A Defensoria Pública do Espírito Santo encaminhou, nesta segunda-feira (04), um ofício ao Comando Geral da Polícia Militar, solicitando informações sobre a ocorrência registrada na noite do último sábado (02), que resultou na morte do jovem Welinton da Silva Dias, de 24 anos, na região da Grande São Pedro, em Vitória.
A instituição informou que deu início a um procedimento de apuração do caso, por meio das coordenações de Direitos Humanos e Penal, para adotar as medidas administrativas ou judiciais cabíveis.
Weliton morreu após ser baleado por um policial militar, durante uma operação na região conhecida como Beco da Sorte, no bairro São José. Imagens de uma câmera de segurança registraram o momento em que o rapaz foi baleado pelo militar.
No vídeo, é possível ver o rapaz sozinho no local e, de repente, um policial se aproxima. Weliton mostra a cintura e coloca as duas mãos na cabeça. Neste momento, o policial atira contra ele.
Pouco tempo depois, outro militar se aproximou com um grupo de moradores. Testemunhas começaram a gritar por socorro e outro disparo foi ouvido.
Segundo moradores da região, Welinton levou dois tiros no peito. Eles afirmam ainda que os policiais não teriam permitido que a vítima fosse socorrida. Somente após a saída dos policiais é que os próprios moradores teriam levado o rapaz para a Policlínica de São Pedro.
Revoltados com a ação policial, os moradores da região iniciaram um confronto com a polícia. Garrafas e outros objetos foram usados como arma. Os militares revidaram e efetuaram novos disparos de balas de borracha. Durante o conflito, um ônibus foi incendiado.
Um morador chegou a ser baleado na perna durante a confusão. Ele recebeu atendimento médico e já teve alta.
Wellington trabalhava como carpinteiro, era casado e deixou um filho de 6 anos. Ele tinha passagem pela polícia e chegou a ser preso por tráfico de drogas em 2018, mas estava solto e, segundo a família, trabalhando há mais de dois anos.
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Boletim consta apreensão de arma com vítima
Segundo o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp), coronel Márcio Celante Weolffel, no boletim de ocorrência sobre a ação consta que o rapaz estaria em posse de uma arma.
Nas imagens, no entanto, não é possível ver nenhuma arma com a vítima. O coronel afirma que qualquer resposta só pode ser passada após a apuração. A Sesp determinou a instauração de um inquérito para apurar o caso.
Já o comandante do 1º Batalhão da PM, tenente-coronel Leandro Menezes, disse que, à princípio, a Polícia Militar considera como verdadeira a versão apresentada pelos policiais militares, de que uma arma de fogo foi apreendida de posse da vítima. Ele explicou que o policial tem pouco tempo para avaliar se uma situação representa ou não risco para sua integridade física.
“A gente tem que analisar que tudo acontece em frações de segundos. Nós estamos aqui narrando e avaliando um fato à distância. Nós não estamos no local, que é um local de tráfico de drogas, não estamos lidando com uma pessoa com uma arma na nossa direção, não estamos lidando com alguém que já tem ligação com o crime. Então aqui não nos cabe agora fazer essa análise. O policial tem frações de segundo para decidir. E todas as consequências ele acaba tendo que responder e está respondendo. Tudo isso, dentro da legalidade, dentro do inquérito policial militar”.
PMs envolvidos na morte de jovem foram afastados
Os policiais militares que participaram da ação que terminou com a morte do jovem foram afastados preventivamente e de forma cautelar das atividades operacionais. A determinação é do secretário de Segurança Pública do Espírito Santo.
Os polícias também tiveram que entregar as armas utilizadas na ação para que sejam analisadas em um inquérito policial.
“Nós determinamos ao comandante-geral da Polícia Militar, a instalação do inquérito policial militar para averiguação e investigação de todas as circunstâncias do fato ocorrido na data de ontem (sábado), o recolhimento das armas dos polícias militares para que façam parte das apurações e o afastamento preventivo cautelar dos policiais militares das atividades operacionais”, disse o coronel Celante.
Segundo o secretário, a apuração do caso deve durar 60 dias. Durante este período, os polícias vão trabalhar nos setores administrativos.
Associação dos Cabos e Soldados da PM diz que vai prestar apoio aos militares afastados
Na manhã desta segunda-feira, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) disse, por meio de nota, que dará o suporte necessário aos policiais afastados.
“Sobre o caso é importante ressaltar alguns pontos: a região é conhecida por ser um local de intenso tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida; o indivíduo foi encontrado com uma metralhadora na bandoleira (equipamento para quem utiliza armas longas); diante da situação, o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade”, afirma a nota.
O presidente da associação, cabo Eugênio, declarou que, de acordo com o boletim de ocorrência, Weliton estava com uma metralhadora na bandoleira. Os disparos efetuados contra ele, segundo o cabo, foram realizados como parte da técnica de fatiamento, usada quando o militar se vê em perigo iminente.
“Na ocorrência em questão, o indivíduo fez um movimento que levou o policial a crer que o indivíduo atiraria contra o ele. Em respeito às normas vigentes, e para assegurar a sua vida, o policial militar efetuou dois disparos contra o indivíduo, conforme doutrina praticada na PMES, assim o indivíduo caiu no chão e foi possível aproximar-se dele para recolher o armamento. Por isso, considerando as circunstâncias desse caso, a ACSPMBMES dará todo o apoio necessário aos policiais militares afastados”, declarou.
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