O caso do rapaz morto por um policial militar, no fim de semana, durante uma operação no bairro São José, na região da Grande São Pedro, em Vitória, trouxe à tona a discussão em torno da violência policial e o grau de letalidade das ações, ou seja, quando ela termina em morte, seja em confronto com criminosos ou em abordagens à população.
Atualmente, o Espírito Santo ocupa a 21ª posição no ranking nacional, no quesito “letalidade policial”. O último Anuário Brasileiro da Segurança Pública aponta que o índice no Estado é de 1,1 morte por cada grupo de 100 mil habitantes. A média nacional é de 3 mortes por grupo de 100 mil.
Outro dado do levantamento indica que, entre 2019 e 2020, das 8.276 mortes ocorridas em ações policiais no país, 74 foram no Espírito Santo.
Mortes decorrentes de intervenções de policiais militares em serviço
2019
Brasil: 3.826
Espírito santo: 35
2020
Brasil: 4.450
Espírito santo: 39
Já nos casos em que, além da abordagem policial, também acontece troca de tiros, foram registradas 149 mortes no Estado nos últimos quatro anos, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Em 2022, foram registrados mais 13 até o momento.
Mortes em confrontos policiais no espírito santo
2018 – 33
2019 – 32
2020 – 41
2021 – 43
2022 – 13
Imagens mostram momento em que rapaz é baleado
Na noite do último sábado (02), Welinton da Silva Dias, de 24 anos, morreu após ser baleado por um policial militar, em uma região conhecida como Beco da Sorte. Os disparos foram feitos pelo cabo da Polícia Militar, Sandro Frigini.
Antes, o policial chega a pedir ao rapaz para levantar as mãos. Welinton foi atingido com dois tiros no peito.
No boletim de ocorrência, o PM justificou a ação dizendo que a vítima estava armada com uma submetralhadora na bandoleira, uma espécie de correia que permite carregar a arma junto ao corpo. O cabo disse que Weliton fez um movimento que o levou a acreditar que ele atiraria.
No entanto, por meio de imagens de uma câmera de videomonitoramento, que mostram o momento exato em que o jovem é baleado, não é possível perceber o rapaz ameaçando o policial. A câmera mostra que ele estava com as mãos na cabeça no momento em que o militar atirou.
Advogado diz que imagens contradizem relato de policiais
Para o advogado criminalista Marcos Daniel, as imagens não condizem com o relato feito pelos policiais que participaram da ação.
“As imagens nos causam indignação. É uma execução sumária. Welinton levanta os braços, demonstra claramente que não está oferecendo nenhuma agressão contra os policiais e, mesmo assim, é friamente executado”, afirmou.
Nesta segunda-feira (04), o governador Renato Casagrande afirmou, em uma postagem no Twitter, que repudia todo tipo de violência. Disse ainda que confia nas forças policiais do Estado, mas garantiu que excessos não ficarão impunes.
Já o secretário estadual de Segurança Pública, coronel Márcio Celante, preferiu não comentar a atuação do cabo da PM, com base nas imagens divulgadas. O secretário garantiu seriedade na apuração do caso, mas ressaltou que nenhuma ação que termine em morte pode ser considerada bem sucedida.
“Todas as partes serão ouvidas. Os policiais foram afastados preliminarmente das atividades operacionais, a fim de responder todo o processo. Os moradores e os policiais vão ser ouvidos nesse inquérito. Também serão juntados vídeos, relatos, denúncias, boletim de ocorrência. Toda uma gama de informações estará dentro do próprio inquérito policial militar”, ressaltou Celante.
A Associação de Cabos e Soldados do Estado (ACS-ES) disse que vai prestar apoio jurídico aos dois policiais afastados e defendeu a abordagem feita. Disse ainda que o vídeo tem um corte e não mostra a ação completa.
“Não traduz toda a ação policial, em termos de abordagem, em termos do acompanhamento desse cidadão até o local onde houve o disparo”, declarou o presidente da ACS-ES, cabo Jackson Eugênio Silote.
Como reduzir o risco de morte em abordagens policiais?
Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da seccional do Espírito Santo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES), Fábio Marçal, é necessário investir em tecnologia, equipamentos e, principalmente, na valorização profissional, para tornar o trabalho da polícia mais eficaz e, por consequência, menos letal.
“A gente tem que falar sobre inteligência policial. Nós temos que investir em drones, que a Polícia Civil já tem. Mais equipamentos em que o Estado possa agir de forma cirúrgica e não ir para o enfrentamento. Aqueles tiros também poderiam ter acertado alguém que nada tinha a ver com aquela operação”, destacou.
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Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record TV