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Paciente recuperada reencontra cão terapeuta que a visitou no hospital

Conheça a história emocionante de uma paciente e sua recuperação com ajuda de Mel, uma cadela terapeuta do projeto 'Doutores de Patas'. Confira o reencontro

Cleide, Mel e Neusa se reencontram 

(Thiago Soares/Folha Vitória)
Cleide, Mel e Neusa se reencontram (Thiago Soares/Folha Vitória)

Quem tem um cão para chamar de seu conhece muito bem o amor que apenas os peludos são capazes de nos dar. Não são raras as histórias de algum pai ou mãe que não quer nem ouvir falar sobre a possibilidade de adotar um animalzinho, mas que logo se apaixonam por ele quando as patinhas começam a zanzar pela casa.

Esse amor que nasce e cresce rápido faz com que os pets logo se tornem parte da família. E quando quem precisa desse amor não tem vínculo sanguíneo com os tutores dos cãezinhos? A resposta é simples: estender os laços familiares, formando novas amizades, afinal de contas, com quatro patas é possível abraçar muita gente.

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Esse é o objetivo do programa “Doutores de Patas”, que conta com cães terapeutas para alegrar a rotina de pacientes internados em três hospitais da Grande Vitória, para tornar mais leve o período difícil de uma internação, trazendo carinho e alívio para os pacientes.

Um destes doutores para lá de especiais é a shih-tzu Mel, que integra o quadro de cães terapeutas desde 2023. A cadelinha foi responsável por alegrar a estadia de Neusa Clezar em 2024. A dupla se reencontrou em janeiro deste ano e a oportunidade de matar a saudade encheu de lágrimas os olhos de dona Neusa, que se emocionou ao rever a amiguinha.

“Eu estava bem debilitada no Hospital Evangélico, na UTI. Eu tive uma pneumonia e meu coração estava muito fraco. Fiquei muito deprimida e chamaram um psicólogo. Ele conversou bastante comigo e me perguntou se eu aceitava a visita de um cãozinho e na hora eu disse sim”, contou dona Neusa.

Veja o vídeo do encontro emocionante

A identificação com a cadelinha foi imediata, como relatou. Segundo ela, ao ver Mel chegar ao hospital, seu dia já melhorou completamente. A felicidade foi tanta que uma melhora no humor já foi logo notada.

“No outro dia, quando ela chegou, de longe quando a avistei, já comecei a sorrir e a melhorar. Graças a Deus, a Mel fez parte de tudo isso. Eu já fui melhorando, consegui colocar o marca-passo, e vim embora. A Mel, realmente, foi minha enfermeira naquele dia e deu um ‘up’. O hospital foi muito humanizado em relação a isso. Para mim, ela é um ente da família, fez parte de todo esse processo e vai ser para o resto da vida”, disse dona Neusa, emocionada.

Saudade que não cabia no peito

Durante o período de internação, dona Neusa contou com o apoio da filha, a jornalista e radialista Rafaela Clezar. Ela relatou que a mãe, que é gaúcha e mora há cerca de um ano em Vila Velha, sempre teve cães e quando pôde ter contato com Mel, não pensou duas vezes.

Ela relatou que a mãe foi internada no Hospital Evangélico de Vila Velha no dia 19 de setembro, onde permaneceu até o dia 2 de outubro, e que foi na UTI por conta de uma insuficiência cardíaca. Nesse período, Neusa contraiu a pneumonia. Segundo Rafaela, Mel foi fundamental para afastar a tristeza no hospital.

“Quando a Mel chegou na UTI, minha mãe ficou muito feliz e o quadro foi melhorando. A Mel tem contato direto com os internados, isso humaniza muito”, contou Rafaela.

Dona Neusa atualmente faz fisioterapia e já caminha sozinha. Ela se recupera de três AVCs. E durante este período, a saudade de Mel apertava cada vez mais. Por conta disso, o reencontro com a cadelinha era fundamental para alegrar o coração.

“Temos uma cadelinha adotada, a Kali, e minha mãe matava a saudade com ela. Minha mãe sempre falava da Mel e matou a saudade. O reencontro foi gratificante. Minha mãe colocou marca-passo quando estava na UTI para conseguir ter uma qualidade de vida melhor e isso acaba deixando as pessoas mais emotivas também”, afirma Rafaela.

Um pouco mais sobre a estrela da festa

Mel recebeu o convite para ingressar no “Doutores de Patas” em dezembro de 2023. Naquele mês, ela e a tutora, a dona de casa Cleide Dias Monteiro começaram a fazer visitas ao Hospital Evangélico de Vila Velha.

Mel tem 7 anos e 10 meses e a velinha do oitavo aniversário será assoprada em 23 de março. De acordo com Cleide, a cadelinha foi o empurrão que faltava para que desse início a trabalhos voluntários, algo que sempre quis fazer.

“Eu tinha no meu coração o desejo de fazer algum trabalho voluntário, mas nunca imaginei que realizaria através da minha filhota”, confessou Cleide.

Mel, além de ajudar os pacientes, também aproveita bastante a visita, como conta a tutora. A shih-tzu adora humanos, então, quando está perto de um deles, curte de montão a companhia.

“Os pacientes nos recebem com muito carinho, alguns já têm seu doguinho em casa e estão sentindo falta dele, outros não têm pet, mas amam o contato com a Doutora de Patas”, contou Cleide.

O reencontro

Cleide e Neusa se tornaram amigas por intermédio das visitas de Mel. De lá para cá, as duas mantiveram contato, mesmo não sendo uma obrigatoriedade do programa.

Para a dona de casa, a amizade se tornou ainda mais especial com o reencontro emocionante e por poder ver o impacto que as visitas da cadelinha tiveram na vida da paciente.

“Confesso que chorei, foi emocionante de verdade. Enche meu coração de uma paz tão grande, uma felicidade real. Sou tão grata a Deus de ter ela na nossa vida. Mel chegou e mudou tudo para muito melhor. Eu adoro isso, de coração, de ter notícias dos pacientes. Com dona Neusa foi assim, mantenho contato com ela e a filha também. O olhar encantado dos pacientes é gratificante”, disse.

Como nasceu o projeto “Doutores de Patas”

A ideia do projeto nasceu com a assistente social Clara Maria de Souza, que viu nos próprios cãezinhos, Logan e Maria Flor, uma oportunidade de deixar o processo de internação mais leve para pacientes internados.

Ela conta que a ideia surgiu quando o cãozinho Logan, de 8 anos, passou pelo processo de adestramento. Naquela mesma época, a assistente social sofreu com uma grave depressão e encontrou no peludo um grande apoio para superar a doença.

“Quando Logan foi ser adestrado, percebemos que ele tinha uma grande habilidade para lidar com pessoas. Ele gostava muito da ‘vovó’, que era a mãe da adestradora, e passava muito tempo com ela. Depois disso, eu tive uma depressão e síndrome do pânico nesse período. Quando tive esses problemas, Logan foi muito importante para mim. Tive suporte do profissional de saúde mental, mas ele foi muito mais importante para mim. Superei muito mais rápido”, contou Clara.

Dali em diante, Clara percebeu que poderia escrever um projeto e levar a mesma afetividade para outras pessoas que estivessem passando por momentos de fragilidade. O projeto foi redigido por ela, uma psiquiatra, uma psicóloga e uma segunda assistente social.

O pontapé inicial do projeto aconteceu no Hospital Santa Rita, em Vitória, por um motivo muito importante.

“Começamos no Hospital Santa Rita, porque a vovó que o Logan começou morreu no Hospital Santa Rita. Lá foi o primeiro hospital que aceitou o projeto. Comecei lá somente com o Logan, mas com o passar do tempo outros hospitais me chamaram para implantar o projeto”.

Atendimento em quatro hospitais

Atualmente, o projeto atua no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), no Medsenior, Hospital Evangélico de Vila Velha e, por fim, no Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, em Vitória, além do Santa Rita.

O projeto conta com 14 cães que realizam 40 atendimentos mensais, que vão de crianças a idosos, inclusive pessoas com necessidades especiais, como é o caso de autistas.

“É muito emocionante e gratificante ao mesmo tempo. Às vezes, quando entro com o cachorro, vejo o Logan nos braços de um paciente, aquele que já está lá há mais tempo, me dá um nó na garganta e choro discretamente quando há uma emoção muito forte. Tem uma senhora bem idosa, que começou a sorrir sem parar. Ela olhava para ele e apertava, dizia que ele foi alegrar o dia dela. Gratidão define, amor cura”, resume Clara.