O dia 13 de Maio é considerado o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo. Nessa mesma data foi assinada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, em 1888.
Com diversos casos de racismos registrados na atualidade no Espírito Santo, integrantes do movimento Coletivo Negrada afirmam que não há o que comemorar. Para eles, o começo da liberdade ainda é lento e demorado.
De acordo com o estudante e militante João Victor, o racismo existe em todas as esferas da sociedade. Apesar de afirmar sofrer preconceito constantemente, João Victor diz ser capaz de mensurar o pior ato já presenciado por ele.
“Eu sofro preconceito por ser negro. Mas acho que o caso do professor Luiz Malaguti foi um dos piores. Eu estava na sala quando ele disse que não gostaria de ser atendido por um médico negro e afirmou que não era correto a presença de negros e cotistas na universidade”, disse.
No ano passado, o professor Manoel Luiz Malaguti, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), se envolveu em uma polêmica ao afirmar em sala de aula, em novembro do ano passado, que preferiria ser atendido por um médico ou advogado branco em vez de um negro.
Para o estudante, o fato do Espírito Santo não possuir uma delegacia especializada que trate do assunto corrobora para casos cada vez mais rotineiros de preconceitos. “Essa questão é caótica. Temos no Espírito Santo o racismo velado. Se pegarmos a nossa história cultural, percebemos como somos relapsos. Não contamos a história do negro capixaba. Entretanto, temos festas de imigrantes europeus, brancos. O fato de não temos uma delegacia que trate o assunto demonstra tudo isso. Geralmente os casos de racismos são denunciados pela mídia. E quando é denunciado, acaba virando injúria racial”, afirma.
Para Mirt’s Sants, advogada, estudante e militante no Coletivo Negrada, é preciso conscientizar e reforçar o Judiciário brasileiro sobre o tema. “Acho que precisamos de um Judiciário mais justo. O nosso Judiciário não trata o racismo como deveria. Mesmo com todas as comprovações de que o crime constitui racismo, o nosso Judiciário banaliza e torna o crime uma injúria racial”, contou.
Segundo ela, a diferença entre os dois termos acontece na classificação e na condenação. “O racismo passa pelo impedimento, o acesso ao espaço, serviço público. A injúria está ligada ao xingamento. A condenação pelo racismo é mais severa e mais incomum, por incrível que parece”, explica.
Vereador capixaba fala sobre racismo
Único vereador negro pelo município de Vitória, Wanderson Marinho ( PRP), conta sofrer com o racismo nos dias atuais. Marinho lamenta que nos dias atuais a cor da pele ainda é motivo de olhares desconfiados e preconceituosos. “Existe um preconceito institucional. Antes de ser vereador fui assessor de prefeito. Era difícil, pois não me enxergavam como assessor. Geralmente me tratavam como segurança. Não conseguiam acreditar que um negro podia ter estudo. A cor era uma barreira. Hoje, como vereador, também sofro preconceito. Preciso dizer e mesmo assim, ainda não acreditam. Infelizmente o racismo existe e está camuflado”, contou.
Com o intuito de desconstruir o 13 de Maio, os militantes do Coletivo Negrada programaram atos na Universidade Federal do Espírito Santo. Além disso, uma ação intitulada como “Ah, branco, dá um tempo”, deve invadir as redes sociais durante o dia.
Denúncias podem ser registradas em qualquer delegacia
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que não possui delegacias especializadas em crimes de racismo. Segundo a polícia, as denúncias podem ser realizada me qualquer delegacia.