Polícia

Conselho tutelar em Vitória registra sete casos por dia de violência contra crianças e adolescentes

Unidade localizada no Parque Moscoso diz que são registradas cerca de 200 casos, todos os meses, de violência física, psicológica, negligência, abandono e até estupros

Conselho tutelar no Parque Moscoso recebe cerca de 200 denúncias de violência contra menores todos os meses Foto: TV Vitória

Todos os dias novas denúncias de violência contra crianças e adolescentes chegam aos conselhos tutelares de todo o Espírito Santo. Somente no conselho tutelar da região do Parque Moscoso, no Centro de Vitória, informou que recebe, em média, 200 novos casos por mês. Isso significa quase sete crianças e adolescentes pedindo socorro a cada dia.

Os relatos recebidos são de violência física, psicológica, negligência, abandono e até estupros. “Esses números são alarmantes. O que acontece muito é a falta de entendimento de muitas pessoas, que acham que o Estatuto da Criança e do Adolescente é para proteger bandido, coisa que não é. O estatuto é exatamente para proteção da criança e do adolescente”, destacou o conselheiro tutelar, Washington Luís Alvarenga.

Em todo o Espirito Santo, são 90 conselhos tutelares, que trabalham em parceria com os órgãos municipais. Um trabalho baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Muitas vezes, denúncias recebidas nesses órgãos acabam virando caso de policia.

Foi o que aconteceu em maio deste ano, quando um porteiro de 38 anos foi preso, suspeito de abusar sexualmente da filha. Os abusos teriam ocorrido dos 7 aos 14 anos da vítima. A polícia só soube do caso depois que a menina decidiu contar tudo para a psicóloga do projeto social do qual ela participava.

“Esses abusos aconteceram de forma gradativa, ou seja, inicialmente o pai abusador passou a tocar as partes íntimas, acariciar o corpo da adolescente, até chegar à pratica sexual, à conjunção carnal. Então isso foi ocorrendo ao longo do tempo e ele foi ganhando confiança”, afirmou, na época, o titular da DPCA, delegado Lorenzo Pazolini, responsável pelas investigações.

Proteção

Washington Alvarenga explica que o trabalho do conselho tutelar é de proteção às crianças e adolescentes Foto: TV Vitória

Nesta sexta-feira (17), um casal de baianos esteve no conselho tutelar do Parque Moscoso, para saber sobre o paradeiro dos filhos, de 11 e 12 anos, que foram recolhidos por conselheiros. O casal conta que estava indo para São Paulo com as crianças, mas pararam na capital capixaba. 

A mulher conta que eles foram para um albergue, mas não sabiam que as crianças não poderiam ficar no local. “O povo informou para a gente e a gente procurou um abrigo. Chegamos lá e eles mesmos falaram que podia ficar criança lá, não avisou nada para a gente. Na quarta-feira, chamaram o conselho, que levou meus filhos”, lamentou a mãe.

“Já tem dois dias e nada de eles falarem onde os garotos estão. Nós estamos preocupados. Queremos saber onde eles estão”, protestou o pai dos meninos.

No entanto, o que pode parecer uma crueldade, na verdade foi um recurso utilizado pelo conselho tutelar para garantir a segurança dos dois meninos. Segundo a apuração do conselho, as crianças eram vítimas de maus tratos.

“O nosso conselho se dirigiu àquele albergue e não tiramos as crianças, mas demos a elas uma proteção. Hoje elas estão acolhidas, esperando uma decisão judicial, para dar um encaminhamento final para essas crianças”, explicou Alvarenga.

O conselheiro conta que casos como esse fazem parte da rotina dos conselhos tutelares. A viagem do casal a São Paulo precisou ser interrompida, assim como a infância pura de muitas vítimas que são atendidas no local.

“Várias crianças já nos procuraram e às vezes elas chegam e pedem: ‘tio, não conta para minha mãe, não conta para o meu pai’, com medo dessa represália se refletir, após o atendimento aqui, em sua residência, na sua casa ou na escola. Nós temos aqui um número elevado de abuso sexual, abandono de incapaz. Temos várias violências que as crianças também sofrem por falta, às vezes, de uma consulta médica”, ressaltou.