A esposa do taxista Charles Dias da Conceição, de 28 anos, que morreu após ser baleado em frente a um cerimonial em Vila Velha, está tentando recomeçar a vida.
Doze dias após a tragédia, a balconista Rosenélia Cunha Ribeiro, de 32 anos, conta que, apesar de tudo, guarda na memória os bons momentos que viveu junto com o marido. “A gente se conheceu em uma festa, eu conheci o colega dele primeiro e depois o conheci. Nós ficamos dois meses nos conhecendo, porque ele tinha terminado um noivado. Depois desses dois meses a gente começou a sair”, relembra.
Na noite do último dia 3, o marido de Rosenélia saiu para trabalhar, como fazia todos os finais de semana. Ela relata como recebeu a notícia do que aconteceu em frente ao cerimonial em Vila Velha. “No final de semana, ele ficava na rua até a manhã do outro dia, mas eu não dormia direito, ficava preocupada. Nesse dia, eu não dormi nada. Por volta das quatro horas da manhã, um amigo dele, que também é taxista, foi na minha casa e me chamou no portão. Ele me contou o que tinha acontecido e na hora eu fiquei em choque, não acreditei”, afirma.
Indignada, a esposa do taxista quer que a Justiça seja feita. “Se fosse o Charles que tivesse atirado no policial, eu tenho certeza de que ele estaria foragido ou preso. Mas, como é ao contrário, eles fazem isso e fica na mesma”, disse.
De acordo com a Polícia Civil, o caso continua sob investigação da Delegacia de Crimes Contra à Vida de Vila Velha. O delegado Ricardo Almeida tem até 30 dias para concluir o inquérito.
Entenda como tudo aconteceu
Na noite do último dia 3, o taxista estava trabalhando e parado em frente a um cerimonial no bairro Parque das Gaivotas, em Vila Velha.
Segundo testemunhas, uma segurança teria sido agredida por um homem que havia sido expulso da festa que acontecia no local. O rapaz chutou o portão e agrediu algumas pessoas. Um policial, que estava de folga, atirou para assustar o agressor.
Charles, que não tinha envolvimento com a confusão, acabou sendo atingido por um dos tiros. O taxista morreu na manhã de segunda-feira (5).
Policial segue em liberdade e trabalhando
De acordo com a Polícia Militar, o acusado de ter atirado na testa do taxista somente está afastado das atividades operacionais do batalhão. Segundo a PM, durante as investigações da corregedoria e da Polícia Civil, ele será realocado para outra atividade, mas não foi especificado o que ele vai fazer no batalhão.
A PM diz também que só irá se pronunciar após a conclusão do procedimento administrativo instaurado.
Protestos contra morte do taxista
Foto: Reprodução / Caroline Minchio
Desde o crime, três manifestações de taxistas aconteceram na Grande Vitória. Na manhã de sábado (3), taxistas interditaram todos os acessos à Terceira Ponte. Durante a manifestação, os profissionais fizeram uma oração em solidariedade à Charles.
Já na segunda-feira (5), após a notícia da morte do taxista, cerca de 100 veículos pararam novamente o tráfego na Terceira Ponte. A paralisação durou uma hora e complicou o trânsito. Algumas pessoas completaram o percurso a pé e até de skate.
Na última terça-feira (6), no enterro da vítima, uma carreata de taxistas seguiu até o cemitério onde Charles foi enterrado, em Cariacica.
Cerimonial: policial quis defender segurança
O dono do cerimonial onde aconteceu a confusão disse que o policial reagiu após suspeitar que a segurança do local tivesse sido baleada. De acordo com ele, após ouvir os barulhos no portão, provocados por chutes de um rapaz, o policial, que estava de folga, suspeitou que a segurança do local tivesse sido baleada.
“Na realidade, o que o policial interpretou naquele momento, por causa do barulho, foi que a menina havia sido baleada, já que ela estava caída com sangue no rosto. Nesse momento, o policial achou que havia uma pessoa armada do lado de fora, que estava atirando para dentro da casa noturna”, relata.
Emoção e revolta no velório
Durante o velório e o enterro, a mãe do taxista, Diomar Cassemiro, se emocionou e pediu por justiça. “O Dia das Mães vai ser horrível sem a presença dele, sem pelo menos uma ligação dele pra mim. Eu quero justiça pelo que aconteceu com ele”, disse.
Muito emocionado com a perda de Charles, o irmão mais velho do taxista, Marcelo Cassimiro, estava em frente ao cerimonial quando o crime aconteceu: “Eu estava passando no local e estava com um passageiro no meu carro. Encostei e questionei se meu irmão estaria no local. Fiquei com um pé do lado de fora e vi o rapaz saindo da boate. Nesse momento, ele desafiou o policial que estava lá dentro. Eu falei para o passageiro para irmos embora de lá, já que no fim de rock bala perdida não tem dono. Eu só não sabia que essa bala iria atingir alguém da minha família”, diz.
Mais de 20 assaltados por mês, diz sindicato
De acordo com o Sindicato dos Taxistas do Espírito Santo, mais de 20 profissionais são assaltados por mês na Grande Vitória. Segundo o presidente da entidade, Evanildo Moreira Vicente, os assaltos são muito comuns, mas nem sempre são registrados pelos profissionais.
“Os assaltos a taxistas são comuns no Estado e geralmente acontecem de 20 a 23 assaltos por mês. O taxista muitas vezes perde um celular, perde dinheiro, e não registra a ocorrência”, afirma.