“A ausência da minha filha me machuca demais. Então quando eu olho outras meninas, me dá vontade de proteger”. A frase é de Selma dos Santos, mãe da jovem Bárbara Richardelle, morta aos 18 anos pelo ex-namorado, em Vila Velha, há exatamente um ano.
Passado esse tempo, Selma afirma que hoje sua grande preocupação é que outras mães não passem pela mesma dor que ela.
“Tento superar minha dor cuidando dos meus outros dois meninos. Mas está tão dificil, que, quando eu saio na rua, não posso ver um casal que fico imaginando: ‘será que essa menina vai ser a próxima’? E me dá vontade de intervir. Olho para elas e penso: ‘meu Deus! Espero que não seja essa’. E isso está acabando comigo”, desabafou em entrevista ao programa Fala Espírito Santo, da TV Vitória/Record, nesta terça-feira (17).
A mãe da jovem ainda fez um apelo para que as meninas ouçam mais os pais, que só querem o melhor para os filhos. “Meus filhos têm mania de dizer que a gente é vidente. Mas não é isso. É a experiência. Porque as coisas se repetem, não é um caso único. Quando a gente vê uma coisa, a gente parece que sabe o que vai acontecer, porque isso já aconteceu antes, com outras famílias. Os jovens têm mania de não ouvir os pais. Eles acham que a gente é careta. Mas a gente sabe das coisas”, ressaltou.
O crime
Bárbara Richardelle foi morta a golpes de escavadeira Christian Cunha, à época com 19 anos, em um terreno na Praia da Costa. Segundo a Polícia Civil o acusado esganou a vítima durante uma briga. Logo em seguida, ele teria desferido golpes com a escavadeira na cabeça da jovem.
Segundo a polícia, após o crime Christian pegou o carro do pai, colocou um papelão no banco de trás e levou o corpo de Bárbara até a Rodovia Darly Santos, também em Vila Velha. Em depoimento, o acusado confessou ainda que teria, logo após o crime, comprado um churrasquinho para comer no local.
Selma conta que, durante o namoro de Bárbara e Christian observava que o rapaz era muito quieto e que não aparentava ser uma pessoa violenta. “Eu tinha medo por ele ser muito calado. É aquele velho ditado: ‘cão que ladra não morde’. Eu não tinha afeição por ele. Todo mundo fala que [quem mata mulher] é violento, grita e é agressivo, mas não é sempre assim”, salientou.
Segundo a polícia, a briga que resultou no assassinato de Bárbara teria sido motivada por Christian ter divulgado imagens íntimas da jovem. Selma conta que, desde o término do namoro, o rapaz ameaçava espalhar as fotos. “Nós sabíamos dessas fotos e que ela tinha mandado para ele. Quando eles terminaram, ele começou a ameaçar expôr essas fotos. E ele acabou fazendo isso”, lamentou.
Prisão
Ao ser preso pela morte da ex-namorada, Christian ficou pouco menos de dois meses na cadeia. No dia 26 de maio do ano passado, ele deixou a prisão por decisão da juíza da 4ª Vara Criminal de Vila Velha, Paula Cheim Jorge D’Ávila Couto, que acatou o pedido de Habeas Corpus em seu favor – mesmo ele tendo admitido que cometeu o crime.
Na época, a magistrada salientou que o acusado é réu primário, sem antecedentes criminais e com residência fixa. “A juíza disse que ele não oferecia risco para a sociedade. Mas ofereceu para minha filha”, protestou Selma.
No entanto, no dia 2 de julho, Christian voltou para a cadeia, por decisão da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. O mandado de prisão foi cumprido pelo delegado Danilo Bahiense, que disse que o acusado estava sendo vigiado há dois dias, já que o Tribunal de Justiça recebeu uma informação de que ele estaria planejando fugir do Espírito Santo.
O acusado foi autuado por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e não ter dado chance de defesa para a vítima. Por causa disso, Christian pode ficar até 30 anos na prisão.
Veja abaixo a entrevista completa