Polícia

Fentanil no ES traz polícia dos EUA para investigar circulação de superdroga anestésica

A substância é uma droga que tem se popularizado nos Estados Unidos, apesar do potencial lesivo do opióide sintético, que é 100 vezes mais forte do que a morfina

Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Frascos de fentanil apreendidos no Brasil em fevereiro, especificamente pela Polícia Civil do Espírito Santo, chamaram a atenção da polícia norte-americana, mais especificamente do Drug Enforcement Administration (DEA).

A substância é uma droga que tem se popularizado nos Estados Unidos, apesar do potencial lesivo do opióide sintético, que é 100 vezes mais forte do que a morfina.

À reportagem do Folha Vitória, o delegado Tarcísio Otoni, titular do Departamento Especializado em Narcóticos (Denarc), contou que recebeu dois agentes americanos para troca de informações.

“Eles estiveram aqui demonstrando solidariedade no sentido de dividir informações e de conhecer a rota do Fentanil, verificando a questão nos países parceiros para encontrar laboratórios clandestinos, até mesmo para saber se a droga também está sendo levada aos Estados Unidos”, disse.

As investigações estão seguindo, desde a apreensão realizada no mês passado, para identificar a origem da droga – e até o momento não se sabe de onde parte o desvio da substância, se ele acontece no setor de produção, distribuição ou até mesmo a partir do meio hospitalar.

Foto: Divulgação / Polícia Civil

Outra questão que é levantada pela polícia é de se a droga está sendo fabricada com a intenção de alcançar novos usuários ou se está sendo encomendada.

“Tudo isso é muito novo para nós. Então, os agentes norte-americanos vieram nos acompanhar e nos ofereceram capacitação. É preciso que desvendemos a origem, destinação e a quantidade desse opióide aqui. Eu, como chefe do departamento, participei de eventos em El Salvador. Estamos trocando informações de Inteligência”, pontuou.

Em termos de usuários, também está sendo feito levantamento. “Mas essa é uma questão, sobretudo, difícil. Quem usa não vai se manifestar. Estamos mapeando até em exames de rotina e até cadáveres que tiveram overdose como causa de óbito”, acrescentou a autoridade policial.

Potencial destrutivo fora do uso médico

Em termos de potencial lesivo da droga, como dito, ela que é apresentada licitamente em hospitais em quantidades regularmente administradas, acaba se tornando potencialmente destruidora quando injetada, cheirada ou usada em comprimido fora das alas médicas.

“Na forma líquida, ela pode ser injetada; como pó, cheirada; ou, como é comumente apresentada nos Estados Unidos, pode ser usada em formato de comprimido, misturada com outras drogas ou bebidas. Como se diz em inglês: ‘one pill can kill’, uma pílula pode matar”, destacou.

Segundo apuração do delegado, hoje o maior fornecedor mundial da droga é o México, por meio de cartéis que compram a matéria-prima da China. Para uso hospitalar, a substância é utilizada na forma líquida, por ser anestésica. 

“Mesmo tempos atrás já foi constatado abuso da substância por médicos, por exemplo anestesistas, mas já é uma questão bem diferente”, pontuou.

A apreensão

No Espírito Santo, 31 frascos de fentanil foram apreendidos durante uma operação da Polícia Civil, em Cariacica, no dia 10 de fevereiro. O opióide é conhecido por ser o entorpecente que causa mais mortes nos Estados Unidos.

A apreensão aconteceu durante uma operação que apurava uma base utilizada por traficantes para armazenar drogas e materiais ilícitos, na região da Reserva de Duas Bocas, em Cariacica.

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Segundo o delegado Tarcísio Otoni, foi a primeira vez que essa quantidade de fentanil foi apreendida no Estado. "O que é o crack para o Brasil, é o fentanil para os Estados Unidos", destacou.

"Chamou a atenção que é uma droga altamente viciante, não é comum encontrar. Ela é injetável ou em comprimido, analgésico muito forte, tem um efeito depressor do sistema central, dando uma rápida euforia e depois o efeito relaxante", explicou.

Jovem foi encontrado com a barriga aberta em Guarapari

Um caso que chocou todo o Estado aconteceu em fevereiro de 2022: um jovem foi encontrado com um corte na barriga na Praia do Ermitão, em Guarapari (ES), momento em que várias hipóteses foram levantadas. O rapaz estava na companhia da namorada na madrugada em que fatos ainda não inteiramente apurados ocorreram.

Um ponto intrigante é que o prontuário médico do jovem mostrou vestígios de dosagem alta de fentanil no sangue dele. 

Apesar disso, de acordo o delegado Otoni, até o momento, em 2023, não foi feita correlação direta entre os fatos, até porque os dois envolvidos não se submeteram aos testes que poderiam detectar a forma de administração da substância.