Polícia

Média de homicídios de jovens no Espírito Santo é maior que a média nacional, aponta estudo

De acordo com o Atlas da Violência, a taxa de homicídios no Estado é 57,9 contra 45,8 do país

Foto: TV Vitória

A violência está cada vez mais presente na sociedade. Dados do Atlas da Violência apontam que ela foi a principal causa de mortes entre jovens no Brasil em 2019. 

No Espírito Santo, o número de homicídios de jovens para cada grupo de 100 mil habitantes ficou acima da média nacional. A taxa de homicídios no estado foi de 57,9, enquanto no Brasil, de 45,8.

O estudo foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Dos mais de 45 mil assassinatos que ocorreram em 2019, cerca de 51% das vitimas eram jovens entre 15 e 29 anos. O número representa uma média de 64 mortes por dia no país. 

“No caso específico da juventude, é importante destacar que a violência está intimamente ligada à inexistência de oportunidades para os jovens. De modo geral, a sociedade oferta aos jovens a possibilidade de acesso a bens e a consumo, mas não garante, de forma efetiva, esse acesso. Com isso, muitos jovens recorrem a formas ilícitas de ter acesso a esses bens de consumo. Isso gera disputas violentas e que, muitas vezes, provocam mortes”, ressaltou o sociólogo Carlos Lopes.

Foi a violência que tirou a vida de Leonardo Torrentes Barros, de 24 anos. De acordo com a policia, ele foi assassinado com mais de 14 tiros.

O corpo foi encontrado no alto do Morro do Cruzamento, em Vitória. O crime aconteceu em 2019.

Transformação da realidade

Na contramão dessas mortes, há quem atue para diminuir esses índices. A cantora e produtora cultural Afari, por exemplo, utiliza da arte para buscar um novo caminho. 

Ela conta que, desde criança, tenta melhorar a perspectiva de vida da família e da própria comunidade. Atualmente, ela acolhe jovens da periferia de Vila Velha.

“Eu venho não só de uma comunidade onde a criminalidade é bem hostil, mas também eu venho que uma família onde a maior parte foi envolvida com o crime organizado. Muitas pessoas desacreditaram e falaram para minha mãe várias vezes que ‘ela não vai passar dos 15’. E hoje eu estou aqui, 30 anos contrariando as estatísticas”.

“Eu digo que o hip-hop me puxou pelos cabelos, do crime organizado, e me jogou dentro da arte, para que eu pudesse entender o quão a minha vida é importante e o quanto eu poderia me destacar no mundo sendo tudo o que eu sonhei em ser e que nunca tinha tido acesso e nem oportunidade”, completou.

Já Carlos Antônio de Souza busca fazer a diferença no bairro Nova Palestina, em Vitória. A região é marcada pelo histórico de conflitos entre criminosos. 

Carlos se uniu a alguns amigos e criou um projeto social que viabiliza aulas gratuitas de futebol de salão. 

“Em 2016, dois amigos tiveram essa ideia de criar um projeto social, até mesmo para poder ajudar a formar cidadãos do nosso bairro, devido à nossa onda de violência”, contou.

O projeto já existe há quatro anos. A iniciativa virou referência para a juventude do bairro. As atividades estão suspensas, mas, segundo Carlos, em breve devem retornar. 

Afari e Carlos têm em comum a vontade de transformar a realidade das comunidades onde atuam. São nessas regiões onde os índices de criminalidade são maiores.

Maioria dos crimes tem relação com o tráfico de drogas

De acordo com o secretário de Estado de Segurança Pública, Alexandre Ramalho, a maioria dos crimes têm ligação com o tráfico de drogas.

“Dos homicídios cometidos em agosto e a análise que a gente faz ao longo do ano de 2021 é que 80% estão ligados ao tráfico de entorpecentes. E o que mais nos entristece é que numa faixa etária muito precoce, que vai de 12 a 28 anos. Então jovens estão se matando por conta do tráfico de entorpecentes, da guerra que eles travam armados”, afirmou.

Diante desse cenário, a questão é: como desfazer o problema estrutural da violência que leva a morte de tantos jovens no Espírito Santo?

“Sobre a ótica da segurança pública, é preciso desconstruir isso na mente desses jovens. É preciso trabalhar muito com a educação, curso de qualificação, a presença da família, religião. Enfim, ações que vão muito além do que nós temos feito como polícia”, opinou o secretário.

*Com informações da repórter Ana Carolina Monteiro, da TV Vitória/Record TV.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros

Produtor web

Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.

Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.