Polícia

“Ninguém tinha direito de tirar a vida dele”, diz mãe de jovem morto por PM em ônibus

A vítima voltava para casa, depois do trabalho, quando um policial à paisana reagiu a uma tentativa de assalto a um ônibus e acabou atirando contra ele

O enterro reuniu vários familiares e amigos da vítima Foto: TV Vitória

O corpo do fiscal de loja, morto durante um assalto a um coletivo, foi enterrado na manhã desta sexta-feira (4). O velório e o enterro de Cleverton Oliveira Cabral foi marcado por muita revolta dos familiares e amigos. Eles lembraram que o jovem havia vencido a luta contra um câncer, mas acabou sendo vítima de tiros.

“Ele também tirou a vida de uma mãe. Não tirou só do meu filho”, declarou a mãe de Cleverton

“Ninguém tinha direito de tirar a vida dele assim. Para mim esse policial era bandido também. Se ele é policial à paisana ele não tem que atirar em ninguém. Ele tem que tentar controlar, tentar conversar. Ele já foi atirando no meu filho. Ele, em momento algum, perguntou se meu filho era vagabundo ou se era trabalhador. Gritaram para ele que meu filho era trabalhador, mas ele estava com fone no ouvido. Depois disso que ele foi ver”, desabafou Geraldina de Oliveira Cabral, mãe da vítima.

Emocionado, Geraldina foi amparada pelo outro filho e por familiares. Todos estão revoltados com o que aconteceu. “Ele também tirou a vida de uma mãe. Não tirou só do meu filho. E ele era um guerreiro. Ele passou por muito tratamento de quimioterapia, nós lutamos e Deus me devolveu ele para um homem vir e tirar. Para mim isso não vai passar, essa dor não vai passar”, afirmou a mãe.

O corpo do jovem foi velado e enterrado no cemitério de Santo Antônio Foto: TV Vitória

Familiares e amigos lotaram o cemitério para a despedida. O sepultamento aconteceu no cemitério de Santo Antônio, também na Capital. “É muito difícil para uma mãe perder o filho tragicamente. É uma dor que só o senhor pode suprir, pois a gente sofre junto”, disse Matilde Crevelario, amiga da família.

Segundo familiares, aos 29 anos, o fiscal de loja era um rapaz reservado, mas quando estava no ambiente familiar se revelava um jovem divertido. “Ele gostava de imitar as pessoas, fazia brincadeiras, sempre de forma bem alegre e receptiva”, contou Edione de Oliveira, tia da vítima.

O crime

Cleverton voltava para casa, depois do trabalho, quando um policial à paisana reagiu a uma tentativa de assalto a um ônibus, na noite de quarta-feira (2). O assaltante teria embarcado no coletivo próximo a um shopping da capital e ficou na parte da frente, segundo o motorista. Na altura da Avenida Dante Micheline, o suspeito, em posse de uma arma de fogo falsa, anunciou o assalto. Ele ainda teria entregue uma bolsa para Cleverton recolher os pertences dos passageiros. 

O policial reagiu a um assalto e acabou baleado Cleverton Foto: TV Vitória

No final da Praia de Camburi um policial à paisana, que estava nos fundos do coletivo, reagiu e acabou acertando um tiro no peito do fiscal de loja. Outro passageiro também foi atingido. O criminoso também foi baleado duas vezes, tentou fugir para a praia, mas foi capturado. Um colega de trabalho de Cleverton, que também estava no ônibus, disse que o bandido mandou todos abaixarem a cabeça.

O jovem é casado há mais de três anos e deixou uma filha de apenas dois anos.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), o outro passageiro baleado segue internado no Hospital Jayme dos Santos Neves e o estado de saúde dele é estável. O assaltante também continua estável, no Hospital São Lucas.

Afastado

O policial à paisana, que matou um passageiro do Transcol ao reagir a um assalto, na noite última quarta-feira (02), foi afastado de suas funções. A informação foi confirmada pelo subcomandante da Polícia Militar, coronel Ilton Borges.