Polícia

Na Mira da Lei: Polícia Civil usa tecnologia para solucionar crimes no Espírito Santo

De acordo com um estudo realizado no laboratório de toxicologia da Polícia Civil, que investigou as vítimas fatais de acidentes, em 45% dos casos, as vítimas haviam consumido álcool

Trabalho da perícia é minucioso Foto: TV Vitória

A TV Vitória começou a exibir, na última segunda-feira (30), a série especial “Na Mira da Lei”. A terceira reportagem da série mostra como a tecnologia pode ser uma verdadeira aliada da polícia na solução de crimes no Espírito Santo.

A tecnologia virou uma verdadeira aliada da polícia na solução de crimes e na fiscalização no trânsito, como por exemplo, as blitze. No tablet ou até no celular, os policias tem acesso aos bancos de dados da polícia. Durante a abordagem aos carros, é possível saber, na hora, se um veículo está irregular ou se alguém tem problemas com a justiça.

O Capitão Marcos Gandini, do Batalhão de Trânsito, explica como funciona. “O policial é capaz de checar toda a identidade do condutor do veículo, condições das carteiras de habilitação, se estão suspensas ou não, e ainda assim checar a questão relacionada à justiça, se a pessoa que está conduzindo ou está dentro do veículo está em débito com a justiça”, explica. 
 
A identificação de quem desrespeita a lei também ficou mais fácil com a ajuda da tecnologia. O geólogo Vitor Cavenaghi, abordado em uma blitz, fez o teste do bafômetro, que deu negativo. Ele conta que é importante respeitar os outros motoristas no trânsito. ”É uma obrigação de todo condutor zelar pela segurança dele mesmo e dos outros”, afirma. 

Série mostra a preparação dos policiais

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Mas nem todos os motoristas são como o geólogo. Neste ano, o número de acidentes de trânsito aumentou 36% no Espírito Santo. De janeiro a maio de 2013, o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar registrou 1.825 acidentes com vítimas, das quais 41 morreram. No mesmo período de 2014, foram 2.485 ocorrências e 58 mortes.
 
De acordo com um estudo realizado no laboratório de toxicologia da Polícia Civil, que investigou as vítimas fatais de acidentes de trânsito no Estado entre 2011 e 2012, em 45% dos casos, as vítimas haviam consumido álcool ou outras drogas. Segundo o perito bioquímico da Polícia Civil, Fabrício Souza Pelição, em 18% dessas mortes, havia consumo de drogas ilícitas. “Quase metade apresentou positividade para álcool ou para drogas ilícitas, e quase 20% apresentou positividade apenas para drogas ilícitas”, afirma.
 
Pesquisas como essa, realizada pelo laboratório de toxicologia, ajudam a melhorar a estratégia de segurança pública e são resultados de dois fatores: alta qualificação dos profissionais e recursos tecnológicos adequados. Segundo o Superintendente de Polícia Técnico-Científica, delegado Danilo Bahiense, o laboratório de toxicologia da Polícia Civil do Estado está se tornando uma referência no país. “Nós temos uma equipe de peritos aqui no Estado que não perde nada para nenhum estado da Federação. Os profissionais são altamente qualificados”, explica.

Após o incêndio da Boate Kiss, que causou a morte de 242 pessoas em janeiro de 2013, os peritos criminais do Rio Grande do Sul contaram com a ajuda do perito bioquímico Fabrício Souza Pelição para comprovar o envenenamento das vítimas. Ele explica como foi o trabalho. “A gente desenvolveu um método, a gente não tinha técnica para isso. Forneci essa técnica para eles e eles desenvolveram por lá e acabaram por realizar esses exames”, conta.

Os segredos do código genético também podem ser revelados no laboratório de toxicologia do Espírito Santo. Foi com análise de DNA que a polícia descobriu que um pescador do Norte do Estado era o pai de uma criança recém – nascida. O homem fingiu que havia encontrado o bebê abandonado. Ele queria evitar que as autoridades descobrissem os abusos sexuais que ele cometeu contra a própria filha, de 14 anos, e que resultaram na gravidez indesejada.

Outro crime, de grande repercussão no Espírito Santo, também foi solucionado com a ajuda da perícia da Polícia Civil. Um taxista de Santa Maria de Jetibá foi encontrado morto no dia 22 de agosto de 2013. Outro taxista chegou a ser preso, suspeito de matar o colega, mas um laudo do setor de balística constatou que os tiros que atingiram a vítima partiram de outra arma, encontrado com outra pessoa que, mais tarde, admitiu o crime. O trabalho foi feito no laboratório de balística da Polícia Civil. 

De acordo com o Chefe da Seção de Balística, Marcelo Seixas, o trabalho é minucioso. “Esse trabalho é muito minucioso. Então, ele exige tempo e também o tempo de preparação dos novos peritos”, afirma.

Em média, 400 armas chegam todos os meses no Setor de balística da Polícia Civil do Estado para serem periciadas. Isso equivale a cerca de 5 mil armas por ano. O resultado dessa quantidade de armas de fogo nas ruas do Espírito Santo pode ser conferido nas gavetas do setor. No arquivo, cada envelope representa uma vítima de arma de fogo. Dentro desses envelopes, estão guardados os projéteis retirados dos corpos das vítimas. O desafio da perícia é vincular as evidências com as armas apreendidas pela polícia.

Mas os laboratórios sofisticados, que lembram as séries de TV, não foram sempre assim. A perita Josidéia Mendonça, que está no departamento há 22 anos, lembra as dificuldades de antigamente. “A gente reciclava a luva dentro do Departamento Médico Legal, nós tínhamos uma sala para reciclar as luvas”, conta.

Se hoje os equipamentos de ponta lembram as séries de ficção, a rotina é bem diferente. Para o perito Fabrício Souza Pelição, os equipamentos de ponta agilizam o trabalho, mas não fazem mágicas. “Na vida real existe muito conhecimento do perito, muito preparo, são análises demoradas, muito laboriosas, e que exigem, na verdade, muito conhecimento e dedicação até chegar ao resultado final”, afirma.

Além disso, dedicação e muito estudo, por parte do profissional, tornam o trabalho da perícia mais eficaz. A perita bioquímica Mariana Dadalto, que entrou para a equipe em abril deste ano, conta que estudou na Noruega e nos Estados Unidos. “A gente traz muita técnica e muito conhecimento para aplicar nos nossos casos”, afirma.

Com tanta tecnologia, o problema agora é conter a evasão na categoria. O salário inicial de um perito no Espírito Santo é de R$ 4,2 mil, o mais baixo do Brasil e muito longe dos R$ 14 mil pagos pela Polícia Civil do Distrito Federal. 

Mas apesar disso, para a perita bioquímica Josidéia Mendonça, a paixão pelo trabalho mantém os profissionais mais motivados. “Os peritos que se encontram aqui têm paixão pela perícia, o que torna uma ‘relação doentia’ do perito com a sua profissão”, afirma.