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Na contramão do Brasil, ES registra aumento de 46% no número de vítimas de feminicídio

O número de feminicídios registrados no Espírito Santo saltou de 26, em 2020, para 36 em 2021

Foto: Divulgação / Pexel

O número de mulheres mortas no Espírito Santo, em 2021, seguiu na contramão dos índices registrados no país. Enquanto no Brasil houve queda de 1,7% nos registros de feminicídios, o Estado registrou alta de 46% em relação aos casos do ano anterior.

Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta terça-feira (28). Ao todo, foram registrados, em 2021, 38 casos de feminicídios no Espírito Santo. Em 2020, foram 26 registros. 

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Com o aumento, o Espírito Santo interrompeu uma série de quedas anuais em crimes contra a vida de mulheres. Segundo a gerente de proteção à mulher da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), Michelle Meira, a pandemia pode ter relação com a variação. 

“O Espírito Santo vem, principalmente dos últimos 10 anos, reduzindo gradativamente o número de feminicídios. Em 2020, devido a uma situação muito específica que foi a pandemia, tivemos uma redução bem drástica, mais do que esperávamos. Em 2021, vimos esse número voltar a aumentar”, disse. 

A Marlene Freitas perdeu a filha e a neta em dois crimes de feminicídio em novembro do ano passado. Silvanete dos Santos Freitas, de 38 anos, e a filha Karina dos Santos, de 20 anos, foram assassinadas a tiros no bairro Zumbi dos Palmares, em Vila Velha.

“Nunca pensei que minha filha e minha neta iam ser mortas desse jeito, as duas pessoas que eu mais amei na minha vida. Está sendo muito difícil lidar com essa dor”, desabafou.

O principal suspeito é o ex-companheiro de Karina, Adenilton de Jesus Nascimento dos Santos, que está preso aguardando julgamento.

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Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Vivian Lima de Almeida tinha 29 anos quando foi encontrada morta na casa em que morava, no bairro Araçás, em Vila Velha, em julho de 2020. O principal suspeito do crime é o ex-companheiro dela, Thiago Cruz. 

Câmeras de segurança registraram o rapaz entrando na casa de Vivian e saindo uma hora depois com outra roupa. Thiago foi preso e, quase dois anos após o crime, ainda não foi julgado.

“Ele foi muito frio, muito calculista. Ele foi no DML comigo, viu o sofrimento da minha mãe, carregou o caixão dela. Se não tivesse as câmeras, ele ia estar aqui no nosso convívio. Não passava pela nossa cabeça que ele poderia estar envolvido”, contou a irmã da vítima, Viviane Lima.

ES tem queda no número de importunação sexual

Os dados do Anuário de Segurança Pública apontam que o número de casos de importunação sexual caiu no Espírito Santo. Em 2020, foram registrados 116 casos e, em 2021, foram 93. 

Os índices de assédio sexual ficaram estáveis. Foram registrados 358 casos tanto em 2020, quanto em 2021. 

“Entende que nosso Estado ainda é extremamente violento na questão de violência contra a mulher, muito devido à cultura do machismo, do homem não aceitar que a mulher termine um relacionamento. Buscamos mudar essa cultura com projetos mais eficientes”, destacou Michelle.

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No Brasil, a violência contra a mulher segue assustando. Estatisticamente, três mulheres são mortas por dia apenas por serem mulheres. Em nove de cada dez casos, o crime é cometido pelo companheiro, ex ou algum conhecido da vítima. 

Enquanto essa realidade não muda, milhares de famílias são transformadas pela dor e pela sensação de injustiça. 

“A minha irmã sofreu calada com ele, então não se calem. Abre a boca, denuncie, porque você pode estar evitando que sua família chore no seu velório”, disse Viviane.

*Com informações do repórter Lucas Barcelos, da TV Vitória/Record TV.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
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Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.