Quatro meses após descobrir um buraco no chão, embaixo da própria cama e do tamanho de uma cova, a mulher conta o que mudou em sua vida. Ao todo foram 19 anos de matrimônio, que se resumiram em 17 anos de agressões frequentes do ex-marido.
“Eu casei com 21 anos, era uma menina sonhadora e a gente quer manter a família. Tem as crises dos três anos que o pessoal fala, dos cinco anos e a gente vai segurando a família. Aí tem três filhos, segura os filhos. Não é só para manter o casamento, mas porque a gente quer criar a família”, conta.
Em novembro do ano passado, o filho mais velho do casal, de 17 anos, encontrou um buraco embaixo da cama de sua mãe. Na época, o pai dele, um ambulante de 37 anos, foi preso por descumprir uma medida protetiva.
Depois de quatro meses, a mulher conta que ainda não conseguiu superar o trauma das agressões. Ela não quer encontrar o ex-marido novamente e descobriu, há um mês, que ele já foi solto da prisão.
“Me ligaram da delegacia informando que ele seria solto à noite e não passaram mais nada, só isso. Me informaram ‘olha, ele vai ser solto hoje a noite e só liguei para te avisar'”, diz.
Depois de receber a notícia, ela abandonou a casa onde morava junto com os filhos. Agora, ela tem medo de passar pela mesma situação se voltar para a antiga residência.
“Se eu voltar pra casa, vou relembrar tudo que aconteceu. É por isso que estou ainda do jeito que estou aqui. Um pessoal me acolheu muito bem, acolheram meus filhos, mas nada melhor que a sua casa. Mas infelizmente, não posso voltar para minha casa”, lamenta.
Aos poucos, ela estuda e procura se distrair de todas as formas para tentar superar o trauma. Ela teme que o suspeito tente fazer o mesmo com outras mulheres. “A Justiça soltou uma pessoa fria e calculista, que todos nós sabemos o que é capaz. Então, não sou eu que estou correndo risco. Outra mulher que for ficar com ele também vai correr risco”.
Traumatizada, a mulher diz que deseja paz para ela e para os filhos, mas não acredita que isso vai acontecer com o ex-marido fora da prisão.
“Não tenho esperança de paz, de tranquilidade, de segurança. Não tenho esperança de nada”.