Polícia

Bairros de Vitória tinham que pagar até R$ 500 para ter ''proteção'' em organização criminosa

A orientação faz parte de uma cartilha feita pelo Primeiro Comando de Vitória (PCV); além do valor, os integrantes da organização tinham que pagar R$ 50 como taxa de matrícula

Foto: Reprodução / TV Vitória

Bairros de Vitória tinham que pagar até R$ 500 para receber “proteção” na organização criminosa chamada de Primeiro Comando de Vitória (PCV). O dinheiro era usado como um cadastro para “fortalecer o caixa do comando e crescimento da organização”, segundo o trecho da cartilha que traz ainda código de leis, regras e procedimentos que os integrantes e comunidades deveriam seguir. 

O PCV atuava principalmente no Bairro da Penha, na Capital. A cartilha foi criada em 20 de novembro de 2018, e além do valor, eram cobradas matrículas e mensalidades de pertencimento à organização. Para se “matricular”, era preciso pagar uma taxa de R$ 50. Para “cadastrar” a comunidade, a fim de que ela recebesse a “proteção” do grupo de traficantes, o valor era de R$ 500.

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Cinco detentos são responsáveis por comandar PCV

Segundo as investigações do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado Espírito Santo (MPES), cinco detentos eram responsáveis por comandar a organização de dentro da prisão. São eles: João de Andrade, o “Joãozinho da 12”; Carlos Alberto Furtado da Silva, conhecido como “Nego Beto”; Geovani de Andrade Bento, o “Vaninho”; Giovani Otacilio de Souza , o “Bob Esponja”; e Pablo Bernardes, o “Geléia”.

Foto: reprodução Ministério Público do ES

A “cartilha”, traz 31 itens e foi revelada durante a ação do Gaeco, que deflagrou a “Operação Armistício” nesta segunda-feira (19). O documento demonstrou um nível de organização que impressionou os agentes do MP.

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A publicação aponta que o PCV tinha a pretensão de se tornar o grupo máximo em matéria de crime no Espírito Santo. “O PCV não tem guerra com nenhuma facção. O PCV é o primeiro comando de Vitória que representa o crime capixaba. Não temos nada contra, mas também não aceitaremos dentro de nossas comunidades dizeres do tipo: ‘Tudo 2, tudo 3. Somos o 1!”

E deixa claro que haveria cobranças caso não fosse obedecida. “O irmão do Comando que não respeitar aquele portador de cargo ou função dentro da organização, ou de alguma forma desrespeitar a hierarquia ou a disciplina será cobrado de acordo com o ocorrido!!!!”, ameaçava.

Transferência para presídios federais

Os cinco suspeitos de chefiar essa organização criminosa, que já estão presos, foram transferidos, ainda na manhã desta segunda-feira (19), para presídios federais. O pedido foi feito pelo Ministério Público Estadual.

Além disso, foi determinada a aplicação de Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) a esses detentos. O RDD é uma forma especial de cumprimento da pena no regime fechado, que consiste na permanência do presidiário em cela individual, com limitações ao direito de visita e do direito de saída da cela.

O Ministério Público Estadual ressaltou que a transferência foi necessária para “prevenir eventos que venham a colocar em risco a segurança pública, a integridade física e a vida da população em geral”.

Isso porque, segundo o MPES, o excesso de contato entre os detentos e alguns advogados favoreceu a prática de crimes, que eram ordenados de dentro do presídio. Eles são suspeitos de intermediar a troca de mensagens entre os presos e integrantes do PCV que estão foragidos.

De acordo com o MPES, a partir dessa comunicação feita por meio dos advogados, líderes da quadrilha, mesmo presos, mantinham o controle do tráfico de drogas e ordenavam a execução de crimes violentos, como homicídios e incêndio a ônibus.