Domingo (33%) e quarta-feira (25%) são os dias da semana em que mais mulheres são assassinadas no Espírito Santo, segundo apontam dados atualizados da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp).
Além dos dias escolhidos para a maioria dos crimes, os meios mais utilizados são armas de fogo, em 53% dos casos, e mulheres de cor parda compõem a maior parte do quadro de vítimas, representando 58% dos casos.
Para cada 100 mil mulheres, a taxa de mortes violentas, quando se compara a 2006, primeiro ano apontado em documento da Sesp, e 2009, por exemplo, sofreu significativa queda, saindo de 11 para 5,1 mulheres. No entanto, ao observar 2018, que chegou a 4,6 e ainda diminuiu para 4,4 no ano seguinte, em 2021 houve um aumento de casos, atingindo 5,1 a cada 100 mil.
A respeito da proporção de mulheres mortas em relação ao total de homicídios registrados no Estado, em 2023, o Estado experimenta, percentualmente, uma queda, representando 8,2% dos casos. Em 2022, a porcentagem atingiu 9,5%.
Sobre o assunto, a reportagem do Folha Vitória ouviu Gracimeri Gaviorno, especialista em Segurança Pública e delegada aposentada. Ela avaliou que desde 2022 acompanha o aumento da violência contra a mulher, com 3.930 casos no Brasil, sendo 1.410 homicídios (35%).
“Esse recorte, em anos anteriores, chegou a 33%. O Espírito Santo, tanto no ano passado quanto neste ano, está com um percentual de 13% de feminicídios. Foram 91 casos no ano passado e 31 feminicídios. Neste ano, até o fechamento de maio, foram 36 casos, sendo que 13 foram feminicídios – mas esse número pode aumentar, a depender da conclusão das investigações”, destacou.
Sobre o domingo, Gracimeri explicou que é realmente um dia com grande frequência de crimes contra a mulher ao longo dos anos.
As pesquisas indicam que é um dia mais perigoso porque, normalmente, considera-se que 90% dos agressores são pessoas com quem as vítimas têm relação afetiva, então é um dia em que eles estão em casa, não estão nos empregos e é o tempo de lazer, como o futebol e o consumo de álcool ou drogas.
“Há um tempo maior de contato com a mulher e isso deixa o dia mais perigoso. Com relação à quarta-feira, a gente vê que, comparando com anos anteriores, é um dia que se alterna com a quinta-feira. Esses indicativos precisam ser estudados ainda. E aí há uma observação que eu posso fazer: quando vamos buscar dados e estudos, temos muitos em nível Brasil, mas não pesquisas em nível estadual”, disse.
Para Gracimeri, o número de casos ocorridos por meio de arma de fogo chama atenção, mas também preocupa o índice alto de homicídios praticados por arma branca, que chega a 33% das situações.
“Outro dado interessante é que tínhamos nos anos anteriores um percentual muito grande de mulheres mortas entre 35 e 39 anos e esse número baixou; em 2021, 22% dos casos; em 2022, 17% e agora 13%. Em compensação ficou mais perigoso para mulheres entre 50 e 54 anos. Eram 3% e 2% entre 2021 e 2022 e agora passou para 13%. As mulheres nessa faixa etária, muitas inclusive vivendo um segundo relacionamento, têm ficado também expostas a relações perigosas e tóxicas”, disse.
Municípios com mais mortes violentas
Pelo segundo ano, Vila Velha lidera o número de mortes violentas contra mulheres, com a Serra em segundo lugar. “A Serra, no ano passado, não teve feminicídio e neste ano voltou a ter. Precisamos acender um alerta: no ano passado foram 17 mulheres mortas de forma violenta, na Serra, 12, com nenhum feminicídio; Cariacica foram 7 mortas”, disse.
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“O segundo lugar (Serra) teve quase o dobro de casos do terceiro (Cariacica). Existe o feminicídio, que precisamos cuidar por ser um número muito alto, mas existe um outro caminho que a mulher está trilhando que precisa de atenção do poder público. Questiono: ela está se colocando em situação de risco? Tem tido mais envolvimento com o tráfico? Que mulher é essa que está morrendo? Precisamos ter um estudo sério”, destacou.
“É preocupante não termos estimativas sobre as tentativas de feminicídio”, diz
Outra informação que a especialista em Segurança Pública apontou como relevante é a falta de conhecimento sobre quantos feminicídios tentados no Espírito Santo.
“Quantos homens tentaram matar suas companheiras ou ex e não por vontade deles elas não morreram? Que assistência elas têm? Como o Estado está tratando isso? É um problema no Espírito Santo e também no país. Precisamos avançar para entender o que aconteceu com essas sobreviventes. Os feminicídios de hoje podem ser aqueles casos tentados que não foram dados atenção na hora certa”, destacou.
Por fim, a especialista frisou que é preciso avançar mais nas políticas públicas para as mulheres, conhecer que mulheres são essas, que agressores são esses, que medidas estão sendo efetivamente tomadas e ter esclarecimento sobre os dados de saúde da mulher.
Com os levantamentos em mãos, os municípios e o Estado precisam, segundo a delegada aposentada, fornecer assistência psicológica para que a mulher vítima de violência consiga sair da situação tóxica, das relações que vão levá-las a serem vítimas fatais. “Muitas morrem na mão de companheiros porque não têm força psicológica para sair dessa relação abusiva”, finalizou.
O que diz a Sesp
A partir dos apontamentos da especialista em Segurança Pública, o Folha Vitória questionou a Sesp sobre possíveis estudos que venham sendo realizados em prol de esclarecimentos de perfis das vítimas de feminicídios e também das vítimas em potencial.
Em nota, a pasta informou que conta com um Observatório, que faz o monitoramento de todos os dados de crimes do Estado, incluindo feminicídios, homicídios de mulheres e tentativas de feminicídio.
“Ainda, dentro da Sesp, existe uma Gerência de Proteção à Mulher, que estuda e implementa diversas ações no sentido de tentativa de proteção a mulheres que passam por violência doméstica. Exemplo disso, são os programas Mulher Segura ES e o SOS Marias, desenvolvidos pela GPM, nos últimos anos, como meios para combater a violência doméstica e feminicídio.
Além disso, a Sesp administra a Casa Abrigo, ferramenta que oferece à mulher que corre risco iminente de morte, uma proteção, sem que a localização dela seja revelada, sendo que o local ainda é preparado para receber crianças, com assistente social, professores, psicólogos. Cabe destacar que o combate à violência doméstica é multisetorial, sendo a parte da Sesp e das instituições policiais realizada com afinco e todos os dias, para proteção de vidas”.