Mulheres vão saber pelo celular localização de agressores no ES
Ação faz parte do programa Mulher Segura ES, lançado nesta terça-feira pelo governo estadual. Tornozeleiras eletrônicas serão instalados nos suspeitos e vítimas poderão saber, por meio de smartphones, se eles estão se aproximando
Por meio de um sistema de smartphones e tornozeleiras eletrônicas, a polícia do Espírito Santo poderá monitorar, em tempo real, os passos de homens acusados de violência doméstica e saber se eles estão próximos de suas potenciais vítimas.
A ação faz parte do programa Mulher Segura ES, lançado nesta terça-feira, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. O objetivo do programa é combater a violência doméstica e auxiliar na prevenção a feminicídios no Espírito Santo.
Após a tornozeleira eletrônica ser instalada no corpo do homem acusado de violência doméstica e identificado pela Justiça como potencial ameaça à companheira, a polícia poderá fazer sua localização em tempo real.
Ao mesmo tempo, a vítima receberá um smartphone, que identifica se o potencial feminicida se aproxima, dentro de uma zona de distância determinada pela Justiça na medida protetiva.
Caso o agressor rompa o perímetro de segurança, os protocolos são acionados automaticamente. A tornozeleira eletrônica, primeiramente, emite alertas, informando que ele está ingressando em área proibida.
Caso não haja recuo por parte do homem, o 190 é acionado pela sala de monitoramento.
O telefone também emite alertas sonoros e mostra a localização do monitorado, permitindo que a vítima se abrigue em zona segura, até a chegada da Polícia Militar.
"Nós, da Secretaria de Segurança Pública, monitoraremos, pela nossa sala, toda a vida de circulação desse homem e dessa mulher. E num momento em que esses aparelhos se aproximam, é o momento do alerta, em que nós seguimos severos protocolos para evitar que essa mulher seja vítima novamente desse agressor", destacou o secretário estadual de Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho.
Monitoramento de agressor vai começar na Grande Vitória
Inicialmente serão utilizados 250 aparelhos de monitoramento, que será iniciado na Grande Vitória e, gradativamente, expandido ao interior do Estado. O acompanhamento será realizado, inicialmente, por três meses, podendo ser renovado.
O valor de investimento é de R$ 554,00 mensais por conjunto (tornozeleira + smartphone), sendo que o Estado só realiza o pagamento mediante demanda, ou seja, conforme utilização. O contrato é válido por um ano.
De acordo com o governo do Estado, o programa Mulher Segura ES consiste na integração de ações já desenvolvidas pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo (Sesp), Polícia Civil e Polícia Militar, objetivando dar maior eficiência ao enfrentamento da violência em ambiente familiar e de gênero contra a mulher no Estado.
A nova tecnologia vem se aliar aos projetos “Patrulha Maria da Penha”, da PMES; “Homem que é Homem”, da PCES; e “App SOS Marias”, da Sesp, formando, assim, uma rede de proteção à vítima, que também poderá contar com assistência social e qualificação profissional.
"O homem é inserido no projeto Homem que é Homem, da Polícia Civil, que busca ressignificar a conduta desse homem, e a mulher é acompanhada pela Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar, com visitas tranquilizadoras. Além disso, ela é inserida no aplicativo SOS Marias, onde, ao acionar, imediatamente é dado sinal vermelho no Ciodes e ela é imediatamente atendida", explicou Ramalho.
Durante o evento de lançamento do programa, na manhã desta terça-feira, no Palácio Anchieta, o governador Renato Casagrande destacou o uso da tecnologia na redução da violência, mas frisou que é necessário também uma abordagem social neste enfrentamento.
"Temos agora mais um instrumento de combate à violência com o uso da tecnologia. Contudo, precisamos trabalhar também a cultura e a educação, pois temos homens ainda que, infelizmente, a gente não consegue fazer que entendam que as mulheres não são sua propriedade. A mulher merece respeito!", pontuou.
"A proteção começa dentro de casa, nas famílias, na escola, nas igrejas. Temos um trabalho nas escolas com a Lei Maria da Penha, que é uma matéria transversal dentro de sala de aula. Outra iniciativa importante é o programa Homem que é Homem, que desenvolve um trabalho de reeducação, orientação e reinserção social de agressores de mulheres. Para que isso não volte a ocorrer. Mais do que nunca é fundamental que tenhamos uma família organizada e possamos transmitir essa cultura", completou o governador.
Quase 19 mil mulheres foram vítimas de violência em 2021 no ES
De acordo com dados da Polícia Civil do Espírito Santo, em 2021, quase 19 mil mulheres foram vítimas de violência doméstica. Neste ano, segundo a corporação, já são cerca de 3,5 mil.
Uma das vítimas registradas em 2022 foi uma mulher de 38 anos, agredida pelo marido no mês passado, no bairro Grande Vitória, na Capital. A vítima conta que teve o cabelo puxado e recebeu chutes e socos do agressor.
Segundo ela, as agressões foram motivadas por ciúmes, já que o companheiro a viu conversando com um amigo. Após as agressões, o suspeito acabou preso.
A mulher contou que o relacionamento durou um ano e meio. Segundo ela, sempre que tentava terminar a relação, por causa das agressões, era ameaçada. "Dizia que ia me matar, que ia ter relações comigo morta, que ia esconder meu corpo. Esse tipo de coisa assim", relatou.
Os dados sobre violência doméstica correspondem aos casos em que as vítimas não se calam e buscam ajuda. São números altos e que, infelizmente, fazem parte da rotina de muitas capixabas.
A delegada-chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Cláudia Dematté, que acompanha de perto casos de violência doméstica todos os dias, destaca que, para que o novo programa do governo do Estado funcione, é preciso que as mulheres busquem ajuda ao menor sinal de violência.
"A nossa Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, por meio das nossas delegacias especializadas, registram uma média, por ano, entre 15 mil e 17 mil boletins de ocorrência. São números altos, que chocam. Mas tenham certeza que esses números poderiam ser ainda maiores. Desde a criação da Lei Maria da Penha, as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, cada dia mais, estão se encorajando, buscando as delegacias e toda a rede de atendimento e de proteção à vítima de violência doméstica para denunciar", destacou a delegada.
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Com informações do repórter Rodrigo Schereder, da TV Vitória/Record TV, e do Governo do Estado