Polícia

Paralisação da PM completa um ano. Relembre fatos que marcaram a maior crise na segurança do ES

Sem policiais militares nas ruas, o Espírito Santo teve 43 mortes em um único dia de fevereiro, de acordo com o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo

Há exatamente um ano o Espírito Santo entrava na maior crise de segurança pública da sua história. Em 4 de fevereiro de 2017, a população capixaba vivia o primeiro dos 21 horrorizantes dias que estavam por vir com a paralisação da Polícia Militar do Estado (PMES). Sem policiamento, a sociedade ficou refém da criminalidade e o medo tomou conta das ruas.

"Eu olhava para os lados e não via ninguém. Aquilo para mim foi realmente um terror. Eu passei muito medo naquela tarde", lembra a empresária Marcia Rodrigues. "Fiquei bem inseguro, vi roubos e senti bastante medo devido à falta da polícia", comenta o estudante Ítalo Ramos. "Todos estavam reféns daquela situação. Parecia uma terra sem lei, onde cada um resolvia os problemas com os próprios pulsos", diz o comerciante Rafael Melo.

O movimento foi liderado por mulheres e familiares de policiais e consistia em bloqueios das saídas e entradas de todos os batalhões da Polícia Militar capixaba. O protesto foi iniciado com o objetivo de conseguir reajuste salarial, pagamento de auxílio alimentação, periculosidade, insalubridade, adicional noturno e a valorização de policiais militares do Estado.

Manifestantes bloqueando saídas do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do Espírito Santo

De acordo com dados do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol/ES), foram registradas, ao todo, 213 mortes durante a paralisação da Polícia Militar. Já a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social afirma que foram 204. Ainda segundo o Sindipol, em apenas um único dia do movimento aconteceram 43 homicídios no Estado e não houve sequer um dia em que não fosse registrado assassinato no período de 21 dias de crise na segurança pública do Espírito Santo. Veja o gráfico abaixo:

Com a falta de efetivo militar em patrulhamento no Espírito Santo, diversos crimes foram registrados ainda pela manhã do primeiro dia de paralisação da PM. Contudo, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, se posicionou dizendo que não houve nada que pudesse causar preocupação para a sociedade e que a secretaria estava tomando as devidas providências para resolver o impasse. "Nós não temos aumento de ocorrências em função desse quadro... De ontem para hoje, no Estado inteiro, tivemos apenas um registro de homicídio", disse na ocasião.

No início da madrugada do dia 5 de fevereiro, uma loja de eletrodomésticos, no Centro de Vitória, foi arrombada | Foto: Leitor/Folha Vitória

A madrugada e o decorrer do dia seguinte foram marcados por crimes no Estado. Nas unidades da PM se via a mesma cena: cones impedindo as saídas dos veículos oficiais e mulheres de militares acampadas em frente às unidades, com tendas, cadeiras de praia e cartazes contendo reivindicações. Sem a polícia, o comércio foi alvo de bandidos. Lojas de eletrodomésticos foram arrombadas, tentativas de homicídio registradas, trailer da polícia incendiado e veículos arrombados.

De acordo com a Federação do Comércio e Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), até o dia 8 de fevereiro o comércio capixaba já acumulava prejuízo de aproximadamente R$ 90 milhões. O prejuízo financeiro para o Espírito Santo foi de pelo menos R$ 180 milhões.

O medo tomou conta da população que buscava segurança dentro de casa. Atendimentos em repartições públicas foram suspensos, escolas fecharam as portas... Sem a polícia, o comércio foi alvo de bandidos, que saquearam e destruíram as lojas em diversos municípios do Estado.

Na tentativa de reverter o cenário de paralisação dos policiais, a Secretaria de Segurança Pública trocou o Comando Geral da Polícia Militar. Sem sucesso e diante do caos e com a violência fora de controle, o Governo do Estado teve que pedir ajuda às Forças Armadas para restabelecer a segurança da população. O Espírito Santo contou com o patrulhamento de 1.850 homens das Forças Armadas e da Força Nacional. Foram R$ 37 milhões gastos pelo Governo Federal com o envio dos homens da Força Nacional para que a população capixaba pudesse voltar a sair às ruas.

Exército fazendo segurança na BR-101, na Serra | Foto: Divulgação/Ministério da Defesa

Licenciado para um tratamento médico em São Paulo na ocasião, o governador Paulo Hartung classificou a paralisação como chantagem. Revoltada com o movimento dos policiais militares, a população organizou um protesto que ocorreu na porta do Quartel do Comando Geral (QCG), localizado em Maruípe, em Vitória. Houve confusão entre pessoas favoráveis e contra a paralisação.

Após o fracasso nas negociações com policiais militares, o governo capixaba decidiu endurecer com os PMs e com as mulheres líderes do movimento. No total, 703 policiais militares foram indiciados por crime de revolta, que é o aquartelamento realizado por PMs armados. A lista com os nomes dos militares foi publicada no Diário Oficial do Estado.

Familiares dos policiais militares chegaram a um acordo junto ao Governo do Espírito SantoFoto: Francine Leite/TV Vitória

Depois de três semanas, o povo capixaba assistia aos últimos dias de angústia e medo. Policiais do Batalhão de Missões Especiais driblaram os manifestantes que bloqueavam as saídas do QCG e retiraram as viaturas.

Em uma reunião que durou mais de nove horas, os familiares dos policiais militares chegaram a um acordo junto ao Governo do Espírito Santo no dia 25 de fevereiro. O pedido foi aceito com a condição dos processos administrativos e ações judiciais serem suspensos. Os familiares deram início à liberação das portas dos batalhões que ainda estavam bloqueados. Confira o vídeo abaixo:

Durante os 21 dias sem policiamento nas ruas, o Estado ficou refém da criminalidade, durante um movimento marcado pela intransigência e pela queda de braço entre Governo e policiais, em que o mais prejudicado foi o povo capixaba. Militares foram expulsos, outros presos e familiares que lideraram o movimento ainda respondem na Justiça pela greve.

Após a greve, o governador Paulo Hartung assinou um decreto para reestruturação da Polícia Militar. Entre as medidas estão a criação de companhias independentes e outros dois novos Comandos de Policiamento Ostensivo. As medidas foram divulgadas pelo secretário de segurança André Garcia. Veja a imagem abaixo: