Barriga aberta: Defesa de namorada da vítima, denunciada pelo crime, pede que processo seja anulado
No documento, a assistente de acusação argumenta que o pedido pela nulidade do processo se dá por conta da falta do exame de corpo de delito, pelo qual Livia não teria passado
A defesa de Livia Lima Simões Paiva Pedra, denunciada e apontada pela Polícia Civil como autora das lesões corporais contra o próprio namorado, o jovem Gabriel Muniz Tichersgill, que acabou com o intestino exposto na Praia do Ermitão, em Guarapari, em janeiro deste ano, pediu na última quinta-feira (19) que o processo contra ela seja anulado.
No documento, a assistente de acusação argumenta que o pedido pela nulidade do processo se dá por conta da falta do exame de corpo de delito, pelo qual Livia não teria passado.
No entanto, na decisão, o juiz Edmilson Souza Santos requisita que a defesa apresente os laudos periciais em até trinta dias, assim como os laudos toxicológicos — que teriam sido solicitados à época.
O que diz a defesa
À reportagem do Folha Vitória, o advogado Lécio Machado afirmou que o juiz decidiu não tem fundamentos. "Não tem materialidade da prática do crime. Como que ela tá sendo julgada por um crime que não tem provas? Era obrigatório que o exame de corpo e delito fosse feito, mas não foi", afirmou.
Segundo Machado, o promotor está agindo fora do interesse da vítima.
"Gabriel diz que ela não praticou o crime. Não tem fundamento formalizar a acusação. Estão gastando dinheiro público a toa. A vítima (Gabriel) já falou que não foi ela (Livia) quem cometeu o crime. Gabriel já falou nas redes sociais. Como o MPES gasta dinheiro público com interesse de processá-la?", indagou o advogado.
Defesa de vítima voltou a pedir segredo de justiça, mas juiz negou
Ainda na última quinta-feira (19), a advogada do jovem Gabriel Muniz Tichersgill solicitou ao juiz Edmilson Souza Santos para que o caso voltasse a correr em segredo de Justiça — o que não foi atendido pela autoridade.
A namorada de Gabriel, Livia Lima Simões Paiva Pedra, foi denunciada pelo caso e apontada pela Polícia Civil como autora das lesões corporais contra o próprio namorado. Em um vídeo divulgado recentemente, Gabriel deu sua versão dos fatos e afirmou que uma terceira pessoa estava no local, e que teria atacado ele e a namorada — este foi um dos motivos da negativa do juiz, que argumentou:
"Concernente ao requerimento de segredo de justiça, tem-se que a nobre causídica fez alegações, contudo, não juntou aos autos prova do alegado. Demais disso, ao sabor dos comentários a própria vítima tem feito uso das redes sociais para se manifestar sobre o caso. E mais, caso a vítima entenda que alguém desbordou da lei com publicações, poderá ajuizar ação em desfavor dos divulgadores, com notícia-crime em caso de eventual abuso de autoridade. Da leitura dos autos não verifiquei elementos de prova demonstrando que a saúde da vítima esteja prejudicada em detrimento de divulgações. Assim exposto, mantenho a decisão de fl. 108 que revogou o segredo de Justiça".
À reportagem da TV Vitória/Record TV, Poliana Fachetti, que compõe a defesa de Gabriel, argumentou que o pedido foi feito porque o jovem está sendo muito exposto. "Ele ainda está com a moça, ambas as famílias estão sendo expostas nesse caso. Vamos fazer os requerimentos necessários em favor do Gabriel", concluiu.
Relembre o caso
À época dos fatos, foi constatado que os dois jovens ficaram cerca de sete horas no Parque Morro da Pescaria, onde fica a praia do Ermitão. Imagens de videomonitoramento mostram o momento em que o casal chegou no local.
O relógio da câmera de segurança marcava 21h01, do dia 15 de janeiro, quando o casal aparece caminhando pela lateral da Praia do Morro, que dá acesso ao parque.
O rapaz e namorada caminham em direção às pedras que dão acesso a uma trilha do parque. A entrada é alternativa e fica fora do portão principal, que estava fechado.
É possível ver que o rapaz está com uma lanterna e carrega uma mochila nas costas. A jovem segue logo atrás dele.
Cerca de sete horas depois, a jovem aparece nas imagens pedindo ajuda ao vigia do parque, que não aparece no vídeo devido ao ângulo da câmera. Segundo fontes ouvidas pela TV Vitória/Record TV, dez minutos depois do pedido de socorro, o vigia ligou para a central do parque e informou o ocorrido.
Às 4h26, a menina aparece ao lado do pai. Eles aparentam estar desesperados. O homem fala com alguém ao telefone. Às 4h42, a menina aparece nas imagens sentada em um banco. Ela usa o telefone para ligar para alguém.
Às 5h16, os socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os bombeiros chegam ao local. O rapaz, que já estava com o corte na barriga e sem parte do intestino, é socorrido. Por volta das 6h, ele é levado de maca para a ambulância.
O rapaz ficou cerca de dois meses internado em um hospital particular na Serra e teve alta no dia 17 de março. No entanto, depois precisou ser novamente hospitalizado rapidamente, após apresentar um quadro de infecção e febre.
Polícia apontou Lívia como autora dos cortes
No dia 27 de abril, a Polícia Civil, por meio da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Guarapari, concluiu que a namorada de Gabriel foi a responsável por cortar a barriga do jovem.
Segundo titular da DHPP Guarapari, delegado Franco Malini, a polícia trabalhou com muito sigilo até a conclusão do inquérito. Ao final das investigações, foi concluído que a estudante Lívia Lima Simões Paiva Pedra, de 20 anos, cortou a barriga do namorado.
"A polícia ouviu todas as pessoas que conseguiram identificar. O local é ermo, então foram ouvidos vigias, seguranças e porteiros de prédios próximos. Nossa conclusão foi de que, além do casal, ninguém mais entrou no lugar naquele dia", disse Malini.
Segundo ele, duas situações levaram a polícia a concluir que a jovem é responsável pelo corte: primeiro, o fato das investigações apontarem que apenas os dois estavam no local. Segundo, as lesões encontradas na mão da estudante.
LEIA TAMBÉM: > Praia de Guarapari, onde jovem teve a barriga aberta, não passou por perícia
"Essa investigação não poderia se basear em provas testemunhais, porque apenas os dois estavam no local. A conclusão de que foi ela a responsável se deu quando foi confirmado que só estavam os dois. O segundo ponto, são as lesões que ela apresentava, típicas de ataque. Isso leva a crer que ela lesionou o rapaz, possivelmente deu socos no rosto dele e também fez o corte na barriga", explicou o delegado.
Malini afirmou ainda que os dois relataram à polícia que tiveram alucinações pelo uso de LSD, conhecido como "quadradinho". Em depoimento, o casal disse se lembrar apenas do momento em que beberam vinho e usaram a droga, mas não contaram onde conseguiram a droga.
"Eles relatam que tiveram alucinações pelo uso da droga, mas falam que não se recordam do que aconteceu, apenas que beberam vinho, ingeriram droga e perderam a consciência. Ao retornarem à consciência, o rapaz já estava com a barriga cortada", disse o delegado.
"Corte era grosseiro, irregular e não-cirúrgico"
Segundo a polícia, a estudante combinou com a mãe que chegaria em casa até 1h, mas o horário passou e a jovem não chegou em casa. Diante disso, a mãe começou a ligar para ela, mas as chamadas só foram atendidas às 2h20.
"Por volta de 2h20, ela atendeu a ligação da mãe e, segundo ela, só foi possível escutar a voz da filha. Em alguns momentos, a mulher ouviu o rapaz falando "Praia do Ermitão", que foi como ela conseguiu deduzir o local que eles estavam", explicou o delegado.
"O que o Samu relata é que o corte é irregular, grosseiro e não-cirúrgico, que pode ter sido feito com um caco de vidro", disse Malini.
O delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda, afirmou que as primeiras pessoas a chegarem no local foi a equipe do Samu. Diante disso, a Polícia Militar foi acionada e parte do intestino do jovem, que estava no local, foi recolhido e levado para a delegacia.
Jovem se pronunciou e defendeu namorada
Gabriel se pronunciou sobre os desdobramentos do caso. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, ele defendeu a namorada e afirmou que ela também foi uma vítima.
No vídeo, Gabriel Muniz questiona os argumentos apresentados pela polícia. O rapaz defende a ideia de que haveria uma terceira pessoa no local do crime, que ocorreu em 16 de janeiro, na Praia do Ermitão, em Guarapari
"É obvio que minha namorada não tem nada a ver com isso. Assim como eu, ela é uma vítima desse acontecimento. Fica claro que tinha uma terceira pessoa que fez isso com nós dois. (...) Primeiro de tudo, nós fomos roubados, mas parece que isso não foi levado em conta", explanou.
Além disso, Gabriel argumentou que há outras formas de acessar a Praia do Ermitão, além da portaria principal. Na portaria há câmeras de segurança que registraram o momento que os dois jovens chegaram ao local e quando foram socorridos.