Polícia

Justiça nega recurso de envolvidos na morte de Milena Gottardi e caso irá a juri popular

As defesas dos acusados podem recorrer aos tribunais superiores, mas isso não impede que o juiz marque uma data para o julgamento

Foto: Divulgação

A Justiça negou o recurso dos acusados de envolvimento na morte da médica Milena Gottardi e o julgamento do caso irá a juri popular. A decisão foi tomada pelo desembargador Adalto Dias Tristão, da 2° Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, nesta quarta-feira (17). As defesas dos acusados podem recorrer aos tribunais superiores, mas isso não impede que o juiz marque uma data para o julgamento.

O assistente de acusação do Ministério Público Estadual, Renan Sales Vanderlei, sustentou que o conjunto probatório juntado ao processo demonstrou indícios suficientes de materialidade e autoria no crime efetuado.

Em contrapartida, a defesa do réu Hilário Frasson defendeu a ilegalidade da intercepção telefônica realizada, que, segundo o advogado, foi inserida sem ordem judicial. “Não podemos ultrapassar limites legais estabelecidos. Hilário teve seu telefone grampeado após sair da delegacia, onde prestou depoimento, sem ordem judicial. Não foi cumprido o protocolo”, alegou a defesa de Hilário.

O advogado ainda defendeu que foram utilizadas como provas, imagens “printadas” do celular da vítima, o que ocorreu de maneira ilegal. Por fim, questionou a utilização do depoimento de Dionatas Alves Vieira, também acusado de participação no crime, afirmando que o mesmo não é uma pessoa confiável.

A defesa do réu Esperidião Frasson também apresentou argumentos, defendendo a incompetência do Tribunal do Júri para o julgamento de seu cliente.

Após as sustentações, o desembargador Adalto Dias Tristão, que é o relator da ação criminal, apresentou seu voto, de maneira detalhada, analisando primeiramente as preliminares expostas pela defesa dos réus no pedido de recurso, sendo elas rejeitadas pelo colegiado julgador. Quanto ao mérito do recurso, o magistrado negou provimento, sendo acompanhado, por unanimidade, pelos demais desembargadores componentes da Câmara Criminal, o desembargador Fernando Estevam Bravin Ruy, sorteado para participar do julgamento e o desembargador substituto Ezequiel Turíbio, que está em substituição ao desembargador Sérgio Bizzzotto Pessoa de Mendonça.

Na decisão, o relator observou que existem indícios suficientes de participação dos requeridos na morte de Milena Gottardi. O magistrado citou trechos dos depoimentos dos acusados. “Hilário foi quem disse para o interrogando anunciar o assalto; que Milena, então, entregou o celular para o interrogando e, neste momento, o interrogando já não viu mais nada e já deu o primeiro disparo; que deu mais de um disparo (…); pegou o celular da vítima, colocou no bolso, subiu na moto que estava escondida e foi embora; que Valcir e Hermenegildo, vulgo Judinho, mandaram que o interrogando jogasse o telefone da vítima fora e assim foi feito”, narrou o relator.

O Desembargador Adalto Dias Tristão terminou seu voto determinando prioridade absoluta para o julgamento dos réus pelo Tribunal do Júri, tendo em vista a ampla repercussão do caso.

Relembre o caso

Na época, o crime ganhou grande repercussão no Espírito Santo. Milena atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas. Quando saía do plantão, acompanhada de uma amiga, na tarde do dia 14 de setembro de 2017, a médica foi abordada por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.

Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou três vezes em direção à pediatra, atingindo a mesma na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital particular, mas morreu no dia seguinte.

A ação da Polícia Civil (PC) foi rápida. Dois dias após o crime, a primeira dupla de suspeitos de envolvimento no caso foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato. A prisão aconteceu enquanto o corpo de Milena era sepultado em Fundão, cidade natal da médica e onde reside grande parte da família.

A prisão da dupla serviu como o início do desvendamento do crime, o que provou que a pediatra não havia sido vítima de latrocínio, mas sim, um crime encomendado. O que faltava, era chegar aos mentores do assassinato.

Em busca das provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu na Justiça que as investigações do caso corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré. A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era impedir que ele tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.

Hilário foi preso uma semana após o assassinato da médica, no dia 21 de setembro. A prisão aconteceu na Chefatura de Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha. É nesse local onde ficam os policiais civis que são presos.

No mesmo dia, poucas horas antes, o pai de Hilário também foi preso. Esperidião Carlos Frasson foi apontado como o outro mandante do crime e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato. Outro intermediador apontado pela polícia foi Hermenegildo Palauro Filho, o ‘Judinho’, preso no dia 25 de setembro.

Os seis suspeitos de envolvimento no assassinato da médica foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro. De acordo com o titular da DHPM, delegado Janderson Lube, eles podem pegar até 30 anos de prisão, em caso de condenação.

A conclusão da polícia foi de que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.

Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o “serviço” – como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil. Dionathas teria usado uma moto, roubada pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.

O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. O executor do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.

O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do assassinato começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime. Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.