Todos os dias mulheres de todo o mundo sofrem violência sexual. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, somente no ano de 2014, 47,6 mil mulheres foram estupradas no Brasil. De acordo com as estatísticas, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país. Especialistas destacaram que aqui no Espírito Santo esse número pode ser ainda maior.
“Aqui no Estado do Espírito Santo, até hoje nós já tivemos um número registrado, segundo o Sistema da Saúde, de 140 mulheres estupradas. A gente sabe que esses números são muito maiores e que apenas 10% das mulheres denunciam ou procuram algum tipo de serviço do Estado”, informou a coordenadora estadual do Nevid e promotora de justiça criminal, Cláudia dos Santos Garcia.
O problema é que muitas mulheres têm medo e vergonha de denunciar. Mas esse não foi o caso de uma cobradora de 38 anos. Ela enfrentou tudo o que passou e registrou o crime. O medo de sair de casa continua. Ela é casada, mãe e levava uma vida tranquila, até que no dia 23 de dezembro de 2015, ao sair para trabalhar, ainda na rua onde mora, em Cariacica, um homem se aproximou.
“Ele me perguntou se eu passava sempre ali naquele horário. Eu falei que não, que meu marido me levava, mas naquele dia não tinha como me levar. Foi aí que ele disse que era um assalto. Eu fui entregar as coisas para ele, mas ele disse que não queria só aquilo, mas que ele queria transar comigo”, contou a vítima.
A cobradora ficou cerca de uma hora nas mãos do bandido, que com uma faca de açougueiro a ameaçava o tempo todo. “Eu tentei me esquivar, mas ele me puxava o tempo inteiro pelo braço. Eu falei que ele não precisava disso e que poderia levar as coisas. Ele me mandou calar a boca e disse que se eu falasse mais alguma coisa ele iria me furar toda”, relatou a mulher.
“Eu demorei muito tempo para ter alguma coisa com o meu marido. Foi muito difícil”, disse
Além do abuso sexual, a cobradora foi assaltada. Desesperada, ela conseguiu pedir ajuda. Recebeu o apoio da família, mas as cicatrizes feitas naquela madrugada, não foram apenas físicas. “A sensação é de que eu o vejo o tempo inteiro. É dentro do ônibus, quando um passageiro passa, e tem dias que eu escuto a voz dele me ameaçando. Eu demorei muito tempo para ter alguma coisa com o meu marido. Foi muito difícil”, disse.
Mesmo ameaçada, ela procurou uma delegacia. Foram dois meses de angústia, até que o estuprador foi preso. Só assim ela se sentiu aliviada. A polícia chegou até o criminoso após uma denúncia, feita pela própria mulher dele. “No dia que aconteceu ela estava assistindo televisão e viu a reportagem falando as características dele. Na mesma hora que ela virou e olhou para ele, ele estava com a mesma roupa e com a mesma faca”.
A vida da cobradora nunca mais foi a mesma, mas diante do trauma, da experiência vivida, ela dá um conselho para aquelas mulheres que já passaram pelo menos pavor. “Faça a denúncia, pois se não fizer isso o seu mundo desaba. Tem que denunciar e não tem que ter vergonha”, destacou a vítima.