Polícia

Negros têm cinco vezes mais chances de serem assassinados no ES, aponta pesquisa

Segundo o Atlas da Violência, em 2019, de cada cem homicídios no estado, 89 eram cometidos contra negros. No Brasil, essa proporção foi de 77%

Foto: Divulgação

A chance de um negro ser assassinado no Espírito Santo é cinco vezes maior do que um branco. A proporção é maior do que a média nacional. A constatação é do Atlas da Violência, divulgado nesta terça-feira (31) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Os números são referentes ao ano de 2019. Segundo o levantamento, há dois anos, de cada cem homicídios no Espírito Santo, 89 eram cometidos contra negros. No Brasil, essa proporção foi de 77%.

“A violência tem uma preferência por cor e por endereço. Então nós vamos ver que a violência é identificada, em grande parte, na população negra e, principalmente, na população negra de favela e periferia”, destacou o presidente da Central Única das Favelas (Cufa) no Espírito Santo, Gabriel Nadipeh.

Alagoas (99%), Amapá (97%) e Sergipe (96%) são os três estados brasileiros com a maior proporção de negros vítimas de homicídio. Por outro lado, no Paraná (29%), Santa Catarina (25%) e Rio Grande do Sul (24%), pessoas não negras são as maiores vítimas desse tipo de crime.

“No Espírito Santo, a gente pega, por exemplo, a capital, que é Vitória, onde nós temos uma das maiores rendas per capita do Brasil, quando a gente fala de cidade. E, ao mesmo tempo, nós temos uma diferença social gigantesca também. Então a gente tem essa disparidade e é tudo muito próximo, o estado é muito pequeno, a Grande Vitória é muito pequena”, frisou Nadipeh.

“É interessante perceber também que os menores investimentos que nós temos são nos territórios de favela e periferia. São nesses territórios que realmente as pessoas acabam ficando jogadas à própria sorte. A gente está falando aqui de uma falta de estrutura nesses espaços, de uma falta de uma educação adequada, de uma falta de lazer e de uma falta de opções para que as pessoas tenham mais referências, que elas também tenham opções que não sejam a criminalidade, por exemplo”, completou.

A taxa de homicídios de negros no Espírito Santo é mais do que o dobro da média nacional. No estado, o risco de um negro ser assassinado é 5,4 vezes maior do que uma pessoa não negra. Já no Brasil, a média é de 2,6 a cada 100 mil habitantes.

“Isso nos remete ao processo de como se deu a chegada dos povos negros ao Brasil e a forma como esse processo foi conduzido, passando, inclusive, pelo período da escravidão, e a forma como depois se deu a chamada libertação dos escravos. E esse processo histórico vem perpetuando, ao longo das décadas seguintes, desigualdades. E essas desigualdades são retratadas na falta de acesso às políticas públicas, na falta de acesso às oportunidades para os negros na mesma forma como ela se dá para os brancos”, ressaltou o sociólogo político Carlos Lopes.

Para os estudiosos da área social, para mudar o cenário faltam mais políticas públicas de Estado e não de governo.

“O problema é que existe uma descontinuidade entre os governos. Então um projeto que começava a dar certo, que começava a ter resultado — e esses resultados, para acontecerem, precisam de um prazo mínimo —, de repente ele acaba. As coisas às vezes funcionam em pequena escala. Então são projetos bons, que funcionam muito bem, mas que precisam ser ampliados”, frisou o presidente da Cufa no Espírito Santo.

“Outra questão é que esses projetos e programas se tornem lei. Então que se possa fazer um trabalho juntamente com a Assembleia Legislativa, do Executivo com a Assembleia, para que isso se torne lei e seja garantido independente do governo que possa ter”, acrescentou Gabriel Nadipeh.

Com informações do repórter Lucas Henrique Pisa, da TV Vitória/Record TV