Os golpes virtuais estão se tornando cada vez mais comuns, principalmente após o início da pandemia. Nem mesmo os profissionais da Saúde estão livres dos golpistas. Médicas capixabas estão sendo vítimas de um golpe em um aplicativo de bate papo. O golpista consegue ter acesso a lista de contatos da vítima e manda mensagem pedindo uma transferência bancária. Em um dos casos, a família de uma dermatologista chegou a passar mais R$ 6 mil.
Um dos golpes aconteceu da seguinte maneira: uma foto da médica foi enviada e, em seguida, o contato recebeu uma mensagem que dizia: ‘meu número novo, salva ai’. Depois disso, foi feito um pedido de ajuda para uma transferência bancária, supostamente para pagar um fornecedor. Um número de conta então foi passado e a transferência foi feita no valor de R$ 4,9 mil.
“Fala que fez confusão e que mandou a foto errada, para iniciar uma conversa, e liga ou manda uma mensagem dizendo que estava fazendo umas transferências e acabou o limite do dia. A pessoa dá a conta e que depois iria ressarcir. Ela [a amiga] me ligou antes, mas quando eu retornei, ela disse que já tinha feito a transferência. Nós duas nos assustamos e ela entrou em contato com o banco”, conta uma dermatologista, que não quis ser identificada, que teve o nome usado para aplicação do golpe.
Mas golpe não parou. No dia 22 do mês passado, mais uma tentativa. A foto da dermatologista e o pedido de transferência foram repassados novamente. No entanto, dessa vez, o criminoso não teve sucesso. “Novamente a mesma conversa. Minha sogra até alimentou a conversa e a pessoa ainda deu três opções de banco, com pessoas diferentes”, contou.
Uma outra dermatologista, de 36 anos, também foi vítima do mesmo tipo de golpe. Por questões de segurança, a pedido, ela também não será identificada. Ela conta que uma pessoa da família chegou a transferir mais de R$ 6 mil. “No dia seguinte que a pessoa mandou a mensagem para meu familiar, eu entrei em contato no grupo da família e perguntei se estava tudo bem. A pessoa perguntou se eu tinha voltado para o meu número antigo, mas eu disse que nunca mudei de número. Foi aí que entendemos que se tratava de um golpe. Esse golpista tinha acesso aos meus contatos e sabia a quem pedir o dinheiro”, disse.
Na mensagem de texto enviada, o suspeito chega a perguntar qual o melhor banco para a vítima fazer a transferência. Em seguida, ele ainda pede o comprovante da movimentação. O discurso era o mesmo usado em outras vítimas: pagar um fornecedor.
A médica ainda fala sobre a suspeita de vazamento de dados. “Nós temos vários grupos de médicos e isso está muito comum, também, em São Paulo e Rio de Janeiro. O que chama a atenção é que a conta é de Goiânia e o número é o DDD 027 e ainda perguntam qual o banco que prefere para cair na conta. O nome que aparece na conta, tem perfil no Facebook, mas a gente não sabe se ela também é vítima ou não”, relatou.
Um outra médica, de 32 anos, também dermatologista, conta que quase foi vítima, mas o golpe foi frustrado. O criminoso mandou fotos dela com pacientes e, na mensagem, dizia que tinha feito confusão na agenda. Só que o suspeito não sabia que ele estava conversando com a própria médica. “Era uma foto minha e com o meu nome naquele número que não era meu. Cheguei a pensar que meu número havia sido clonado. Recebi uma série de fotos resgatadas do meu Instagram. Logo detectei e falei que estava indo na delegacia”, contou.
O golpe é aplicado sempre da mesma forma: o criminoso inicia uma conversa via aplicativo de bate papo com uma pessoa próxima ao médico e pede uma transferência bancária. O valor, então, é repassado. Só que o que a pessoa não sabe é que do outro lado da tela está um golpista.
O que chama atenção nessa história é todas as vítimas são médicas e, na maioria, dermatologistas. O número de telefone do profissional não é clonado. O criminoso usa um outro número para falar a família dessas pessoas. É aí que surge a dúvida: como o suspeito consegue a lista de contatos dessas médicas?
“Não temos nem como falar de nenhuma suspeita, mas são dados íntimos. Esse número eu não uso em nenhuma rede social e ninguém tem acesso. A pessoa sabe meu número pessoal e tem contato de parentes próximos, como pai, mãe e sogra. Isso causa estranheza”, contou uma das médicas.
Quem também teve o nome utilizado indevidamente foi a ginecologista e sexóloga Lorena Baldotto. No dia 20 de maio, a foto dela foi usada por uma pessoa num aplicativo de bate papo. No dia seguinte, o criminoso se passou por ela e pediu uma transferência de R$ 2,9 mil. “Não foi feito o pagamento porque me ligaram na hora perguntando se era eu e se eu tinha trocado de número. Foi aí que eu descobri que se tratava de um golpe”, contou.
Na segunda-feira desta semana, dia 1º, outra tentativa do golpe. O valor solicitado foi de R$ 3 mil, mas nos dois casos nenhuma transferência foi feita. “Eu recebi outra ligação perguntando se tinha acontecido alguma coisa. Eles começaram a entrar em contato e eu pedi para que dessem corda, para ver até onde a pessoa vai. Dessa vez, já estávamos sabendo do ocorrido e a pessoa mandou o número da conta, que foi inserido no Boletim de Ocorrência”, disse Lorena.
A polícia capixaba já investiga esses casos. O delegado titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibenéticos, Breno Andrade, contou que esse é um novo golpe que está sendo aplicado. “É uma nova onda neste período de pandemia. Os criminosos estão criando contas falsas, com números novos, utilizando-se das fotos das redes sociais das pessoas”, explicou.
Por isso a polícia reforça a importância de ficar em alerta quando receber mensagens solicitando qualquer tipo de transferência bancária. “Não tem sentido uma pessoa que sempre residiu aqui no estado ter uma conta no Nordeste. Desconfie a partir daí. Tente um um contato via telefone com seu amigo. A polícia tem a capacidade de investigar e identificar os criminosos. É um tipo de crime que deixa rastros”, disse o delegado.
*A reportagem é de Waslley Leite, da TV Vitória / Record TV