Após o assassinato da bioquímica Nádia Helena Guerra, de 56 anos, e a prisão do marido dela, o sargento da reserva da Polícia Militar e ex-vereador de São Gabriel da Palha, Natalino Fernandes Botelho, de 65, acusado de cometer o crime, o filho mais novo do casal, um adolescente de 15 anos, deverá ficar com os irmãos, que moram em Vitória.
O menino chegou a ser levado pelo suspeito para a cidade de Mantena, em Minas Gerais, logo após o crime, ocorrido na noite de quarta-feira (30), na casa da família, no município do noroeste capixaba. No entanto, após a prisão de Natalino, na tarde de quinta-feira (31), em um hotel de Mantena, onde ele o filho estavam hospedados, o garoto foi levado para o conselho tutelar de São Gabriel da Palha e, em seguida, entregue aos irmãos, de 18 e 19 anos.
De acordo com parentes de Nádia, a família ainda está discutindo detalhes de como será a vida do adolescente, que é portador de síndrome de Down, de agora em diante. Uma irmã da vítima, que mora nos Estados Unidos, deverá voltar ao Brasil para ajudar a cuidar do menino, já que os irmãos são estudantes de medicina e teriam dificuldades para dar a atenção necessária ao garoto.
A família disse ainda que o adolescente era muito apegado ao pai e à mãe e ainda não soube do assassinato. “Ele é um menino muito amado por todos. Ele sempre falava que o pai e a mãe eram a vida dele e pedia para que eles nunca se separassem. Por causa disso, o pai acabava usando-o como um ‘escudo’ para qualquer problema e dominava a vida dele. Satisfazia todas as vontades do menino e, quando ele teve problemas na escola, tirou ele de lá e o manteve em casa, podando-o de ter uma vida social, em vez de buscar um tratamento para ele. Inclusive esse era um dos principais motivos das brigas do casal”, contou um familiar.
Ainda de acordo com esse parente, para evitar que o adolescente presenciasse o crime, o acusado serviu um lanche para ele, no primeiro andar da residência, subiu até o terceiro e assassinou a vítima. Em seguida, ele teria descido as escadas, pego o garoto e fugido de carro com ele até Mantena, onde os dois ficaram hospedados até o dia seguinte.
Prisão
A movimentação da polícia, durante a prisão de Natalino, na tarde de quinta-feira, foi registrada pela câmera de segurança instalada na recepção do hotel onde ele e o filho estavam hospedados, em Mantena. As imagens não mostram o suspeito sendo detido pelos PMs, mas registraram o momento em que os militares deixam o local com o adolescente, que estava junto do pai no momento da prisão.
Após ser preso, o acusado foi levado para a Delegacia de São Gabriel da Palha, onde prestou depoimento para o delegado João Seidel Júnior, responsável pela investigação do assassinato. No entanto, segundo o delegado, Natalino permaneceu calado durante a maior parte do depoimento. Além disso, ele negou a autoria do crime e não soube dizer o que estava fazendo com o filho em Minas Gerais.
O suspeito foi indiciado por homicídio e levado para a carceragem do Quartel da Polícia Militar, em Vitória, onde permanece preso. De acordo com a Polícia Militar, além da investigação conduzida pela Polícia Civil, a Corregedoria da PM vai instaurar um processo administrativo disciplinar demissionário contra o sargento da reserva.
O inquérito da PC ainda está em andamento e duas pessoas foram ouvidas na tarde desta sexta-feira pelo delegado, que ainda procura uma resposta para a motivação do crime. No entanto, segundo a família de Nádia, a vítima foi morta porque queria se separar do marido, que era ciumento e agressivo e não aceitava o divórcio. Os dois eram casados há mais de 20 anos e tinham três filhos.
“Ela disse que sairia de casa, com o filho de 15 anos, e se mudaria para Vitória, para morar com os outros dois filhos e tentar iniciar uma nova vida. Mas ele não aceitava isso e chegou a dizer que, se ela se separasse dele, iria matar ela e os próprios filhos. Todos nós acreditamos que tenha sido esse o motivo do crime”, disse um familiar.
Fiança
Um dia antes do homicídio, Natalino foi detido, acusado de agredir e ameaçar a esposa, após denúncias de vizinhos. No entanto, no dia seguinte, Nádia foi até a delegacia de São Gabriel da Palha e pagou a fiança, no valor de R$ 800, para que o marido fosse liberado.
O suspeito voltou para casa e, na noite do mesmo dia, a mulher foi assassinada a tiros. Ainda na quarta-feira, por volta das 11 horas, o sargento aposentado postou no Facebook um texto sobre a lei Maria da Penha, no qual ele diz que “caberá prisão preventiva ao agressor”, no caso de desrespeito à lei.
O corpo da vítima foi encontrado por uma funcionária dela, que informou sobre o ocorrido à polícia e a familiares. A polícia acredita que o crime tenha sido premeditado, já que, horas antes, Natalino havia abastecido o carro e sacado uma alta quantia em dinheiro no banco. A arma utilizada no homicídio ainda não foi localizada.