Polícia

Crianças vítimas da violência no ES são negras e moram na periferia, diz Instituto Sou da Paz

Neste ano, pelo menos quatro ocorrências de crianças baleadas foram registradas no Espírito Santo segundo levantamento da TV Vitória. Crime mais recente aconteceu na noite desta quarta-feira na região da Grande Santa Rita, em Vila Velha

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Brenderson Reis, de 17 anos, e Kemilly Vitória Caldeira Santos, de apenas 9, foram assassinados durante a guerra entre gangues rivais do tráfico de drogas

A guerra pelo tráfico de drogas é uma realidade que preocupa. Um levantamento realizado pelo jornalismo da TV Vitória/Record TV aponta que, somente neste ano, quatro crianças foram atingidas por disparos de arma de fogo no Espírito Santo. A maioria das vítimas deste tipo de violência é negra e moradora das periferias.

O caso mais recente aconteceu na noite desta quarta-feira (27), em Vila Velha. Kemilly Vitória Faria Santos tinha apenas 9 anos. Ela morreu após ser vítima de uma bala perdida durante um tiroteio entre traficantes de grupos rivais, na Ilha da Conceição, na Região da Grande Santa Rita. 

Além da menina, um adolescente de 17 anos, identificado como Brenderson Reis, também foi baleado e não resistiu aos ferimentos.

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Um outro jovem, de 20 anos, levou um tiro nas costas e a bala ficou alojada na garganta. Depois que os três criminosos fugiram do local, o jovem foi socorrido para um hospital da região e precisou passar por cirurgia.

Infelizmente, casos semelhantes não são raros. Neste ano, pelo menos quatro ocorrências de crianças baleadas foram registrados no Estado. 

Em janeiro, uma menina de 8 anos foi baleada na cabeça dentro de casa, no bairro Jardim Botânico, em Cariacica. Segundo a mãe, ela foi vítima de bala perdida, mas não foi ferida gravemente.

"Eu escutei tipo uma pedra caindo em cima da casa. Ela pegou e gritou. Quando ela gritou, eu fui ver o que tinha acontecido e vi sangue. Olhei para o chão e vi a bala, foi aí que percebi que ela tinha sido atingida por um tiro", disse.

Três dias depois, em 17 de janeiro, outra menina de 7 anos foi atingida no olho após ter a casa invadida por criminosos no bairro Itanguá, em Cariacica. Ela precisou passar por uma cirurgia e conseguiu se recuperar.

Em 18 de fevereiro, Théo Henrique Soares, de 2 anos, morreu vítima de bala perdida em Rio Marinho, em Vila Velha. Ele e a mãe estavam indo à padaria. O menino não resistiu e morreu. 

As fatalidades que ocorreram com as quatro crianças é um retrato da violência. Estudos apontam que as crianças vítimas dessa violência fazem parte da periferia e são negras.

A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz explica que os crimes estão relacionados a questões sociais. 

"Crianças negras morrem mais por arma de fogo do que crianças brancas. Isso é muito grave porque reflete o racismo estrutural da nossa sociedade. A desigualdade coloca essas pessoas em situações de vulnerabilidade, em locais de moradias com pouco acesso as políticas públicas", disse. 

O secretário de Segurança Pública do Estado, Márcio Celante, falou sobre as consequências da disputa pelo tráfico de drogas.

"Infelizmente, são jovens inconsequentes que se envolvem com o tráfico, usam armas de forma inconsequente e atingem inocentes. Infelizmente, a busca pelo domínio de um ponto do tráfico gera o homicídio. No Espírito Santo, a maioria dos homicídios registrados são relacionados pelo tráfico"

O secretário explica que, para garantir mais segurança à população, as polícias trabalham com três diretrizes.

"Nas forças de seguranças há uma integração grande. Trabalhamos com três diretrizes: ação integrada; trabalho de inteligência para as investigações; e participação dos moradores por meio do Disque-Denúncia".

Além dos órgãos de segurança, projetos sociais tentam mudar essa realidade. A Bruna Costa, por exemplo, atua em bairros de Vila Velha através do Projeto Abraço Periférico. Para ela, ainda é preciso fazer muito para que a periferia se sinta abraçada e valorizada. 

"A gente precisa ter estrutura, ocupações onde a gente possa trazer essas pessoas. Até mesmo o nosso trabalho de artista periférico é difícil", disse.  

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