O promoter André Luiz Neves Leão Borges, indiciado por racismo após uma estudante negra não conseguir fazer a reserva de mesa na boate onde ele trabalhava, não se manifestou sobre o ocorrido. Segundo a advogada, Manoeli Braun Viola, o homem, de 32 anos, está muito abalado e não consegue se pronunciar sobre o ocorrido. Ela esclareceu que as mensagens enviadas à estudante eram textos padronizados, que são enviados igualmente para todos os clientes.
“O André não está conseguindo se manifestar, ele está abalado, muito mal realmente. Ele era promoter e o responsável por fazer as reservas da casa, então a estudante entrou em contato, via WhatsApp, e ele respondeu da forma que respondia a todos, porque eram mensagens prontas. Quando tinha mesa disponível, ele enviava uma e quando não tinha, enviava outra. Não tinha condições de ficar vendo perfil ou foto das pessoas que mandavam mensagem. Ele informou que não tinha reserva, convidou ela para ir até o estabelecimento. Ela e os convidados teriam entrada gratuita, inclusive falou que podia levar o bolo e se uma mesa estivesse vaga, poderia ocupá-la”, afirmou a advogada.
A advogada destacou ainda que o fato de outras amigas da estudante terem conseguido a reserva, se deve à rotatividade de mesas.
“Quanto ao que as outras meninas falaram, foram conversas em dias e horários diferentes. Então, dependendo do horário, poderia ter mesa ou não. Ela não foi impedida, nenhum tipo de serviço foi negado,muito pelo contrário. Ela foi convidada a comparecer. Foi uma surpresa muito grande quando ele recebeu a informação de que havia sido indiciado”, contou.
Sobre a permanência do promoter como funcionário da casa de shows, a advogada de defesa alega que ele tomou a decisão de sair do estabelecimento há um tempo para abrir um empreendimento próprio.
“A gente tem que esperar o Ministério Público se pronunciar para ver se vai dar continuidade à ação penal. Ele ainda não decidiu se quer tomar alguma providência em relação à questão cível. Só conversamos mesmo sobre essa questão criminal e agora é esperar. Ele já saiu da boate há algum tempo para montar um empreendimento próprio. O fato aconteceu em junho, a casa deu total apoio a ele e quem tomou a decisão de sair foi ele. Eu quero destacar que ele repudia qualquer ato de descriminação e em nenhum momento quis constranger a estudante”, concluiu.
O caso foi registrado na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos, e a polícia concluiu o inquérito do caso nos últimos dias. A jovem, que preferiu não se identificar, contou que tentou a reserva com duas semanas de antecedência, mas foi informada que não havia mais disponibilidade de mesas. No entanto, a conversa mudou quando uma jovem branca, amiga da estudante, tentou reservar também.
“Eu tentei a reserva em junho, que é o mês do aniversário. Fiz contato umas duas semanas antes, porque ia muita gente e quis adiantar. Porém, eles me falaram que não tinha mais vaga e pedi uma outra amiga, que é branca, para perguntar também, porque achei estranho. Quando ela entrou em contato, conseguiu de imediato. Eu fiz o teste com outras duas amigas, uma que também é negra e outra que é branca. O resultado foi o mesmo, só a branca conseguiu reservar”, contou.
O promoter vai responder pelo crime resultante de preconceito de cor e a pena é de 1 a 3 anos de prisão.
Após as repercussões, a boate na qual o promoter trabalhava, divulgou uma nota na íntegra. Confira:
A direção do Let’s Steak Beer vem por meio desta prestar os devidos esclarecimentos quanto às acusações de racismo que circularam na imprensa nos últimos dias. Em meados de setembro do corrente ano, o estabelecimento foi intimado a prestar esclarecimentos sobre uma acusação de racismo realizada por uma cliente.
Em sua narrativa a cliente informa que entrou em contato com o estabelecimento por meio do aplicativo WhatsApp e solicitou uma reserva de mesa. Cabe esclarecer que o estabelecimento disponibiliza 10 (dez) mesas para reserva de comemoração de aniversários, mas que as demais mesas podem ser ocupadas de acordo com a ordem de chegada, assim como foi informado pelo promoter André Leão, na imagem acima.
Consta da denúncia que uma amiga da cliente e a seu pedido, solicitou no dia seguinte (14/06/2018) uma reserva para a data solicitada e que a referida reserva havia sido confirmada. A solicitação realizada pela amiga da cliente denunciante se deu 24 horas após a solicitação da mesma, tempo mais que suficiente para que houvesse um cancelamento de reserva, sendo o que normalmente acontece. Cancelamentos são realizadas a todo momento e é comum que surjam vagas e cancelamentos no decorrer dos dias.
O estabelecimento repudia qualquer atitude racista e/ou discriminatória de qualquer gênero e recebe diariamente inúmeros clientes de diversas etnias, não fazendo qualquer distinção de tratamento. O Lets possui em seu quadro laboral inúmeros colaboradores negros, distribuídos em todos os setores: segurança, garçons, administrativo, gerência, entre outros.
O Lets recebe a informação do indiciamento de forma surpresa e incrédula, até porque até a presente data não recebeu qualquer intimação formal, obtendo conhecimento do referido indiciamento por meio da imprensa, o que foge aos preceitos legais. O Lets lamenta a exposição indevida e negativa da imagem do estabelecimento e do funcionário André Leão.
O Lets confia totalmente na lisura e inocência do Promoter André Leão e disponibiliza todo o seu corpo jurídico para assessorar em sua defesa, confiando sobretudo na sobriedade da justiça.