Avó de criança morta pelo pai diz que neta era autista: "Muito alegre, um doce"

O corpo de Ana Victória Silva dos Santos, criança de 8 anos que morreu após ter sido espancada pelo próprio pai em Cariacica, foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) de Vitória, na manhã deste domingo (13). A avó da criança, mãe do suspeito, veio de Minas Gerais para fazer o reconhecimento da neta, com quem morava até o início deste ano.

Muito abalada, a mulher de 52 anos precisou ser medicada antes do reconhecimento. Ela afirma que a neta e o neto – irmão gêmeo de Ana – estavam há apenas três meses morando com o pai, após passarem quatro anos sob os cuidados dela em Minas Gerais.

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“O Conselho Tutelar me ligou de madrugada, só que eu estava dormindo. Aí depois ligou pela manhã. Na hora que atendi, ‘ela falou no baque’. Tava sozinha em casa”, lembra a avó, que preferiu não se identificar.

Segundo a avó, a mãe das crianças havia perdido a guarda por maus-tratos e, desde então, os dois estavam sendo criados por ela. Em janeiro deste ano, a situação mudou: o avô das crianças adoeceu e, temporariamente, os irmãos vieram para o Espírito Santo para ficarem com o pai. “Era só pra passar aquela fase do meu marido”, lamentou.

A avó falava com os netos com frequência por telefone, mesmo com a distância. Segundo ela, as ligações eram sempre alegres, e a menina nunca demonstrou estar em perigo.

Eu conversei com eles na quarta-feira. ‘Vovó, essa semana a gente vai pra piscina’, ela disse. Toda semana eu ligava. Eu nunca deixei eles com celular porque são muito novos. Mas ligava sempre. Eles diziam que iam pra piscina, pra praia. Eu tava aliviada até então.

Ana Victória era autista e, segundo a avó, recebia cuidados constantes. “Ela era muito alegre. Um doce, um doce. Eu cuidei de tudo. Cada ida ao médico. Era uma criança muito bem cuidada”, disse, aos prantos.

“Eu não acredito”, diz mãe sobre o envolvimento do filho

A mulher diz que ainda não acredita que o próprio filho possa ter cometido o crime. “Pelo filho que eu criei, não é da índole dele. Eu só acredito se ouvir da boca dele”, disse. Segundo ela, o irmão de Ana também demonstrava muito carinho pelo pai. “A vida deles era o papai. Era sempre papai. Eles davam a vida pelo papai.”

E o irmão?

O irmão gêmeo de Ana foi acolhido em uma instituição da Grande Vitória. Em depoimento ao Conselho Tutelar, o menino afirmou que também era agredido pelo pai.

A escola onde Ana e o irmão estavam matriculados em Cariacica divulgou nota lamentando profundamente o ocorrido e se solidarizando com a família.

O corpo de Ana Victória será velado em Itueta, cidade natal da família, no interior de Minas Gerais.

Suspeito do crime está preso

O pedreiro Welington Caio Silva Nogueira, de 28 anos, foi preso em flagrante pela morte da filha e autuado por homicídio qualificado com agravantes por ser o tutor da vítima.

Segundo a Polícia Militar, o suspeito confessou ter espancado a filha por dois dias consecutivos — na quinta (10) e na sexta-feira (11). Ele alegou que as agressões começaram após a criança não fazer um dever de casa e se intensificaram após ele receber um bilhete da escola com reclamações sobre o comportamento da menina. Um pedaço de cabo de vassoura teria sido usado no espancamento.

A madrasta, que estava no apartamento no momento das agressões, foi ouvida na delegacia e liberada por falta de elementos que justificassem a prisão em flagrante.

*Com informações do repórter Suellen Araújo, da TV Vitória/Record