Polícia

Morte de aposentado atingido por bala perdida dentro de casa completa um ano; nenhum suspeito está preso

No fim do ano passado, a polícia concluiu que ambas as vítimas foram mortas por disparos das armas dos policiais e que Renan não estava armado

Foto: Reprodução

A morte de Nelson Antônio Ghisolfi, de 66 anos, completou um ano, com algumas descobertas que mudaram o rumo das investigações. O disparo que atingiu o aposentado saiu de uma arma da polícia e os dois militares envolvidos no caso tentaram modificar a cena do crime. Renan Xavier da Silva, de 24 anos, também executado no dia, era o alvo dos policiais.

Nelson morreu após ser atingido por um balada perdida enquanto participava de um culto religioso com a família, dentro da varanda de casa, na Rodovia José Sette, em Cariacica. “Eu já tinha escutado alguns tiros na rua, cheguei a comentar com ele, mas ele achou que era foguete. Quando olhei para o meu marido, ele já estava cheio de sangue, parece que não sentiu nada”, contou a viúva do aposentado, Maria Helena. 

Na época do crime, as informações iniciais eram de que Renan teria trocado tiros com a polícia, o que culminou na morte do próprio jovem e do aposentado, vítima de bala perdida. No fim do ano passado, a polícia concluiu que ambas as vítimas foram mortas por disparos das armas dos policiais e que Renan não estava armado. 

Para a família do aposentado, um ano depois do caso, a dor ainda é grande. “Dói muito dentro de mim. Não consigo dormir, nem me alimentar direito. Não gosto de ficar lembrando, me traz uma tristeza muito grande”, lamenta a viúva.

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O caso 

No dia 27 de julho, acontecia um jogo da seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Por esse motivo, Renan estava dentro de um bar, assistindo o jogo, onde também estavam dois policiais identificados como Jesse de Oliveira Soares e Gildo José Zambi Junior, ambos de folga e entre amigos. 

Uma viatura da polícia militar parou próximo ao local e, ao perceber a presença da guarnição, o jovem saiu do estabelecimento. Neste momento, os policiais que estavam no bar e os que estavam na viatura, saíram em perseguição ao suspeito, efetuando disparos contra ele. O rapaz continuou em fuga até conseguir se abrigar em uma residência do bairro, onde se intensificou os disparos. Renan e Nelson foram atingidos, já que a casa do aposentado ficava na linha dos tiros. 

Investigações

De acordo com a denúncia, Jesse e Fábio continuaram a perseguir Renan, que já estava ferido com um tiro e foi alcançado pelos policiais ao tentar se abrigar em uma casa. Os policiais encontraram a vítima caída e efetuaram disparos para executá-lo, de modo a impossibilitar sua defesa. Em seguida, os militares recolheram as capsulas dos disparos e colocaram o cadáver da vítima em um lençol, sob o pretexto de ser prestado o socorro. 

Para o juiz responsável pelo caso, os policiais ignoraram os procedimentos adotados pela corporação e assumiram o risco de matarem o idoso, por executarem os disparos naquele local, com residências na linha dos tiros. Sobre a modificação na cena do crime, a Justiça entendeu que houve o intuito dos policiais, de inibirem a realização de uma perícia no local do crime. 

Com as descobertas da investigação, os policiais envolvidos no crime foram indiciados. O Ministério Público ofereceu denúncia pedindo prisão preventiva, eles chegaram a ficar presos, mas dias depois a justiça determinou por medidas cautelares. Entre elas, a suspensão das atividades policias de Jesse e Fabio até o fim do processo. 

Jesse de Oliveira Soares responde por duplo homicídio e fraude processual; Felipe Klabunde Capetini dos Santos e Gilgo José Zambi Junior respondem por fraude processual; e Fabio Braga Araújo responde por duplo homicídio e fraude. 

A Polícia Militar informou que os quatro policiais envolvidos na ocorrência permanecem afastados das atividades e respondem ao processo demissionário. A defesa de Jesse, Felipe e Gildo afirmou que só irá se pronunciar quando a instrução criminal acabar. Já a defesa de Fábio, não deu retorno.