O jovem Welinton da Silva Dias, de 24 anos, morto por um policial militar na noite de sábado (02), na região da Grande São Pedro, em Vitória, deixou um filho de seis anos. À reportagem da TV Vitória/Record TV, Dilcia Penha da Silva, de 61 anos, contou que durante o enterro do jovem, o filho dele fez uma pergunta que ninguém conseguiu responder.
“Ele perguntou ‘por que o papai está dormindo aí, por que ele não vai dormir na cama?'”, contou a avó da criança emocionada.
Segundo a família, durante a adolescência o rapaz teve envolvimento com o tráfico de drogas, mas há cerca de três anos decidiu largar o mundo do crime. Weliton conseguiu um emprego e, há poucos meses, tinha sido promovido no trabalho.
“Quando ele era menor, de 15 para 16 anos, ele se envolveu com coisa errada. Depois que a mulher dele engravidou, ele parou, largou para lá. Da vez que ele foi preso, ele estava com um foragido. Ele ficou sete meses preso. Depois que ele saiu, nunca mais mexeu com essas coisas”, contou a mãe.
O que diz a Corregedoria da PM
Na manhã desta segunda-feira (04), a corregedoria da Polícia Militar esteve no bairro onde o rapaz foi morto por um policial militar e conversou com a família do jovem. Os investigadores da Polícia Civil também foram a região buscar mais informações sobre o caso.
A família de Weliton afirma que o maior desejo, neste momento, é que a justiça seja feita.
A Polícia Civil disse, em nota, que o caso é investigado pelo Serviço de Investigações Especiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa e que, por enquanto, detalhes da investigação não serão divulgados.
Vídeo mostra momento em que PM atira em jovem
Imagens de uma câmera de segurança registraram o momento em que Weliton foi baleado por um policial militar durante uma ação no bairro São José, em Vitória. O caso aconteceu em uma região conhecida como Beco da Sorte.
No vídeo enviado ao jornalismo da Rede Vitória é possível ver o rapaz sozinho no local. De repente, um policial se aproxima. Weliton mostra a cintura e coloca as duas mãos na cabeça. É neste momento que o policial atira no rapaz. (Por ser uma imagem forte, o vídeo foi pausado neste instante).
Pouco tempo depois, outro militar se aproximou com um grupo de moradores. Testemunhas começaram a gritar por socorro e outro disparo foi ouvido.
Segundo moradores da região, Welinton levou dois tiros no peito. Eles afirmam ainda que os policiais não teriam permitido que a vítima fosse socorrida. Somente após a saída dos policiais, é que os próprios moradores teriam o levado para a Policlínica de São Pedro.
Revoltados com a ação policial, os moradores da região iniciaram um confronto com a polícia. Garrafas e outros objetos foram usados como arma. Os militares revidaram e efetuaram novos disparos de balas de borracha. Durante o conflito, um ônibus foi incendiado.
Um morador chegou a ser baleado na perna durante a confusão. Ele recebeu atendimento médico e já teve alta.
Boletim consta apreensão de arma com vítima
Segundo o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp), coronel Márcio Celante Weolffel, no boletim de ocorrência sobre a ação consta que o rapaz estaria em posse de uma arma.
Nas imagens, no entanto, não é possível ver nenhuma arma com a vítima. O coronel afirma que qualquer resposta só pode ser passada após a apuração. A Sesp determinou a instauração de um inquérito para apurar o caso.
PMs envolvidos na morte de jovem são afastados
Os policiais militares que participaram da ação que terminou com a morte do jovem foram afastados preventivamente e de forma cautelar das atividades operacionais. A determinação é do secretário de Segurança Pública do Espírito Santo.
Os polícias também tiveram que entregar as armas utilizadas na ação para que sejam analisadas em um inquérito policial.
“Nós determinamos ao comandante-geral da Polícia Militar, a instalação do inquérito policial militar para averiguação e investigação de todas as circunstâncias do fato ocorrido na data de ontem (sábado), o recolhimento das armas dos polícias militares para que façam parte das apurações e o afastamento preventivo cautelar dos policiais militares das atividades operacionais”, disse o coronel Celante.
Segundo o secretário, a apuração do caso deve durar 60 dias. Durante este período, os polícias vão trabalhar nos setores administrativos.
Associação dos Cabos e Soldados da PM diz que vai prestar apoio aos militares afastados
Na manhã desta segunda-feira (04), a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) disse, por meio de nota, que dará o suporte necessário aos policiais afastados.
“Sobre o caso é importante ressaltar alguns pontos: a região é conhecida por ser um local de intenso tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida; o indivíduo foi encontrado com uma metralhadora na bandoleira (equipamento para quem utiliza armas longas); diante da situação, o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade”, afirma a nota.
O presidente da associação, cabo Eugênio, declarou que, de acordo com o boletim de ocorrência, Weliton estava com uma metralhadora na bandoleira. Os disparos efetuados contra ele, segundo o cabo, foram realizados como parte da técnica de fatiamento, usada quando o militar se vê em perigo iminente.
“Na ocorrência em questão, o indivíduo fez um movimento que levou o policial a crer que o indivíduo atiraria contra o ele. Em respeito às normas vigentes, e para assegurar a sua vida, o policial militar efetuou dois disparos contra o indivíduo, conforme doutrina praticada na PMES, assim o indivíduo caiu no chão e foi possível aproximar-se dele para recolher o armamento. Por isso, considerando as circunstâncias desse caso, a ACSPMBMES dará todo o apoio necessário aos policiais militares afastados”, declarou.
*Com informações da TV Vitória/Record TV.