Um empresário de 39 anos foi preso em flagrante durante uma operação contra a venda de armas ilegais em Cachoeiro de Itapemirim, região Sul do Espírito Santo. Com ele foram apreendidas 48 armas de fogo e quase 7 mil munições.
De acordo com as investigações da Polícia Civil, o suspeito comprava as armas de forma legal, diretamente com o fabricante, mas as revendia para pessoas que não poderiam portar o armamento, como clientes com antecedentes criminais.
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Além disso, o homem chegou a vender uma arma para um miliciano, no estado do Rio de Janeiro.
Como funcionava o esquema
O homem adquiria as armas de forma legal, mas vendia os produtos indiscriminadamente. O suspeito era frequentemente procurado por clientes que não poderiam portar um armamento.
Para realizar a venda, o suspeito dizia conseguir um documento de porte nacional, para que o comprador pudesse portar a arma. O documento era forjado pelo próprio vendedor e vendido ao cliente por R$ 50 mil.
O esquema, inclusive, foi descoberto, porque um dos compradores contou a amigos que possuía um documento que lhe permitia portar o armamento em todo o Brasil e como havia conseguido.
Os amigos do comprador, então, entraram em contanto com a polícia para falar sobre o suposto vendedor, como explicou o delegado Guilherme Eugênio.
“Um dos compradores desse documento acabou contando a alguns colegas, que agora podia andar armado e os colegas fizeram contato com a delegacia, que por sua vez entrou encaminhou o documento ao exército, que por sua vez constatou a falsidade documento”, relatou.
Além disso, de acordo com o delegado, o empresário chegou a falsificar um segundo documento, que daria a ele o direito de importar armas.
“Paralelamente a isso, ele criou uma forma de justificar como essas armas saíam da loja. Uma loja de armas no Brasil precisa justificar cada entrada e saída. Ela tem o controle e o estoque fiscalizados pelo Exército, pela Polícia Federal e tem que mostrar a quem foi destinada cada arma que adquiriu. Ele apresentava documentos falsos sobre essas vendas”, disse.
Ainda segundo Eugênio, durante toda a investigação o suspeito tentava demonstrar boa fé aos policiais, agindo como vítima e que não sabia que os documentos haviam sido falsificados.
Venda para milicianos
A investigação apontou que a maior parte dos compradores se encontra no Espírito Santo. Mas também havia clientes de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro.
Os compradores geralmente respondiam por crimes como porte ilegal de arma ou receptação de produto roubado.
“Entre os cidadãos do Rio de Janeiro, que adquiriam essas armas, estavam predominantemente milicianos. Um desses compradores em particular chamou atenção por ter sido preso na mesma operação que gerou a prisão de um dos milicianos mais famosos do Rio de Janeiro, chamado Orlando Guricica”, disse Eugênio.
Mais de 70 contas bancárias e loja em nome de laranja
A investigação também demonstrou que o suspeito tinha 73 contas bancárias abertas e em uma delas, o empresário chegou a movimentar quase R$ 1 milhão no período de nove meses.
O número é bastante diferente do relatado por ele aos bancos, de que seus ganhos mensais eram de R$ 17 mil. Isso fez com que a própria instituição bancária acionasse o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
Além disso, a própria loja de armas estava registrada em nome de um funcionário. O estabelecimento foi registrado em nome de um jovem que realizava a limpeza da loja. À época da abertura, o rapaz era menor de 25 anos, o que configura outra ilegalidade.
“A loja foi originalmente constituída em nome de um jovem, que na época tinha bem menos do que 25 anos, e menores de 25 anos não têm o direito de possuir armas de fogo no Brasil. Por isso o exército brasileiro impôs ao empresário a transferência da titularidade da empresa”, afirmou o delegado.
O inquérito policial foi concluído nesta terça-feira (28). O suspeito responderá por comércio ilegal de armas de fogo, lavagem de dinheiro, estelionato e porte ilegal de arma de uso restrito.
De acordo com o delegado, compradores do Espírito Santo devolveram as armas à polícia e não há indícios de que teriam comprado os armamentos de má fé.