Em pleno 2025, famílias capixabas ainda caminham por corredores de dor e incerteza, tentando decifrar um silêncio que já dura mais de meio século.
A série de reportagens especiais “Cadê meu bebê?”, da TV Vitória/Record, escancara uma ferida aberta: bebês dados como mortos na década de 1960, no Hospital Infantil de Vitória, sem laudos, sem atestados de óbito, sem enterros. Sem respostas.
A apuração rigorosa por três anos e conduzida pelos jornalistas Thiago Brunieira, Nathalia Munhão e Mayra Bandeira revelou números estarrecedores: em um único dia, 13 bebês foram enterrados como indigentes em um cemitério da Capital.
Dados frios, mas que escondem histórias de amor interrompido, de mães que não viram os corpos, de pais que não enterraram seus filhos, de famílias que jamais encontraram paz.
A ausência de documentos oficiais e a contradição de registros – que apontam enterros como indigentes mesmo para crianças com famílias conhecidas – levantam suspeitas graves e exigem investigação profunda.
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A designação de um delegado e a promessa de instalação de uma CPI na Assembleia Legislativa são passos importantes, ainda que tardios. O Estado falhou ontem e não pode continuar falhando ao não garantir o direito dessas famílias à verdade.
O jornalismo investigativo cumpre aqui o seu papel mais nobre: dar voz aos silenciados, iluminar o que foi apagado, incomodar o poder.
Em tempos de banalização da informação e de ataques à imprensa, é preciso ressaltar o valor de um trabalho jornalístico comprometido com a memória, com a justiça e com os direitos humanos.
Não se trata apenas de olhar para o passado, mas de exigir responsabilidades no presente. O que aconteceu com esses bebês? Por que não houve comunicação formal com os familiares? Onde estão os registros médicos? Onde estão os corpos?
As instituições públicas devem, urgentemente, se posicionar. Não como gesto de boa vontade, mas como dever moral e legal. O Estado deve às famílias uma resposta – e à sociedade, a garantia de que atrocidades como essas nunca mais se repitam.
Enquanto não houver respostas, não haverá paz. E o jornalismo seguirá perguntando: Cadê meu bebê?
Leia todas as reportagens da série investigativa “Cadê meu bebê?”.