pequenos problemas que, somados, levavam a uma média absurda de tempo de internação”. Um plano gerencial de ação foi montado e em seis meses o tempo médio de internação por paciente caiu para 6,5 dias a partir da duplicação da oferta de leitos, sem outros acréscimos de investimentos e custeios.

Esse modelo de trabalho pode ser expandido pelo País? Acreditamos que a resposta é afirmativa. Devemos ainda manter o campo mental aberto ao instituto das Organizações Sociais (OS). Em tempos de “modernidade líquida”, a necessária melhoria da qualidade na saúde pública não pode se limitar ao frio cumprimento de procedimentos burocráticos.

Paulo Hartung é economista e ex-governador do Espírito Santo
Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)