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"Irmãos Vera": facção cobra pedágio de comerciantes em Vitória

Os criminosos ligados ao Terceiro Comando Puro (TCP) extorquem as vítimas por serviços como gás e internet em regiões de Vitória

Foto: Reprodução/ TV Vitória
Foto: Reprodução/ TV Vitória

Promessas de proteção, ameaças e até sequestros de funcionários: criminosos da facção Terceiro Comando Puro (TCP), liderada pelos “irmãos Vera”, vêm extorquindo comerciantes de comunidades dominadas pelo tráfico em Vitória. A cobrança de pedágio, comum no estado do Rio de Janeiro, passou a ser uma realidade no Espírito Santo.

Segundo investigações da Polícia Civil, os traficantes iniciam com o domínio territorial e extorquem as vítimas cobrando por serviços públicos e privados na região dominada, como gás e internet. Diante disso, empresários e consumidores ficam reféns dos criminosos.

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“Irmãos Vera”: mensalidades cobradas de comerciantes

A reportagem especial da TV Vitória identificou que comerciantes, que se veem sem saída, pagam mensalidades a traficantes de morros de Vitória para continuar trabalhando na região.

Os criminosos entram em contato por meio de ligações ou mensagens na rede social. Eles se apresentam e enviam o recado: quem não pagar vai sofrer as consequências.

Os traficantes avisaram que a gente tinha que pagar um pedágio para continuar funcionando ali. E o recado era simples, eles iriam cortar tudo, diz uma comerciante, que prefere não ser identificada.

A prática, comum no estado do Rio de Janeiro, passa a se tornar realidade no Espírito Santo, quando o TCP decide cobrar taxas de R$ 5 mil a R$ 15 mil, por mês, de empresas fornecedoras de internet e gás.

“A gente costuma falar que conhece alguém que usa drogas, mas todo mundo usa internet. Eles partem não apenas do tráfico de drogas, mas exploram serviços de internet, gás. Eles extorquem os empresários e a população fica refém”, afirma o delegado Ricardo Almeida, chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP) e coordenador da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Dinheiro é depositado em contas de “testas de ferro

Segundo a Polícia Civil, o esquema funciona da seguinte forma: o dinheiro arrecadado com o tráfico de drogas e as extorsões aos comerciantes é depositado nas contas dos “testas de ferro”.

Os ‘testas de ferro’ são pessoas usadas para esconder a verdadeira identidade dos criminosos. Geralmente são coniventes com o crime porque ganham dinheiro para emprestar o nome.

Esses suspeitos realizam a transferência do dinheiro para “laranjas”, que são moradores das comunidades e não sabem que o nome está relacionado ao esquema. As contas são de pessoas do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

Foto: Arte/ TV Vitória

Para receber, os criminosos podem transferir para suas contas, solicitar um saque em espécie ou receber os valores em forma de produtos para o tráfico, como armas e drogas.

“Estamos falando das condutas de extorsão, organização criminosa, ameaças, crimes contra a livre concorrência. Infelizmente, a população acaba ficando coagida e percebemos que as facções ameaçam, obrigam a contratar os serviços ligados à facção”, explica o delegado Alan Moreno, coordenador do Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat).

Grupos pretendem mais dinheiro e poder

Engana-se quem pensa que o negócio fala sobre o fortalecimento ao tráfico de drogas. As investigações apontam que tudo está relacionado à expansão territorial, onde assim como em um jogo de tabuleiro, um grupo pretende derrotar os inimigos para conquistar territórios para ter mais dinheiro e poder.

“Eles partem primeiro do domínio territorial e, a partir disso, extorquem os serviços públicos na região dominada por eles. Extorquem empresários e a população fica refém para obter os serviços públicos”, explica o delegado Ricardo Almeida.

Além disso, o delegado também afirma que os empresários que não concordam em participar da extorsão são proibidos de fornecer os serviços no local. “Tinham, por exemplo, o cabeamento da empresa cortado e empresas que aceitaram a participar foram partícipes”.

Os valores arrecadados de maneira ilegal com o esquema de lavagem de dinheiro, segundo a polícia, é reinvestido no tráfico de drogas. “O dinheiro é destinado ao banco paralelo na Maré e lá dão liquidez. Ali os traficantes locais poderiam acessar o dinheiro em espécie”.

Polícia pede que população denuncie ameaças

Diante das coações e ameaças sofridas pela população, a Polícia Civil pede que a população denuncie por meio do número do Disque-Denúncia 181.

“A gente pede que a população ajude a polícia, ligue para o Disque Denúncia 181 e informe o telefone das pessoas que estão ameaçando, para que a gente possa encerrar essa conduta criminosa”, disse Alan Moreno.

*Com informações da repórter Nathália Munhão, da TV Vitória/Record