Acidentes Aéreos em 2025: A Responsabilidade Individual na Segurança da Aviação

O início de 2025 foi marcado por um aumento expressivo no número de acidentes aéreos no Brasil. Foram mais de 25 acidentes aeronáuticos, sendo o mês de janeiro, por si só, o maior número para um único mês desde 2015. Esses números já colocam 2025 entre os anos mais letais para a aviação nos últimos tempos. O que trás à tona uma questão fundamental: de quem é a responsabilidade pela segurança na aviação? 

Embora o debate frequentemente se volte para regulamentações e fiscalizações governamentais, a realidade é que a segurança depende, em grande parte, das escolhas individuais de pilotos, operadores e empresas do setor.

Um dado importante é que a maioria desses acidentes envolveu aviação privada e agrícola, setores nos quais a responsabilidade individual pesa ainda mais. Ou seja, muitas dessas tragédias poderiam ter sido evitadas com decisões mais prudentes dos envolvidos na operação das aeronaves.

A segurança na aviação vai muito além do cumprimento de normas e fiscalizações. No fim das contas, ela depende das escolhas feitas por cada profissional envolvido, desde o piloto até o operador de manutenção. Muitos acidentes poderiam ser evitados se houvesse um compromisso maior com o aprimoramento contínuo, a checagem rigorosa das condições de voo e a consciência dos próprios limites. Decidir voar em condições meteorológicas adversas, ignorar sinais de fadiga ou negligenciar a manutenção preventiva não são apenas riscos, mas escolhas que colocam vidas em perigo.

Dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) indicam que, nos últimos dez anos, aproximadamente 80% dos acidentes aéreos no Brasil tiveram o fator humano como principal contribuinte. Isso inclui falhas de julgamento por parte dos pilotos, avaliações inadequadas de parâmetros operacionais e decisões precipitadas durante o voo. Esses números reforçam a importância de uma formação contínua e da autoconsciência dos profissionais da aviação para prevenir incidentes.

Um exemplo que ilustra a influência do fator humano ocorreu em 16 de janeiro de 2025, quando um helicóptero caiu em Caieiras, São Paulo. A investigação preliminar do Cenipa apontou que a aeronave colidiu com árvores e, posteriormente, com o solo durante o voo, caracterizando um caso de “Colisão com o Solo em Voo Controlado” (CFIT). Esse tipo de acidente geralmente resulta de falhas na percepção situacional ou decisões inadequadas do piloto, reforçando a necessidade de atenção e julgamento preciso durante as operações de voo.

Especialistas apontam que a formação de pilotos no Brasil nem sempre segue padrões rigorosos. Lucas Fogaça, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS, destaca que, embora as companhias aéreas exijam diplomas de nível superior, a legislação permite que pilotos operem com formação técnica básica. Essa discrepância pode resultar em profissionais menos preparados para enfrentar situações adversas, enfatizando a necessidade de um compromisso maior com o aprimoramento contínuo e treinamentos rigorosos.

A experiência e a confiança são fundamentais para um bom profissional, mas quando transformadas em excesso de autoconfiança, podem se tornar armadilhas fatais. Pequenos deslizes, como uma checagem pré-voo apressada ou a falta de atenção ao planejamento, podem resultar em tragédias irreversíveis. Na aviação, a responsabilidade individual é intransferível, e cada decisão tomada no solo ou no ar carrega consequências que vão muito além do cockpit.

O acidente ocorrido em 7 de fevereiro de 2025 ilustra bem a importância da responsabilidade individual. Um avião King Air F90 caiu na Avenida Marquês de São Vicente, em São Paulo, matando duas pessoas e ferindo seis em solo. A investigação inicial indicou uma possível falha na checagem pré-voo e um planejamento inadequado, fatores que são totalmente controláveis pelos operadores.

Outro exemplo é o incidente de 11 de fevereiro de 2025, quando um Boeing 737 MAX 8 da Gol colidiu com um veículo de manutenção no Aeroporto do Galeão. Felizmente, ninguém se feriu, mas o erro humano na coordenação entre a equipe de solo e a tripulação do avião mostra como pequenos deslizes podem gerar grandes consequências.

A aviação é segura quando todos os envolvidos assumem a responsabilidade por suas ações. Enquanto a fiscalização pode impor regras, a verdadeira segurança nasce da cultura individual de comprometimento. 

Regulamentações não impedem acidentes se as pessoas envolvidas não fizerem a sua parte. No final, a pergunta mais importante não é “o que o governo pode fazer para evitar acidentes?”, mas sim “o que eu posso fazer para garantir a segurança?”. Como Ayn Rand argumenta em A Revolta de Atlas, a dependência excessiva de regulamentações e fiscalizações externas não substitui a responsabilidade individual e o compromisso com a excelência. Na aviação, esse princípio se aplica diretamente: sem um esforço pessoal contínuo para manter os padrões de segurança, nenhuma norma será capaz de evitar tragédias.

A aviação é uma atividade que exige precisão e vigilância constante. Não é a existência de normas que garante a segurança, mas a forma como cada profissional escolhe segui-las – ou ignorá-las. No fim, é a responsabilidade individual que faz a diferença entre um voo seguro e uma tragédia evitável.

Gabriela Moraes Oliveira

Colunista

Associada do Instituto Líderes do Amanhã

Associada do Instituto Líderes do Amanhã