Duas vidas perdidas. Duas histórias que escancaram uma realidade cruel: a intolerância tem custado caro demais. Na última segunda-feira, dia 10, Wenderson Rodrigues de Souza, um coach e fisiculturista de 30 anos, esfaqueou e matou uma vendedora dentro de uma loja na Glória, em Vila Velha. Antes disso, entrou em várias lojas da região, exibiu a faca para clientes, e, mesmo assim, ninguém viu um sinal de alerta.
Cinco dias depois, na madrugada de sábado (15), Breno Rezende de Carvalho, um jovem de 25 anos, foi morto a facadas após uma discussão sobre uma cobrança de R$ 16 em um bar na Rua da Lama, em Vitória. A banalidade da origem do conflito só torna o desfecho ainda mais absurdo.
Diante desses casos, fica a pergunta: quando foi que perdemos a capacidade de resolver conflitos sem violência? Como chegamos a esse ponto?
Vivemos tempos em que a intolerância parece regra. No trânsito, no trabalho, nas filas, em casa, nas redes sociais, na política, principalmente com a polarização. O menor desentendimento se transforma em confronto. O menor atrito vira um campo de batalha com agressões físicas e mortes.
Nada justifica puxar uma faca e acabar com uma vida. Nada torna aceitável transformar uma discussão trivial em um crime. É preciso falar de tolerância. De respeito. De controle emocional. De humanidade. A sociedade precisa entender que divergências fazem parte da vida, que frustrações não podem ser resolvidas com violência e que conviver exige esforço, paciência e empatia.
O alerta deve soar para todos nós como indivíduos e comunidade. No caso da vendedora morta em Vila Velha, testemunhas viram o agressor antes do crime, viram a faca em suas mãos, mas minimizaram o perigo. Não podemos mais ignorar os sinais.
Também é preciso questionar a superficialidade do debate público sobre a violência. Quando casos ganham repercussão, surgem leis, projetos e propostas, como o “Botão de Pânico Carla Gobbi Fabrette”, apresentado à Câmara de Vereadores de Vila Velha após o assassinato da vendedora.
A segurança da população não pode depender apenas da comoção momentânea. A violência exige um enfrentamento contínuo, que vá além de respostas pontuais.
Resgatar o respeito pelo outro é uma necessidade urgente. Precisamos reaprender a dialogar, a conter impulsos destrutivos, a não transformar pequenos conflitos em tragédias irreversíveis.
Antes que mais vidas sejam perdidas. Antes que seja tarde demais.