Polícia

Em grupo no WhatsApp, advogados presos no ES debocharam do MP: "Próximos alvos?"

Os advogados presos nesta sexta-feira (04) criaram um grupo no WhatsApp após a prisão de outros advogados investigados pela mesma contunda em julho de 2021

Foto: Reprodução TV Vitória

Alvos de uma operação do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), dez advogados foram presos na manhã desta sexta-feira (04). O grupo, segundo as investigações, usava os benefícios da profissão para facilitar a troca de mensagens entre criminosos de facções que estão dentro e fora dos presídios.

O MPES pediu a prisão preventiva de 11 investigados, um deles não foi localizado. O documento obtido pelo jornalismo da Rede Vitória aponta que a relação dos advogados investigados com alguns criminosos “ultrapassa o vínculo meramente profissional”.

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Por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, o Ministério Público conseguiu identificar os suspeitos e a participação deles no esquema. Segundo as investigações, os advogados tinham um grupo no WhatsApp para facilitar a troca de informações.

Veja trechos dos diálogos dos advogados no grupo do WhatsApp

Diálogos identificados pelo MPES apontam que o grupo no aplicativo de troca de mensagens foi criado após a Operação Armistício, realizada em 19 de julho, em que advogados investigados pela mesma conduta foram presos.

Em uma das mensagens enviadas no grupo “Advogados Unidos”, um dos investigados presos nesta sexta-feira chegou a questionar se os membros do grupo seriam os próximos alvos do MPES. Veja:

Foto: Reprodução/ Arquivo TJES

“Constata-se que o intuito desse grupo era facilitar a comunicação entre os advogados que visitavam internos do sistema prisional pertencentes ao mesmo grupo criminoso alvo da Operação Armistício e que também poderiam ser investigados pelo Ministério Público”, descreve o documento que determinou a prisão dos suspeitos.

De acordo com o MPES, após conversarem sobre as prisões domiciliares impostas aos advogados no âmbito da Operação Armistício, um dos presos nesta sexta-feira orientou os participantes a “não terem medo”. Um outro respondeu que o esquema poderia “acabar com a reputação profissional”. 

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De acordo com o documento, nas conversas, os advogados chegam especular a hipótese de “abrir uma boca e vender drogas”. Em um dos diálogos, um dos advogados ainda orienta os colegas a “nunca tirar print“.

Os advogados investigados vão responder por tráfico de drogas e por participarem de organização criminosa. Além da prisão preventiva, a Justiça determinou a suspensão do exercício da advocacia.

Quem são e qual o papel tinham os advogados investigados

A decisão em que determinou a prisão dos suspeitos detalha o envolvimento que cada suspeito teria. As informações foram levantadas durante a investigação do Ministério Público do Espírito Santo. Veja a seguir o papel de cada advogado apontado pelo MPES: 

MARCO AURÉLIO DE SOUZA RODRIGUES: Ele tinha, segundo o Ministério Público, atuação de destaque no setor jurídico da facção PCV. Marco teria sido recrutado para atuar na transmissão de recados no interesse do grupo criminoso, funcionando como mensageiro entre os faccionados que estavam nas unidades prisionais e em liberdade ou foragidos, viabilizando a gestão das atividades criminosas da facção, mais especificamente para o tráfico de drogas. Marco não foi localizado nesta sexta-feira e, por isso, continua solto.

DIEGO DO AMARAL LEAL: De acordo com o MPES, além de prestar serviços jurídicos, Diego repassava informações privilegiadas sobre atividades criminais do grupo criminoso, entretanto, o principal motivo que levou a sua contratação por parte dos líderes do PCV é sua disposição de introduzir recados no interesse da facção, chegando a promover atendimento na Penitenciária Federal de Porto Velho, onde se encontram reclusos as lideranças do PCV que estão no sistema penitenciário federal.

DANIEL FERREIRA DE SOUZA: Segundo o Ministério Público, sua função era transmitir os recados no interesse da organização criminosa PCV. Os investigadores chegaram a essa conclusão após analisar os dados extraídos do aparelho celular do denunciado.

MATEUS CANIZIO MARINHO DE OLIVEIRA: Ele participava, segundo o MPES, das comunicações entre os integrantes soltos e presos, auxiliando e beneficiando as atividades ilícitas do PCV.

DAVI DICKSON MEROTO LAMAS PEREIRA: De acordo com o MPES, transmitia ordens ilícitas (mensagens de conteúdo criminoso) entre os integrantes da facção PCV.

MAILA HERING: Ela foi recrutada pela facção, segundo as investigações, para a transmissão de recados no interesse da organização criminosa entre membros que se encontram presos e faccionados que permanecem em liberdade.

THATIANE DOS SANTOS SILVA: Segundo o Ministério Público, ela participava de forma ativa das comunicações entre os integrantes soltos e presos, auxiliando e beneficiando as atividades criminosas do PCV, registrando que no desempenho de funções dessa natureza, viabiliza a gestão das atividades criminosas da facção, com especial destaque para o tráfico de drogas.

MAYCON NEVES REBONATO: Aderiu ao setor jurídico do PCV valendo-se da sua posição de advogado, para atuar como mensageiro entre os membros da organização criminosa e os faccionados que permanecem em liberdade ou que estão foragidos, aponta a denúncia apresentada pelo MPES no pedido da prisão.

BÁRBARA MARCARINI VON RANDOW: De acordo com a acusação, ela teria aderido ao projeto de viabilizar a transmissão de conteúdo criminoso para alguns faccionados do PCV que estão presos nos presídios capixabas.

GUILHERME NUNES MORAES: Tinha como função, segundo o MPES, transmitir recados entre criminosos, viabilizando a gestão das atividades criminosas da facção, com especial destaque para o tráfico de drogas e emprego de armas.

ESTER MORAIS DIAS: O MPES aponta que, com base nas investigações, Ester atuaria na transmissão de recados no interesse do PCV por meio de “catuques” — bilhetes/cartas escritos geralmente a próprio punho por presos ou mesmo narrados por presos e escritos por advogados — encaminhados durante a troca de mensagens entre os advogados.

Segundo a Secretaria do Estado de Justiça, as mulheres presas foram encaminhadas ao Centro Prisional Feminino de Cariacica. Já os homens foram levados para a Penitenciária de Segurança Média 1, no Complexo de Viana, com exceção de Marco Aurélio que não foi localizado.

Outro lado

O Folha Vitória não conseguiu contato com as defesas dos advogados investigados. O espaço permanece aberto caso queiram se posicionar.

A Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES) também foi procurada, mas até a publicação não tivemos retorno. A reportagem será atualizada assim que recebermos um posicionamento.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
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Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.